Março
Passaram-se alguns dias desde meu último encontro com Simon. Não voltei a vê-lo e também não lhe telefonei. "Talvez seja melhor assim" – concluí.
Minha rotina estava dividida basicamente entre trabalho e casa. Estas duas ocupações, porém, consumiam-me todo o tempo. Emily, Sara e eu passamos a sair menos nos finais de semana e, quando tínhamos tempo, preferíamos nos reunir em nossas casas mesmo. Era muito bom, por exemplo, ir à casa da Sara. Sua mãe era uma ótima anfitriã e muito carinhosa. Na primeira vez em que Sara convidou-me para visitá-la, acabei conhecendo seu irmão, Allan. Um moreno muito bonito e carismático. Tempos depois, nós tivemos um breve relacionamento. Apesar de ser um bom rapaz e um ótimo amigo, temo que acabamos confundindo a amizade que tínhamos com outro sentimento e logo nossas diferenças começaram a se fazer evidentes. Por fim, o namoro terminou, mas a amizade continuou.
Em pleno sábado à noite eu estava em casa, mergulhada na correção de alguns trabalhos escolares. Mais cedo, Emily tinha ligado, convidando-me para acompanhá-la ao The King's House. A simples menção ao nome do estabelecimento me trouxe a lembrança de Simon e fiquei tentada em aceitar o convite. A responsabilidade para com as correções, porém, não me permitiram acompanhá-la, pois precisava aproveitar o final de semana para isso. Com o avançar das horas, meus olhos começaram a pesar, como resultado por ter corrigido tantos trabalhos, e resolvi descansar um pouco. Instalada no sofá, desviei minha atenção para a televisão, onde o canal transmitia a um episódio da série The Walking Dead. Enquanto me distraía assistindo ao drama vivido pelos personagens, minha campainha tocou, fazendo-me saltar no sofá. Olhei para o relógio que marcava meia-noite, sem fazer a menor ideia de quem poderia ser.
Receosa, fui em direção à porta. Quando espiei através olho mágico, meu coração acelerou e minhas pernas bambearam. Virei a chave rapidamente e, quando abri a porta, deparei-me com Simon parado em minha varanda, segurando pelo braço uma Emily que parecia não estar muito bem e a ponto de desabar, caso Simon a soltasse.
- Emily! O que aconteceu? Você está bem? – exclamei, indo ao seu encontro. Ao envolver seu rosto entre as mãos, sua cabeça pendeu para um lado, mole, e seus olhos mal se abriram. Seus cabelos dourados, molhados pelo suor, lhe grudavam na testa e pescoço, enquanto manchas escuras lhe rodeavam os olhos, como resultado da maquiagem borrada.
- Olá, Ana. Boa noite! – Simon saudou, cortês.
- Oh... me desculpe, Simon. Boa noite! – olhei-o rapidamente e logo voltei minha atenção para Emily. – O que aconteceu? Ela está bem?
- Ana, minha amiga – Emily disse, exibindo um sorriso débil. - Eu te amo, sabia? – declarou com a voz grogue, tateando meu cabelo, e recebi no rosto seu hálito com o forte odor de álcool.
- Ela está bem, só bebeu um pouco além da conta – Simon disse tranquilamente. – Ela esteve no clube hoje e creio que extrapolou na diversão. Vi quando ela cambaleou no meio da multidão e quase caiu. Achei que ela estivesse se sentindo mal e, quando me aproximei, comprovei que ela estava bêbada.
- Caramba! – exclamei, encarando a face ruborizada de Emily. Sabia, por experiência, que ela tinha alta tolerância ao álcool. Para que chegasse ao estado em se encontrava, significava que ela tinha abusado, e muito, da substância.
- Eu perguntei se alguém a acompanhava e ela disse que não – Simon continuou. - Então achei melhor levá-la pra casa. No caminho, ela disse que morava sozinha e, em sua atual condição, achei melhor trazê-la pra cá.
- Você fez bem – lhe sorri. – Vem, Emily, vamos entrar – a chamei, passando um dos meus braços em volta de sua cintura e apoiando um braço dela sobre o meu ombro. Quando Simon a liberou, o peso dela caiu todo sobre mim e tive que fazer um esforço significativo para manter-me firme, sustentando-a.
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Ao Anoitecer
VampirePrimeiro volume da série Ao Anoitecer. Sinopse Uma sociedade modificada por uma revelação inesperada é o pano de fundo da história de Ana, uma jovem professora, filha de um americano com uma brasileira, que se vê às voltas em uma realidade em que hu...