Capítulo 17

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Abri os olhos, começando a despertar, e estranhei o lugar. Estreitei os olhos, forçando a vista, e os corri por parte do ambiente. Mesmo com a pouca luminosidade, foi possível distinguir algumas formas. Não estava em meu quarto. Tive um sobressalto, sendo mantida no lugar por um braço, forte e frio, que envolvia o contorno da minha cintura, tendo a mão grande espalmada sobre o meu ventre. E então a ficha, sobre onde estava e o que acontecera na noite anterior, caiu. Forcei um pouco o corpo para frente, me inclinando para alcançar um abajur que estava em cima do criado mudo, ao lado da cama, para acendê-lo. Tal movimento me custou certo esforço, pois me sentia exausta, com os braços e pernas doloridos, além dos seios inchados e sensíveis. Resultado, agora eu sabia, de cada movimento e contração que meu corpo fez, em resposta a forma apaixonada e expressiva de Simon fazer amor. Quando o abajur iluminou parcialmente o quarto, me movi em seu braço, deitando-me de frente para ele, para observar seu rosto. Ele era extremamente bonito, mesmo estando adormecido. Seu cabelo castanho, seguindo em camadas onduladas sutis até quase a nuca, mesmo estando emaranhado, não lhe tirava nem um pouco a beleza. Fiquei assim, observando-o descansar tão profundamente que parecia estar realmente... morto. Este pensamento fez um arrepio percorrer meu corpo e tentei afugentá-lo rapidamente. A essa altura eu não conseguia mais imaginar um mundo sem Simon.

- Simon? – o chamei com um sussurro. Esperei uns segundos, mas ele não respondeu. Era sabido que durante o dia os vampiros ficavam incomunicáveis, e vulneráveis, mergulhados em um sono profundo que os consumia até o sol se pôr. Mas não custava nada tentar. - Querido? – o chamei novamente.

Como era de se esperar, ele não despertou e continuou adormecido. Abracei-me a ele, circulando seu tronco com um braço, e encostei minha testa na sua. Respirei fundo, sentindo o cheiro de sua pele, enquanto passeava com uma mão por suas costas, um tanto relutante em deixá-lo. Fiquei um tempo assim, até que, preocupada que a hora já estivesse muito avançada, beijei-lhe a testa e os lábios, e comecei a me desvencilhar de seu braço, que pesava como concreto!

Fui até o banheiro, acendi as luzes, voltei, desliguei a luz do abajur e segui para o banheiro novamente. Ao encarar brevemente meu reflexo no espelho, enquanto prendia o cabelo em um coque alto, percebi certa diferença. Eu parecia realmente um tanto esgotada, mas não me via feia ou algo parecido, muito pelo contrário. Sentia-me linda. Feliz. Amada. Satisfeita, tomei um banho rápido e tentei me arrumar o mais dignamente possível. Acabei recolocando a camisa de Simon e por cima vesti um roupão que encontrei pendurado. Voltando ao quarto, busquei pela minha bolsa, que encontrei caída no chão - mal me lembro de como ela foi parar ali - junto ao meu vestido e lingeries. Peguei meu celular de seu interior, desliguei as luzes do banheiro e fui até à porta do quarto para abri-la. Dei uma última olhada para Simon, que permanecia imóvel, e então fechei a porta atrás de mim, seguindo em direção à cozinha.

Enquanto descia as escadas, senti um aroma delicioso preencher o ambiente. Quando cheguei à cozinha, Victor estava devidamente uniformizado e concentrado, preparando algo no cooktop.

- Com licença – pedi, timidamente, sentindo-me uma intrusa.

- Oh, senhorita Miller! – ele exclamou, com um sorriso acolhedor. – Bom dia!

- Bom dia, Victor!

- Eu preparei algumas coisas para o seu café da manhã. A senhorita gostaria de tomá-lo agora?

- Seria ótimo, obrigada.

- Venha, eu vou lhe acompanhar até a mesa – ele estendeu uma mão em direção ao corredor, fazendo menção para ir ao ambiente mais próximo à sala.

- Oh, não. Eu posso comer aqui mesmo, não tem problema – me apressei em dizer. - Eu não gostaria de comer sozinha – confessei. - Será que posso ficar aqui? Com você? Se não for te incomodar...

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