Capítulo 20

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Chegamos à casa de Simon em poucos minutos. Assim que entramos, Victor veio nos receber. Quando viu o nosso estado, sua expressão passou de cordial para horrorizada.

- Sr. Grant! Senhorita! Deus! O que aconteceu a vocês?

- Está tudo bem agora, Victor. Fique tranquilo – Simon disse, com a voz pacífica.

- Tem certeza? O senhor está ferido? Precisa de sangue? – Victor perguntou, alarmado. Os olhos indo do rosto de Simon para a camisa, encharcada de sangue e perfurada pelos tiros.

- Aconteceu um incidente, e sim, eu fui ferido. Mas já estou bem – Simon o tranquilizou.

- E a senhorita, está bem? – Victor me perguntou, tendo os olhos muito abertos.

- Eu vou ficar bem, Victor, obrigada. Eu só preciso de um banho – disse, lhe dedicando um pequeno sorriso.

- Oh, graças a Deus! – ele exclamou, em alívio, colocando uma mão sobre o peito.

- Victor, eu creio que a Ana logo vai ficar com fome. Você poderia providenciar algo? – Simon perguntou, rodeando meu ombro com um braço.

- Claro. Eu vou agora mesmo – o homem assentiu, e virou-se, seguindo rapidamente até à cozinha.

- Simon, eu vou subir. Eu preciso mesmo de um banho – declarei, sentindo-me esgotada. A cabeça pesava, cheia de dor.

- Ok – ele concordou com a cabeça. - Eu vou ligar para o Gabriel e subo em seguida. Tudo bem?

- Ok – assenti. Simon se inclinou e dei-lhe um beijo de leve nos lábios. Depois me virei, subindo a escada em direção ao quarto.

Entrei no banheiro e acendi as luzes. Espalmei as mãos sobre a pia e encarei meu reflexo no espelho. Minha aparência estava horrível. Meu cabelo, blusa, mãos e rosto estavam sujos de sangue. Sangue de Simon. A lembrança dele ferido fez todo o meu corpo doer. Inclinei-me sobre a pia, aproximando-me mais do espelho, e lentamente levei minhas mãos até o cabelo. O puxei todo para um lado, revelando assim as duas marcas de perfurações no pescoço provocadas pelas presas de Simon. Levei uma mão até elas, que agora tinham bordas arroxeadas, tocando-as de leve, com certo receio de que doessem. Elas doeram, mas não tanto quanto imaginei. Depois de um tempo, expirei profundamente e tirei minhas roupas, colocando-as em um canto no banheiro, e me arrastei para debaixo do chuveiro. A água quente ajudou a quebrar a tensão e me vi um pouco mais relaxada.

Um tanto letárgica, lavei demoradamente meu cabelo e corpo, observando enquanto a água tingida de vermelho finalmente se tornava limpa. Fiquei assim durante alguns minutos, as mãos apoiadas no azulejo, os olhos fechados, sentindo a água cair nas minhas costas, que levava consigo, ralo abaixo, toda a dor e angústia que estava vivenciando.

Terminei o banho, sequei-me e vesti um roupão que Simon deixou separado para que eu usasse quando estivesse na mansão. Peguei um pente de cabelo que se encontrava sobre a pia e comecei a pentear roboticamente os cabelos, olhando fixamente para o meu reflexo no espelho. Minha aparência com certeza estava melhor. Eu estava limpa, bem diferente de quando cheguei. Mas a mudança não era apenas por fora, mas por dentro também. Eu me apaixonara intensamente por um homem, um vampiro, e hoje o vi ser ferido, e por sua condição quem sabe até exterminado. Uma dor enorme cresceu em meu peito, sufocando-o, e não consegui mais conter as lágrimas. Soltei o pente, apoiei minhas mãos sobre o mármore frio da pia e chorei compulsivamente, como não havia chorado desde o dia em que perdi minha mãe.

Repentinamente, a porta do banheiro se abriu. Olhei, com a visão embaçada pelas lágrimas, e vi Simon parado com o cenho franzido. Ele veio em minha direção e me envolveu com seus braços, aconchegando-me junto ao seu corpo. Rodeei sua cintura, abraçando-o forte, escondendo meu rosto em seu peito, enquanto ele acariciava meus cabelos e costas.

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