56 - Eu te perdoo.

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Um novo dia tem início, Lily está descendo para o café quando ouve um barulho a porta, ao virar seus olhos encontra Vicente com uma linda bandeja em mãos, uma linda bandeja de prata, suco, café, bolo, pão e um copo de iogurte.

- Bom dia, minha linda.

Lily o olha maravilhada, é a primeira vez que ele leva café na cama para ela, mas alguma coisa está faltando, a ruiva não se deu conta ainda, mas a margarida não está na bandeja.

- Bom dia, uau isso é tudo é para mim?

- Na verdade não, eu pensei em tomarmos café na cama hoje, então o café é para dois. Mas essa é apenas para você.

Ele fala enquanto tira das costas a tradicional margarida branca, os olhos da garota brilharam e ela lhe agradece com um beijo apaixonado.

Logo após o café Vicente segue com Lily até a casa do tio da garota, quando batem à porta ele abre envergonhado, e sempre foi assim, o dia seguinte a agressão ele sempre mantinha aquele olhar de cachorro que caiu do caminhão de mudança, como se ele também fosse vítima de algo além da sua total incapacidade de mudar, Lily por inúmeras vezes o aconselhava a procurar tratamento, que aquilo não só estava destruindo quem o cercava, mas principalmente a ele próprio. Alcoolismo é um vício assim como tantos outros e tem cura, mas é preciso querer acima de qualquer coisa, determinação e força de vontade, afinal nada é impossível quando se coloca o coração para conseguir. 

- Bom dia Lily, entrem.

- Não , eu prefiro conversar em outro lugar.

Eles seguem para a cafeteria da esquina, Vicente puxa a cadeira para Lily se sentar e senta ao lado. Depois de um generoso gole de café quente e forte, Lily fala.

- O que está fazendo da sua vida tio?

- Como assim, eu continuo do mesmo jeito de quando você me abandonou, ainda moro e trabalho no mesmo lugar, minha vida não mudou.

- Como não mudou, olha para seu estado, olha para o estado da casa, essa é a vida que vem levando?

- Você me abandonou, a casa era responsabilidade sua.

- Assim como era sua responsabilidade cuidar de mim depois que meus pais se foram, se não fosse minha tia eu teria morrido de fome.

- Eu nunca tive vocação para ser pai.

- E com a graça de Deus ele não te deu filhos, sequer consigo imaginar o sofrimento deles se os tivesse.

- Eu não fui tão ruim assim para você Liliane.

- Fico até com receio de perguntar o que realmente teria "sido ruim por completo" para você, mas não é por isso que estou aqui.

- Então o que veio fazer aqui?

- Vim para outra vez te oferecer ajuda tio, olha o que a bebida está tirando de você, não come, não dorme, não toma banho, aposto que logo não terá mais emprego também.

- Está me rogando praga garota?

- Não, apenas constatando a realidade, quanto tempo até seu chefe se cansar de você, das suas bebedeiras? Eu sei que você bebe escondido no trabalho e ele com certeza sabe também.

- Isso não é da sua conta fedelha.

- Não, não é mesmo, mas você é minha única família viva e eu não dormiria tranquila sem vir aqui falar com você.

- Diga logo o que quer e pode sair por onde veio, não preciso de você, você é quem vai precisar de mim quando seu namorado lhe der um pé na bunda.

Vicente que até agora estava de fora da conversa, se mantendo imparcial não se contém e solta uma risada irônica.

- Isso não vai acontecer.

O homem o olha e desvia o olhar voltando-se à sobrinha, Ele a olha enquanto ela pronuncia as palavras que tem guardadas em seu coração há algum tempo.

- Eu apenas vim para lhe dizer que te perdoo, cada tapa, cada agressão, eu te perdoo.

- Não quero seu perdão.

- Eu sei, e não esperava que se importasse com isso agora, mas se continuar pelo caminho que está seguindo logo vai precisar.

- O que está insinuando?

- Nada, é só um fato: Se continuar nessa vida logo estará junto de meus pais, ou talvez não. O que quero que saiba é que teve todas as oportunidades de mudar, de procurar tratamento e sair dessa vida, só não o fez porque não quis.

- Lição de moral a essa hora da manhã? Vou precisar de mais do que uma garrafa para digerir isso.

- Como preferir tio, agora antes de eu ir quero oferecer ajuda uma última vez. Procure ajuda tio, eu pago as despesas que tiver, quero o ver curado, livre desse vício imundo que só o está destruindo.

- Não preciso de ajuda, eu posso parar quando eu quiser e adivinha: Eu não quero.

- Não vou insistir, estou indo embora , fique bem.

E Lily sai com Vicente, ela está visivelmente emocionada e ele a abraça com carinho, seguem de volta a casa para arrumar as coisas, logo estarão voltando. Lily sente saudades de Alberto, eles realmente encontraram uma conexão muito bonita. A ruiva olha uma última vez para o tio e suspira.

 "Ele nunca vai conseguir se livrar disso..."



O Valor Do PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora