59 - A partida.

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E depois de uma aniversário inesquecível o mês passa rapidamente, nada de emoção e nem tem como, Alberto está cada vez mais fraco, já passa mais do que a metade do dia na cama, precisa de ajuda para tomar banho, se vestir, comer. Os passeios mais longos estão sendo feitos com o uso de uma cadeira de rodas para que Alberto não se canse tanto.

Hoje Lily e Vicente estão o levando para um passeio no parque, crianças correm pelo gramado enquanto jogam bola, algumas mais atrevidas empinam pipa aproveitando o vento refrescante que sopra balançando as folhas das árvores. Sentados em uma toalha quadriculada eles fazem um piquenique, o céu está limpo e o sol brilha, um lindo dia está por vir.

Vicente está lendo para o pai, Alberto sorri enquanto ouve o filho ler Marley e Eu 

Trecho Livro * - Poderíamos ter comprado um pequeno iate com o que nós gastamos com o nosso cachorro e tudo que ele destruiu. Mas, me pergunto: quantos iates ficam esperando junto a porta o dia inteiro até você voltar? Quantos vivem esperando a chance de subir no seu colo ou descer a colina com você em um tobogã, lambendo o seu rosto?

A manhã estava tranquila, o vento que antes soprava forte no topo das árvores parou, dando lugar a uma pequena brisa, mal movendo as folhas. O céu que antes estava limpo e azul agora começa a se armar para uma chuva de verão. Lily recolhe as coisas e as leva até o carro, Vicente leva o pai para um passeio ao redor do lago.

- Sabe filho, eu realmente vivi uma vida boa.

- Não fala bobagem pai, ainda temos muito tempo.

- Talvez, é impossível ter certeza de nada, nem da minha nem da vida de ninguém, e é por isso que devemos viver a vida intensamente, como se fosse nosso último dia. Nos reprimimos tanto com medo, tantas vezes deixamos de fazer o que tínhamos vontade para fazer o que os outros esperavam que fizéssemos. Por muitas vezes nós mesmos somos responsáveis por sufocar pouco a pouco nossos sonhos, com receio de julgamentos, deixando para o dia seguinte, e o dia seguinte nunca chega.

- Quais eram seus sonhos, pai?

- Me casar com sua mãe, viver intensamente nosso amor, ter uma família, nos últimos anos foi ter seu perdão, ter meu filho de volta a agora, agora meu maior sonho é você encontrar uma boa moça e ser feliz assim como eu fui.

- Ah pai, eu encontrei, e tenho certeza que seremos muito felizes.

- E eu quero netos, quero que você tenha a mesma alegria que eu tive quando o peguei em meus braços pela primeira vez, ser pai foi a realização de um sonho que eu sequer sabia que tinha.

Lily nesse momento os encontra, Vicente passa o braço em volta da cintura da ruiva e caminham juntos pelo lago. A ruiva logo enxerga os patos e é impossível não sorrir quando ela sai em disparada para alimentá-los. Alberto ri enquanto Vicente o empurra rapidamente até ela.

- Eu amo patos, são criaturas tão adoráveis, e tão famintas...

- São sim, e são as únicas aves que conseguem voar, nadar e andar de forma razoável, não tão elegantes, eles têm a capacidade de dormir "desligando" metade do cérebro enquanto a outra fica ativa. Eles vivem cerca de 15 anos. As patas colocam em média 100 ovos por ano. E para descobrir o sexo deles basta olhar suas penas, é que os machos possuem a cor das penas mais vistosas.

- Uau, não fazia ideia que era um conhecedor dos Patos.

- E não sou, apenas pesquisei por causa da sua fascinação por eles.

Eles seguem o passeio com calma, depois da agitação dos patos Alberto sentiu uma leve falta de ar. Vicente pegou água fresca para o pai e sentaram-se à sombra de uma grande árvore. Tudo está completamente tranquilo até que Alberto leva a mão ao peito, a falta de ar ataca novamente, ele mal consegue falar, suas palavras são incompreensíveis, Lily fica assustada e imediatamente liga para uma ambulância.

- Pai, pai fica comigo, não fecha os olhos.

Alberto usa toda sua força para olhar para o filho uma última vez, mal movendo os lábios ele fala, dessa vez Vicente consegue ler os lábios do pai perfeitamente.

- Eu te amo

- Eu também te amo pai, por favor não me deixe.

E Alberto fecha os olhos, A garota ouve alguém falando em parada cardíaca. Vicente segura a mão do Pai em meio a lágrimas e apelos desesperados para que não o abandone, Lily vai até ele e o abraça com força, em algum lugar do parque começa a tocar uma música conhecida "All Through the Night" nesse mesmo momento uma brisa quente os atinge. 

Ser feliz é sentir o sabor da água, a brisa no rosto, o cheiro da terra molhada. É extrair das pequenas coisas grandes emoções. É encontrar todos os dias motivos para sorrir, mesmo se não existirem grandes fatos. É rir de suas próprias tolices.
É não desistir de quem se ama, mesmo se houver decepções. É ter amigos para repartir as lágrimas e dividir as alegrias.
É ser um amigo do dia e um amante do sono. É agradecer a Deus pelo espetáculo da vida. (Augusto Cury)


* Trecho de Livro Marley e Eu

O Valor Do PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora