Capítulo 01

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Brookline, MA/EUA - atualmente


Janeiro



É um lindo dia de céu limpo e o sol brilha forte aquecendo nossas peles. As árvores finalmente floresceram, exibindo belas flores coloridas após um inverno rigoroso. Eu corria atrás de Daniel tentando, inutilmente, alcançá-lo. Ele parecia ter asas nos pés, de tão veloz. Meu pai vinha logo atrás, diminuindo seu ritmo de corrida para acompanhar o meu e ser meu ajudante na busca por alcançar meu irmão. Era uma sensação libertadora correr sentindo os pés tocarem a grama fresca. Minha família, de fato, estava feliz. Ao longe, minha mãe nos observava sorrindo, alegre, viva. Ela possuía os cabelos castanhos mais lindos que eu já tinha visto. Sua pele branca trazia um leve bronzeado e seus olhos castanhos eram profundos, cheios de amor. Como era bom olhar para ela!

Em meio a essa visão, comecei a ouvir um som que parecia não estar em sintonia com a cena.

Triimm, Triimm, Triimm...

- O que?! - perguntei, movendo-me na cama.

Ainda sonolenta, ergui a cabeça e olhei para o relógio despertador apoiado em cima da mesinha ao lado da minha cama, que marca seis horas da manhã e toca de forma estridente, interrompendo meu sonho e me fazendo acordar num susto. Tive a impressão de que estava sendo tirada de um sono que mal pude desfrutar, sendo acordada rápido demais e de forma nada sutil, pelo condenado do aparelho que tocava desesperado. Enquanto esticava a mão para desligá-lo, tive em mente que deveria urgentemente trocar este despertador por outro com um som mais agradável ou que talvez devesse passar a usar meu celular como despertador e escolher alguma música bem tranquila para tocar.

Mesmo relutante em abandonar o aconchego proporcionado pela minha cama, levantei e me arrastei para fora dela, indo em direção ao banheiro para começar a me aprontar para mais um dia de trabalho. É manhã de sexta-feira e mesmo estando extremamente feliz em conseguir concluir com êxito mais um mês em meu novo emprego, saber que o final de semana finalmente chegara era reconfortante. Tal sentimento não era sem sentido, e pude comprovar isto quando me aproximei da bancada de granito da pia e fiquei parada durante um tempo em frente ao espelho, observando meu reflexo. Minha aparência nesta manhã com certeza não é das melhores. "Nada que uma boa maquiagem não resolva" - pensei, enquanto começava a escovar os dentes.

De fato, as últimas semanas não têm sido das mais fáceis, em meio à mudança da minha família para outro país e minha nova rotina de vida, que envolvia a conclusão da minha faculdade, morar sozinha e as responsabilidades para com a instituição de ensino onde tinha sido contratada como professora. De qualquer forma, tranquilizava-me saber que minha família estava bem estabelecida e minha satisfação só crescia em relação ao meu emprego.

Um delicioso banho quente foi tudo o que precisei para despertar e já me sentir mais disposta. Vestindo um roupão felpudo, saí do banheiro, deixando para trás a acolhedora sensação de calor deixada pelo vapor da água quente e voltei ao quarto, para escolher a roupa que usaria. Como o clima lá fora estava extremamente frio, uma roupa bem quentinha era a melhor opção. Estamos no final de Janeiro e bem no meio do inverno, que parece durar uma eternidade, sendo úmido e muito, muito frio. As baixas temperaturas fazem nevar e cobrem a paisagem com um enorme tapete branco. Frequentemente era necessário remover a neve que ficava acumulada na entrada da casa, pois, sem isso, era praticamente inviável sair para fazer qualquer coisa, mesmo estando de carro.

Este era o primeiro inverno que passava longe da minha família e a tarefa de remoção da neve, que antes era executada de forma divertida por toda a família, agora ficou sob minha responsabilidade. Sempre que era preciso, eu costumava espalhar um pouco de sal por sobre a neve. Isso ajudava a derreter o gelo e tornava o serviço bem mais fácil.

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