52 - A viagem de volta

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Lily está deitada em sua cama, Alberto está descansando e Vicente na empresa. A garota fica pensando sobre todas as reviravoltas de sua vida. Fugindo de seu tio, encontrando Vicente, se apaixonando por ele, o quanto ele mudou e como seu relacionamento com o pai está diferente, estão realmente aproveitando ao máximo o tempo juntos e isso a deixa cada vez mais pensativa e preocupada com o tio, afinal é sua única família viva assim como Alberto é para Vicente.

Assim que ouve passos a garota desce, Alberto vai até a cozinha pegar um copo de água, ele percebe como Lily está pensativa e se senta pronta para ouvi-la caso ela queira desabafar.

- O que aflige essa linda cabecinha?

- É mesmo impossível esconder qualquer coisa de você, não é?

- Eu aprendi a prestar atenção com o tempo.

Lily então se senta ao lado dele e começa a desabafar sobre suas preocupações.

- Eu estava pensando em muita coisa, mas principalmente na sua relação com Vicente.

- O que exatamente tem passado pela sua cabeça?

- Meu tio.

- Aquele que a maltratava?

- Sim, quando estava bêbado era insuportável, mas é a única família que me resta, eu não sei, penso que deveria verificar como ele está.

- Você nunca mais falou com ele?

- Não, apenas deixei uma carta dizendo que estava indo embora e o aconselhando a pedir ajuda.

- E está com o coração apertado, é isso?

- Isso também, mas me sinto um tanto hipócrita em insistir que você e Vicente se perdoassem quando eu mesma não o fiz, não pessoalmente pois em meu coração eu já perdoei meu tio a algum tempo.

- Então precisamos resolver isso, e eu quero estar ao seu lado assim como você esteve ao meu querida, acalme seu coraçãozinho, nós vamos voltar para sua cidade.

Quando Vicente volta do trabalho o assunto é abordado, ele é contra a princípio, se ele fechar os olhos ainda consegue ver Lily machucada implorando por uma fuga, ele lembra dela mal conseguindo andar, os olhos carregados de medo...

- Lily, você tem certeza?

- Eu preciso fazer isso, preciso acalmar esse aperto que estou sentindo, só preciso ir lá ver como ele está e dizer que o perdoo.

- Então eu vou com você, não vou deixar você sozinha com ele.

Alberto fala com o filho que já havia dito que a acompanharia, mas Vicente insiste que o pai não se esforce, ele cuidará disso pessoalmente, afinal Lily é sua namorada.

- Ficarei mais tranquilo se você acompanhar ela filho.

- Eu nunca a deixaria ir sozinha, é minha namorada, agora senhorita viajaremos como tal.

Ele ri quebrando o clima triste e a beija apaixonadamente, um beijo curto, mas carregado de sentimento e suficiente para fazer ele sentir arrepios pelo corpo inteiro. Ficou combinado que iriam voltar no sábado, passariam a noite na casa de Vicente e voltariam para casa no domingo à tarde.

E quando o sábado chega o motorista os leva até o aeroporto, dessa vez é diferente, Vicente segura a mão de Lily por toda viagem, e eles fecham os olhos para descansar, Vicente se lembra da viagem de ida para Chicago, como a ruiva estava com medo e como ele foi insensível e arrogante com ela, uma dor de arrependimento atinge seu peito e ele acaricia a mão dela com o polegar na esperança de afastar as lembranças ruins.

Lily fecha os olhos e recorda de quando pegou a mão de Vicente na viagem de ida, e como ele foi estupido, um completo idiota, ela abre os olhos e o procura com o canto do olho, ele tem os olhos fechados, mas não está dormindo, ela sente o leve carinho na sua mão, ele vira o rosto e fica o admirando, tão calmo, parece outra pessoa e é nesse momento em que ele abre os olhos e a encara.

- Achei que estava dormindo linda.

- Não, estava pensando em você.

- É? E o que pensava?

- Em como você mudou, na nossa vinda para Chicago se alguém tivesse me dito que eu me apaixonaria por você eu teria chutado a pessoa para fora sem paraquedas nem nada. E olha eu aqui agora... louca por você...

- E se alguém tivesse me dito que você mudaria completamente minha vida eu ofereceria um cargo de comediante a ele. E olha eu aqui... lutando a cada dia para merecer você...

Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino. Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa. (Luis Fernando Veríssimo)

 

O Valor Do PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora