9 - Você estava certa

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Três longos dias se passam e Alberto não fala com a ruiva, ela já está quase desistindo, quando ele bate à porta de seu quarto.

- Liliane, posso entrar?

- Claro Senhor Alberto, está aberto.

O homem entra, os olhos vermelhos, Lily fica preocupada e logo está em pé ao seu lado o olhando com cautela.

- Senhor, precisa de alguma coisa?

- Preciso desabafar.

- Claro, sente por favor.

O homem senta, antes mesmo de começar a falar ela volta a chorar, a ruiva não entende até que ele respira fundo e começa a falar.

- Você estava certa.

A garota o observa confusa

- Certa sobre o que senhor?

- Eu busco o amor como você disse, mas mais que isso, busco o perdão de meu filho.

- Se quiser me contar, desabafar... prometo que nada sairá deste quarto.

- Eu comprei meu filho.

- Como? O que disse?

- Eu o comprei de sua mãe biológica.

- Não entendi, como assim?

Alberto então respira fundo algumas vezes e começa a contar a triste história.

- Eu e minha esposa casamos muito cedo, sempre desejamos ter filhos, mas nunca fomos agraciados com essa felicidade. Alguns anos depois de casados procuramos um médico e descobrimos que minha esposa era estéril.

- Poxa que triste.

- Então começamos a busca por instituições de adoção, nenhuma criança, por mais bonita que fosse tocava nosso coração. Um dia encontramos uma mulher na rua, ela tinha um lindo bebe nos braços e uma menina na mão. Ela nos parou e ofereceu a criança.

Logo de cara ficamos enojados e recusamos, mas com o passar dos dias fomos percebendo que essa mulher não era a mãe dos garotos, se tratava de algo completamente fora da lei, ligamos para a polícia e a denunciamos, ela foi presa e as crianças entregues para adoção.

Minha esposa ficou apaixonada pelo bebê, então eu fiz um trato com a Madre Superiora para que nos priorizasse na fila de adoção. Eu dei a ela uma generosa quantia em dinheiro e ela facilitou nossa adoção, em pouco tempo Vicente estava conosco em casa.

- E você se culpa pelo que de fato? Ter adotado uma criança que talvez nunca chegasse a ter um lar ou ter dado dinheiro a Madre Superiora para facilitar?

- Ter dado o dinheiro.

- E esse dinheiro, você sabe em que foi usado?

- Ela reformou a instituição, comprou colchões novos para as crianças, e provavelmente o restante foi gasto em comida.

- Então ela não usou o dinheiro em benefício próprio?

- Não, eu entreguei em forma de doação.

- Você e sua esposa estavam muito atrás na fila de adoção?

- Éramos os segundos, mas minha esposa queria muito aquele bebê, algo nele nos cativou.

- Não sei por qual motivo você se lamenta tanto. Ao meu ver você adotou um menino que poderia estar nas ruas, você provavelmente não tem noção do que é estar nas ruas, mas é algo que não desejo ao meu pior inimigo e você salvou essa criança. E quanto ao dinheiro você foi responsável por várias melhorias na instituição, talvez muitas crianças só tiveram uma refeição e um lugar para dormir por causa de seu dinheiro.

- Eu nunca pensei nisso.

- Bem, eu acho que nem seu filho...

Liliane segue para a cozinha e prepara um belo café com bolo e leva para Alberto no escritório, ele está sentado na sua mesa, a garota fica fascinada com a quantidade de livros que tem no lugar. Alberto parece perceber a adoração com que a ruiva olha as prateleiras.

- Pode pegar qualquer livro que queira ler, desde que o devolva no lugar exato em que o retirou.

Os olhos de Lily brilham como se ele tivesse lhe dado o melhor presente do mundo, a garota adorava ler, mas na sua cidade não tinha uma biblioteca perto, e a ruiva não tinha dinheiro para a passagem de trem.

- Eu posso mesmo?

- Sim com a condição que mencionei.

 Liliane saltita de alegria enquanto olha os inúmeros volumes que preenchem as prateleiras do escritório de Alberto. Ela não sabe qual livro escolher, o Homem então vendo a indecisão resolve levantar e ajudá-la

- O que gosta de ler?

- Tudo

- Você precisa começar com alguma coisa, o que acha de...

Ele passa pelas prateleiras e para em frente a uma, essa é diferente, tem portas de vidro, a ruiva suspeita que sejam os livros preferidos dele. Ele sai com um exemplar de O mágico de oz, a ruiva já leu, mas faz muito tempo atrás, ele o segura em uma das mãos, o olhar fixo nela enquanto fala.

Trecho de Livro* - E você, meu amigo galvanizado, você quer um coração. Você não sabe o quão sortudo és por não ter um. Corações nunca serão práticos enquanto não forem feitos para não se partirem...

Entrega o livro à garota com um sorriso nos lábios.

- Leia, depois me mostre as partes que mais gostou, podemos discuti-las junto assim que acabar.


* Trecho do livro O magico de OZ

O Valor Do PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora