Capítulo 02

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O clube estava localizado em uma parte conhecida por abrigar uma variedade de centros comerciais e uma infinidade de boates e pubs. Quando o taxista estacionou junto ao meio fio, acertamos o valor da corrida e em seguida descemos do carro. Uma vez na calçada, levantei o olhar e imediatamente senti um frio na barriga.


O estabelecimento se destacava dos demais, com sua fachada majestosa, como se fosse um convite de entrada a inocentes desinformados. Mesmo estando instalado em uma construção que devia ter lá suas dezenas, talvez centenas, de anos, o local ostentava todo um atrativo, com sua parede externa pintada de preto e o nome do clube identificado em letras grandes e douradas. Havia certa movimentação de pessoas do lado de fora, mas, para minha surpresa, não tinha fila, apenas um vampiro alto, forte, cor de ébano, e trajando um impecável terno preto, que imaginei ser um dos funcionários, posicionado de forma inflexível com as mãos na frente do corpo. Assim que nos aproximamos da entrada, o tipo, após conferir nossas identidades, o que fez sem nos dedicar um único sorriso enquanto nos media dos pés a cabeça, desprendeu uma das extremidades de uma corda de veludo vermelho de uma haste dourada e autorizou sem delongas a nossa entrada.


Uma vez dentro do clube, surpreendi-me com a decoração de ar vintage de extremo bom gosto, que tinha como cores predominantes o preto, o vermelho e o dourado. Amplo e com o pé direito alto, o lugar possuía uma pista de dança ao centro, um generoso e elegante bar à direita, conjuntos de mesas e cadeiras revestidas com um requintado estofamento dispostos por todo o salão, além de enormes lustres de cristal pendendo do teto. A iluminação especial era um detalhe a parte, trazendo ao ambiente um clima envolvente de mistério e sedução. Quem quer que fosse o dono, ou donos, do local, possuía bom gosto e tinha pensado em cada detalhe para encantar aos frequentadores, que nesta noite já estavam se deixando levar por toda essa atmosfera, dançando, ou fazendo algo parecido com isso, ao som de Girl on Fire, de Alicia Keys.


- Uau! - disse, admirada, olhando ao redor.


- Eu não falei! - Emily exclamou. - Isto aqui é demais! - vibrou, erguendo os braços. Em sua euforia, ela tomou minha mão e a de Sara, entre as suas, e nos puxou para a pista de dança. Quando começou a cantar e a mexer o corpo ao ritmo da batida da música, Sara e eu nos vimos contagiadas por seu entusiasmo e logo formamos um trio, cantando e dançando também.


Não sei se é porque se trata de uma sexta-feira à noite, mas o espaço está completamente lotado. Volta e meia, um ou outro, seja vampiro ou humano, homem ou mulher, esbarrava em nós, tomado pelo arrebatamento que o som da música causava. Algo rotineiro quando se compartilha uma pista de dança com um grande número de pessoas. Mas não era algo que chegava a incomodar. Muito pelo contrário. Se todos os presentes ali estavam mesmo se divertindo significava que, em matéria de segurança e de receber, seja humano ou vampiro, o local devia ter muitos créditos.


Mesmo em se tratando de um ambiente climatizado, bastou duas ou três músicas para que Sara, Emily e eu começássemos a suar e a sentir o cabelo colando na nuca ou na testa. Como já estávamos sentindo sede devido à cantoria, decidimos dar uma pausa e encontrar uma mesa disponível, o que não foi muito difícil, pois naquele momento os frequentadores ocupavam, em sua maioria, a pista de dança. Mal nos sentamos e Emily ergueu a mão, chamando a um garçom que passava por perto. Fizemos nossos pedidos ao homem, um senhor de meia idade que por sinal era humano, sendo logo servidas de uma forma muito educada e eficaz.


- Estão gostando? - Emily gritou, sob a música alta.


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