24 - O pedido de perdão

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De volta à casa de Alberto, Lily vai ver como ele está. É a primeira vez que se afasta por tanto tempo dele desde que começou a trabalhar.

- Alberto?

- Liliane, conseguiu ajudar Vicente com o problema dele?

Vicente não falou ao pai aonde ia, apenas disse que precisava da ruiva para ajudar com um problema na empresa.

- Eu sinceramente espero que sim.

- Então minha amiga, o que vamos ler hoje?

- Estou aguardando sua próxima sugestão, não existe melhor professor nesse ramo, suas sugestões são sempre incríveis.

O sorriso no rosto dele se alarga e ele segue para a biblioteca, abrindo a grande estante de vidro ele separa um livro já visivelmente manuseado e entrega para a garota, nesse mesmo tempo Vicente abre a porta e entra. Alberto ergue uma sobrancelha curioso, o filho nunca permanece na casa por muito tempo e hoje estava com a impressão de que ele não quer ir embora

- Vicente?

- Sim pai

- Não vai trabalhar?

- Não, hoje eu cancelei todos os meus compromissos, estava pensando em ler um livro aqui com vocês.

Alberto olha espantado, em seguida segue para a estante de vidro, os olhos de Vicente literalmente brilham quando o pai lhe entrega um exemplar de Peter pan.

Trecho Livro * - "Então venha comigo, onde nascem os sonhos, e o tempo nunca é planejado. Basta pensar em coisas alegres, e seu coração vai voar nas asas, para sempre, na Never Never Land!"

O dia passa rápido, já é noite quando Vicente segue para casa, leve e tranquilo ele adormece facilmente, seus fantasmas não o perturbam porque seu coração está em paz.

Dois dias se passam e Vicente vai buscar Lily para conhecer as faculdades da cidade. A garota está tão animada que o sorriso dela chega a brilhar mais que o sol. Passam a tarde fora, quando voltam encontram Alberto sentado a mesma, ele parece cansado, algumas folhas de papel amassado o cercam, Lily as recolhe e descarta, logo após segue para lhe preparar algo para comer. Vicente senta ao lado do pai e inicia uma conversa decisiva.

- Pai eu estive perdido por muitos anos, perdido no que eu julgava saber, perdido em meio a minha dor, dor essa que eu mesmo me causei ao longo dos dias, recolhido em minha própria casca esperando que o senhor viesse me pedir perdão, perdão esse que não me deve.

- Filho, o que está falando?

- Que agora eu entendo, e eu sinto muito ter levado tanto tempo para abrir os olhos, lamento ter precisado de ajuda para deixar meu egoísmo de lado e buscar a verdade. A verdade real e não a que eu continuava a repetir todos os dias para mim mesmo.

- Filho, perdoe-me, eu nunca quis lhe magoar, nunca pretendi que passasse tanto tempo achando que eu o comprei para suprir um capricho.

Vicente então vai até onde seu pai está sentado e se ajoelha na frente dele, com lágrimas nos olhos ele continua.

- Não pai, eu é quem peço perdão. Perdão pelo meu egoísmo, perdão por o julgar e condenar sem deixar brecha para que se defendesse, perdão por esses anos afastado, perdão por todas as palavras afiadas que eu agora sei que não eram merecidas, e mesmo que fossem eu não tinha o direito de atirá-las. Pai perdão, eu peço de coração que me perdoe por ser um péssimo filho.

O homem duro e implacável agora repousa a cabeça nas pernas do pai e chora como um garotinho pedindo para sair do castigo, se desculpando por uma travessura qualquer. Aquele homem desprezível agora estava curvado implorando o perdão e o amor do pai de volta.

Alberto levanta e ajuda o filho a se levantar, em um abraço carregado de sentimentos ele o abraça com toda força que seu corpo já velho e fragilizado pela doença possui. Em meio a lágrimas pai e filho se perdoam mutuamente. A ruiva assiste a tudo como espectadora enquanto tenta em meio a lágrimas enxergar os legumes que está cortando.

- Lily vem aqui querida, participe desse abraço meu anjo, eu sei que você é quem foi responsável por ele.

Liliane abraça Alberto e o sente tremer de emoção em seus braços, em um sussurro entre lágrimas ele agradeceu.

- Você definitivamente é um anjo em minha vida, minha amiga querida.

Vicente então abraça os dois e o tempo passa sem que nenhum dos dois se afaste.


* Trecho do livro Peter Pan

O Valor Do PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora