Capítulo 07

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Minutos depois de sairmos de casa, chegamos ao nosso destino. Um belo e intimista restaurante italiano. Cavalheiro, Simon me ajudou a descer do carro, e logo entregou as chaves do veículo ao manobrista. Um senhor de meia-idade, muito simpático e elegante, veio nos receber e nos levou até a nossa mesa. Quando nos sentamos, olhei o cardápio, fiz meu pedido e, enquanto Simon escolhia o vinho, dei uma olhada no ambiente. Percebi que nunca tinha estado neste restaurante. É pequeno e aconchegante, bonito, e decorado de uma forma muito refinada.

- Tudo bem, Ana? Você parece nervosa... – Simon disse, após dispensar o garçom.

- E estou – confessei, enquanto o observava. Sentado com uma perna cruzada sobre a outra, ele mantinha uma mão sobre a mesa e a outra descansando sobre a coxa.

- Eu te deixo nervosa? – ele provocou, com uma voz suave, erguendo as sobrancelhas.

- Um pouco – encolhi os ombros, desconcertada. Não me considerava uma pessoa insegura, mas estar perto de Simon conseguia mexer comigo de uma forma que eu não conseguia explicar.

- Relaxe, nós só vamos comer e conversar – ele disse, me dedicando um sorriso tranquilizador.

- Bom... já que só eu vou comer, você podia começar me contando alguma coisa - sugeri.

- Muito bem. O que você quer que eu conte?

- Não sei. Que tal começar do começo? Onde você nasceu?

- Eu nasci na Inglaterra, no ano 655 d.C., e morava com meus pais em uma pequena vila. Como minha mãe tinha problemas para engravidar, eu era filho único. Ela cuidava da casa, que era pequena e simples, e eu ajudava meu pai com o cultivo da terra e cuidado dos animais. Nem todos os humanos têm conhecimento, mas a verdade é que vampiros são seres que existem há muitos séculos, milênios até. Em determinada época, o lugar onde eu morava, por exemplo, passou a ser alvo de constantes ataques por parte de vampiros, com várias pessoas sendo mortas. Homens, mulheres, jovens, velhos, crianças... Eles não poupavam ninguém. Por segurança, nós não saíamos de casa à noite em hipótese alguma, mas infelizmente, fora isto, não tínhamos muito como nos proteger, naquela época – declarou.

- Com licença, senhores – disse o garçom, aproximando-se. – O seu prato, senhorita - disse cordialmente, colocando o prato de refeição a minha frente e logo nos serviu com vinho.

- Ah, muito obrigada!- lhe sorri em agradecimento, para logo admirar a bela massa que preenchia o prato.

- Com licença – ele disse, afastando-se.

- Continue, por favor – pedi a Simon, fazendo um gesto de mão incentivando-o a prosseguir com seu relato e comecei a comer.

- Um dia, meu pai pediu que eu fosse a uma vila próxima buscar algumas sementes. No dia seguinte, assim que o sol nasceu, eu saí de casa. A viagem de ida e volta duraria um dia inteiro e eu tentei ir o mais rápido possível, para chegar em casa antes do sol se pôr. Infelizmente, houve alguns contratempos, e quando me aproximava de casa, a noite já caía. Quando finalmente cheguei à vila, ouvi vozes de pessoas se lamentando e chorando, e sabia que só podia ter acontecido mais um ataque. Eu corri em direção às vozes, e quando cheguei mais perto, meu coração congelou. As pessoas encontravam-se em frente à minha casa, em prantos. Passei por eles, e quando vi o motivo do seu choro caí de joelhos em terra – ele fez uma pausa. - Meu pai e minha mãe estavam caídos no chão, do lado de fora da casa... mortos. Um dos moradores disse que presenciou quando um vampiro os atraiu para fora da casa. Eles não tiveram nenhuma chance.

Um terrível frio percorreu minha espinha, uma dor enorme inundou meu coração e de repente foi como se o ar tivesse se tornado pesado, dificultando-me a respiração. Uma garfada ficou suspensa no ar e a comida não desceu. Chocada por sua revelação, baixei os olhos, encontrando a visão de uma mão de Simon envolvendo a haste de sua taça de vinho. Engoli em seco, e em um gesto que me pareceu necessário naquele momento, estendi uma mão para alcançar a mão de Simon, e afagá-la.

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