Capítulo 10

33 4 0
                                    

Emily e eu nos despedimos dos pais de Allan e depois seguimos para casa. Dirigi pela avenida pouco movimentada em completo silêncio, assim como Emily, sentada no banco do carona, e Sara, afundada no banco de trás, que mantinha um olhar distante, observando a rua através da janela. Como Emily também acabou preferindo dormir conosco, senti-me aliviada por tê-la por perto para ajudar a consolar Sara. A noite tinha sido longa e estava terminando completamente diferente de como todos esperávamos e não me sentia nada bem por Sara e sua família.

Como o jantar programado acabou não ocorrendo, ao chegarmos em casa ofereci algo para que Sara e Emily comessem, mas ambas recusaram educadamente. Particularmente, depois de todo o ocorrido, eu também havia perdido o apetite. Depois de acomodar Emily no quarto que antes era utilizado por Daniel e Sara no meu, tendo ficado afagando seus cabelos até que ela pegasse no sono, fui para o quarto que meus pais costumavam fazer uso.

Pouco antes de me deitar, resolvi conferir meu celular. Para a minha surpresa havia não uma, mas duas chamadas perdidas de Simon. Considerei se devia ou não ligar-lhe, não por não desejar falar-lhe, mas por ter receio de incomodá-lo em meio as tais reuniões das quais ele estava participando. Tudo o que mais queria, e precisava, neste momento, era ouvir sua voz. Subi na cama, encolhi-me em baixo do edredom e disquei seu número. Se não me atendesse, eu deixaria um recado e pelo menos ele saberia que eu retornara o seu contato. Ele atendeu ao segundo toque.

- Ana... – Simon disse. Ouvir sua voz terna fez com que todas as minhas barreiras caíssem.

- Simon... - foi tudo o que consegui dizer, antes de começar a chorar.

- Ana, o que aconteceu? – ele perguntou, e pude perceber a preocupação em sua voz.

- Desculpe. Você está ocupado? – perguntei, tentando conter a explosão inicial de choro.

- Só um momento – me pediu. – Senhores... – o ouvi dizer - ...com licença, sim? – pediu, e ouvi quando, ao longe, um coro de vozes masculinas chamou-lhe pelo nome, dispensando-o frente a seu pedido. – Conte-me o que aconteceu, Ana.

- Olha, eu não quero incomodar. Se você estiver ocupado, eu posso ligar depois...

- Não. Conte-me agora – ele exigiu.

- Tá. Foi um acidente – solucei. - Um acidente com um amigo. O nome dele é Allan, e ele é irmão da Sara. Ele sofreu um grave acidente agora à noite, e está internado em estado grave no hospital - expliquei.

- Que tipo de acidente ele sofreu?

- De carro. Um motorista ultrapassou o sinal vermelho e acertou o carro dele em cheio.

- Oh – ele disse, com certo pesar. - Eu lamento, Ana. Posso ajudar de alguma forma?

- Obrigada, mas acho que agora nós só podemos aguardar e torcer para que o quadro dele melhore.

- Entendo.

- De qualquer forma, eu vou transmitir os seus préstimos a Sara. Vai ser importante pra ela.

- Sim, claro. Faça isso – ele concordou.

- Mas e você? – funguei, limpando o rosto molhado com a manga do pijama. - Você me ligou. Está tudo bem?

- Está sim. Eu liguei para saber como você estava, e poder ouvi-la – ele disse.

- Foi tudo bem na sua viagem?

- Foi sim. Eu passei a maior parte do tempo enfurnado em um caixão, – ele riu - mas sim. Foi uma boa viagem. Ao menos cheguei em segurança.

- Que bom – sorri. – Fico feliz de que você tenha chegado em segurança. Isso é importante – declarei. - Quando é sua previsão de retorno?

Ao AnoitecerOnde histórias criam vida. Descubra agora