O Valor Do Perdão

15 - Comentários maldosos

Liliane passa o restante da semana sem ver Vicente, os passeios com Alberto continuam diariamente, pouco a pouco ela percebe o homem mais leve, mais feliz, aproveitando a vida que lhe resta. Alberto está sentado à mesa quando a ruiva desce para o almoço.

- Liliane, o que acha de visitarmos meu temido filho hoje?

- Acho bom, vocês precisam voltar a conviver, é tão triste pai e filho brigados.... Eu daria tudo por uma hora com meu pai, matar a saudade, contar segredos, pedir conselhos...

- Sinto muito por sua perda, mas quando quiser conversar ou mesmo pedir algum conselho estou aqui, sei que não seria como conversar com seu pai, mas tenho um grande carinho por você, ficaria imensamente feliz em lhe ouvir.

- Eu não quero preocupá-lo com minhas sandices. Meu trabalho aqui é cuidar de você, não o contrário.

- Liliane, você sabe que não é apenas uma funcionária para mim, não sabe?

- Não sou?

- Claro que não querida, eu quero ser seu amigo, tenho tanto carinho por você, é como se fosse a filha que nunca tive.

Lily não aguenta as palavras de Alberto e chora, ele a abraça e a conforta.

- Ahh criança, a vida foi tão dura com você, fique tranquila, não está mais sozinha, se aceitar aqui terá um bom amigo.

- É lógico que aceito sua amizade, nunca tive muitos amigos, mas estarei honrada em ser sua amiga.

- Então vamos Liliane, almoçamos e partimos para a empresa.

- Lily, pode me chamar de Lily, meus amigos me chamam assim.

- Lily, gostei, é um apelido lindo para uma garota doce e incrível.

O almoço segue em silêncio, a ruiva pega sua bolsa e os remédios de Alberto e segue com ele para a empresa. Ao chegarem o homem pede que a ruiva aguarde alguns minutos para que ele possa conversar com o filho tranquilamente, aparentemente Alberto também notou que o filho reage mal a presença da ruiva, o rapaz parece não saber como lidar com ela.

- Me espere aqui sim, eu peço para alguém lhe buscar depois.

- Claro Alberto, não se preocupe comigo, eu imaginei que talvez isso aconteceria e trouxe um livro para passar o tempo.

- Qualquer coisa que precise peça a Judite.

Ele fala enquanto se encaminha para o balcão, uma moça nada sorridente está atrás dele.

- Judite, se minha amiga precisar de alguma coisa, peço que providencie ok.

- Claro senhor Alberto.

Alberto desaparece porta adentro da sala do filho, Liliane permanece sentada enquanto lê seu livro, um rapaz se aproxima e puxa assunto.

- Boa tarde, você também trabalha para o Senhor Ferreira?

- Boa tarde, sim ele me contratou para cuidar do pai.

- Outra vítima do tirano.

- Tirano?

- Sim, os funcionários o chamam assim.

- Ele não me parece nenhum tirano.

- Claro, você ainda não o conhece, daqui um mês voltaremos a conversar, claro se voce aguentar até lá.

- Afinal por que o chamam assim?

- Ele não tolera erros, qualquer coisa que alguém faça que o desagrade ele demite sem pensar duas vezes, nunca mostra compaixão, é um homem frio e sem coração.

- É, acho que não o conheço o suficiente para opinar.

- Então, aceita um café?

- Ah não obrigado, vou ficar aqui caso Alberto precise de mim.

- Como preferir, até mais.

A ruiva volta a focar no seu livro, por algumas vezes percebe a balconista a olhando com curiosidade. Ela parece cochichar com a colega ao lado várias vezes enquanto olha para Lily, isso começou a deixar a garota nervosa, as mulheres conversam sem perceber que Vicente e Alberto saíram do escritório.

- Deve ser o novo brinquedinho do chefe

- Ou do velho, viu como ela o trata pelo primeiro nome.

- É uma dessas mulheres de rua, vendendo o corpo por dinheiro.

Lily percebe que eles saíram da sala, ela se aproxima das mulheres e pode ouvir o que falam, aliás elas sequer se preocuparam que ela pudesse ouvir. A ruiva fica chocada com tamanha maldade, ela não aguenta e as repreende.

- Sabe, eu mal tenho tempo de cuidar da minha própria vida, queria saber como vocês fazem, como conseguem cuidar das suas e de quebra se intrometer na minha? Só tomem cuidado ok, quem costuma ficar cuidando da vida alheia acaba virando espectador da própria vida.

A ruiva terminou de falar, seus olhos ardem segurando as lágrimas, quando olha para Vicente a raiva está estampada em seus olhos, a besta despertou...