Capítulo 13

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Retornei com meu pai ao centro de Minas, próximo da hora do almoço. Daniel voltara mais cedo, junto com Júlia e sua família, pois deveria estar no trabalho logo nas primeiras horas da manhã. Enquanto cruzávamos a cidade com destino a Fogo de Chão, uma churrascaria que havia se tornado a preferida da família, fui admirando a bela paisagem urbana, com as ruas fervilhando de pessoas e carros, e altos edifícios dividindo espaço com os monumentos históricos e praças.

- Como você está, filha? – meu pai perguntou, assim que começamos a almoçar.

- Bem – respondi distraída, servindo-me da primeira garfada.

- Tudo bem no seu trabalho?

- Ãhã.

- E a casa e as finanças... como estão?

- Muito bem. Graças ao que você e a mãe me ensinaram, eu tenho conseguido administrar tudo certinho – lhe sorri, tranquilizando-o.

- O que há, Ana? – ele perguntou de repente. O tom empregado na pergunta obrigou-me a elevar os olhos do prato para encará-lo.

- Como assim? – encolhi os ombros. - O que há para ter?

- Eu não sei. Me diga você - a exigência contida em seu olhar, que analisava meu rosto atentamente, fez meu coração acelerar, quando percebi que a atmosfera ao nosso redor mudara. Insistente como era, era possível que não saíssemos do lugar enquanto eu não lhe contasse tudo o que ele quisesse ouvir. Tomando meu copo de suco em uma das mãos, sorvi um longo gole, na intenção de clarear a garganta, que se tornara seca, frente à expectativa de lhe falar a respeito de Simon.

- Tudo bem. Há algo que eu preciso te contar, pai, mas eu não acho que este seja o lugar mais adequado pra isso – lhe disse.

- É tão grave assim? - ele perguntou cuidadoso, tendo a testa franzida em um claro sinal de preocupação.

- Grave não. Eu diria... delicado.

- E do que se trata? Conte-me, Ana. Confie em mim – meu pai pediu ternamente.

- Eu confio, pai – lhe assegurei, alcançando sua mão para afagá-la. Quando ele me sorriu, percebi que quanto mais rápido conversássemos, melhor seria. Respirei fundo e recolhendo minha mão, lhe disse: - Certo. Então... eu conheci alguém.

- Oh... – ele disse, parando de comer. Não consegui distinguir se ele soou aliviado ou intrigado. Isso porque meu pai fez a mesma cara de desconfiança quando no passado eu lhe procurei para conversar sobre Allan. Ainda assim, no momento me pareceu que ele estivesse esperando ouvir por algo pior e saber que o assunto se resumia a um possível namorado deixou-lhe menos apreensivo. - Bem... fale-me sobre ele – pediu.

- Tá. Vejamos... há muita coisa a se dizer, pai, e acho melhor se eu for direto ao ponto, em vez de ficar dando voltas.

- Tudo bem – ele disse, me encorajando.

Antes de plantarmos algo, temos que preparar a terra para tal. Em referência a citação, minha mãe dizia que era sempre bom "preparar o terreno", querendo dizer que devemos preparar o ambiente ou alguém para algo a se fazer ou dizer. Quando isto me veio à mente, considerei que talvez seria interessante se apresentasse primeiramente as características que Simon possuía em comum com alguns humanos.

- Bom... o nome dele é Simon. Simon Grant – anunciei. A simples menção ao nome fez meu estômago gelar. – Ele formou-se em administração de empresas e é dono do próprio negócio.

- Mesmo? E em que ramo ele trabalha?

- Ele tem uma casa noturna em Boston.

- Sei... – ele disse, sem soar muito satisfeito. – E nessa atividade, ele é do tipo que mais se diverte ou que mais trabalha? – perguntou, e pude entender o que ele queria sugerir.

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