12 - Difícil escolha

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Já de volta a casa com Alberto eles seguem para a cozinha, a cozinheira serve uma refeição farta, ambos comem sem trocar nenhuma palavra, após se dirigem à biblioteca. Alberto está visivelmente cansado, Liliane se preocupa pela saúde do homem afinal além da doença ele já possui uma idade mais avançada.

- Alberto?

- Sim Liliane

- Está se sentindo bem? Parece cansado.

- Estou um pouco cansado sim, o passeio me deixou exausto.

- Eu imaginei, não sai muito de casa ao que me parece, não é?

- Não, foi a primeira vez em muito tempo, apenas vou às minhas consultas e retorno para casa.

- Deveríamos sair mais vezes, claro com pequenos passeios.

- E onde gostaria de ir Liliane?

- Eu não conheço nada por aqui

- Então a partir de amanhã vou mostrar a cidade para você, um pouquinho por dia. 

- Adoraria conhecer a cidade, podemos ir pela manhã quando é mais fresco e calmo.

- Sim, faremos um pequeno passeio todas as manhãs.

E assim acontece, todos os dias Alberto e Liliane passeiam por Chicago, um mês se passa e ambos já têm uma forte ligação, mesmo com tão pouco tempo já descobriram muitas coisas em comum. Certo dia Lily está com Alberto na sala quando ele passa mal, a garota fica completamente apavorada e corre pedir ajuda.

Um médico logo chega, e o medica, Alberto está na cama muito cansado, ele esta voltando a ficar ranzinza quando Lily o surpreende entrando com o livro que ele havia lhe emprestado cerca de um mês atrás.

- Alberto, eu já o li, gostaria de discutir alguns trechos comigo?

É o suficiente para um apaixonado por livros se animar. Ele se senta na cama e a ruiva o ajuda a ficar confortável.

- Então, o que quer discutir?

- Há um trecho em que discutem sobre preferir um cérebro a um coração.

 - Esse trecho é um de meus favoritos, uma dúvida muito questionável entre ouvir a razão e a emoção.

Trecho livro* - Ainda assim - disse o Espantalho -, quero um cérebro em vez de um coração; porque um tolo não saberia o que fazer com um coração se tivesse um.

- Fico com o coração - respondeu o Homem de Lata. - Porque cérebro não faz ninguém feliz, e a felicidade é a melhor coisa do mundo.

- O que pensa sobre isso Liliane?

- Penso que prefiro um cérebro, amor é algo que só vi em livros, e não acho que seja digna dele.

- Ora e por que não seria?

- Não tenho nada, não sou ninguém, quem em sã consciência iria me amar?

 - E desde quando você ama alguém pelo que ela possui? O amor verdadeiro não se importa com isso, o valor está em quem você é, e acredite em mim, você é uma mulher incrível, tolice seria não se apaixonar por você.

- Você realmente pensa assim?

- Sim, e vou te contar algo que talvez pouquíssimas pessoas saibam, eu não nasci rico, minha mãe era lavadeira e meu pai desempregado, minha infância foi tão dura quanto a sua.

- Eu não fazia ideia.

- Sim, cresci com muito pouco, quando conheci Alexa eu não sabia que ela vinha de uma família bem-sucedida, ela me escondeu esse detalhe, eu fui descobrir depois, quando já estávamos apaixonados...

- E por que ninguém sabe disso? Por que esconder?

- No princípio não contei a ninguém por medo de acharem que eu estava com ela apenas pelo dinheiro, depois foi por vergonha mesmo.

- Vergonha de sua origem?

- Sim, não me orgulho disso, mas por muitos anos senti vergonha de onde vim.

- Não tenho vergonha de onde vim e não acho que você deva ter vergonha de sua origem, como você mesmo disse, nosso valor não está no que temos e sim em quem somos.

- Você é bem esperta, e uma ótima ouvinte. Voltando a sua questão entre cérebro e coração, eu posso estar enganado, mas você provavelmente vai mudar de opinião depois de se apaixonar.

- Eu nunca vou me apaixonar.

- A Liliane, isso é algo que ninguém controla, simplesmente acontece. Um dia você vai acordar e perceber que não consegue mais viver sem a outras pessoas, vai sentir a dor dela, mas também sua felicidade, vai ser seu primeiro pensamento ao acordar e o último ao dormir, e então minha garota vai precisar fazer a difícil escolha.

- Que difícil escolha?

- Sim, de acreditar, se entregar, decidir se vale a pena correr o risco com aquela pessoa que talvez esteja na sua frente esperando apenas um sinal, uma palavra, uma pequena brecha para entrar na sua vida e te fazer a pessoa mais feliz desse mundo.


* Trecho do livro O mágico de Oz

O Valor Do PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora