Depois de pegar minha bolsa, Simon e eu saímos do escritório e descemos até o primeiro andar do clube. Lá, ele encontrou Dixon e passou algumas orientações. Quando avistou Gabriel, aproximou-se dele.
- Gabriel – o chamou. Quando ele se virou, Simon avisou: - Ana e eu vamos para casa.
- Ok, pode ir tranquilo. O Felipe ligou. Preciso retornar pra ele, ou você já o fez? – Gabriel perguntou.
- Eu já retornei – Simon respondeu, secamente.
- E está tudo bem? – Gabriel quis saber.
- Depois a gente conversa sobre isso – Simon disse, em um tom impaciente.
- Tá. Em casa, então – Gabriel confirmou. Após nos despedirmos, Simon me conduziu até a saída.
Quando chegamos ao lado de fora do clube, enquanto o manobrista buscava o carro de Simon, telefonei para Emily. Ela estava toda eufórica, querendo saber as novidades. Assegurei que tudo ia bem. Mesmo sentindo uma vontade enorme de desabafar, preferi não comentar nada sobre o que havia acabado de acontecer. Disse apenas que no momento estava meio difícil de falar e acabamos marcando um almoço para o dia seguinte, aonde prometi que lhe contaria tudo mais tranquilamente. Encerrei a ligação quando o carro de Simon chegou.
- Aqui, senhor – o jovem disse, oferecendo-lhe as chaves.
- Obrigado – ele agradeceu, abriu a porta do carona e depois pousou uma mão na base da minha coluna, conduzindo-me para dentro do carro. Com uma rapidez que era impossível de ser percebida por olhos humanos, ele entrou no carro, fechou a porta e em um segundo, já deu partida.
Seguimos alguns metros em completo silêncio. Volta e meia eu o olhava e ele permanecia com a postura rígida, o semblante fechado, o cenho franzido, olhando fixamente para a rua. Dava para perceber que ainda estava aborrecido pelo que aconteceu. Desviei meu olhar dele e observei, através do vidro escuro do carro, as ruas que, neste trajeto, estavam completamente vazias.
Fiquei assim, submersa em meus pensamentos, e vi de relance quando uma caminhonete nos ultrapassou de repente, cantando pneus. Continuei observando-a sem muito interesse. Ela seguiu mais alguns metros e inesperadamente deu um cavalo de pau, de forma que ficou atravessada na estrada, bloqueando a nossa passagem. Simon freou o carro o mais rápido que seus reflexos lhe permitiram, enquanto estendia um braço, colocando-o a frente do meu corpo, tentando manter-me firme no lugar. A freada brusca fez com que uma nuvem de fumaça subisse pela lateral do carro.
- Você está bem? – Simon perguntou, olhando rapidamente para mim e depois voltou seu olhar em direção à caminhonete parada a poucos metros.
- Sim – confirmei, ofegante, com as mãos apoiadas em seu braço, observando-o.
Simon manteve uma mão fixa ao volante, segurando-o com tanta força que seria capaz de quebrá-lo.
Olhei para a caminhonete bem a tempo de ver a porta do motorista ser aberta e um homem cambaleante descer.
- Maldição! – Simon praguejou, com um grunhido.
Olhei para ele, que agora estava com as presas à mostra, os sentidos completamente aguçados e com a postura de um predador frente a sua presa. Olhei novamente para o homem parado logo à frente, forçando meu olhar para tentar identificá-lo. E então entendi o motivo da reação de Simon.
Meu estômago congelou.
Parado em frente à caminhonete, e segurando um rifle, estendia-se a figura fantasmagórica do homem que me abordou fora do clube. Os faróis da frente do carro iluminavam-lhe as costas e faziam com que uma aura, densa e amarela, envolvesse sua silhueta esguia. Meu coração acelerou, a adrenalina começou a percorrer meu corpo e apertei ainda mais minhas mãos, agora trêmulas, ao redor do braço de Simon.
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Ao Anoitecer
VampiroPrimeiro volume da série Ao Anoitecer. Sinopse Uma sociedade modificada por uma revelação inesperada é o pano de fundo da história de Ana, uma jovem professora, filha de um americano com uma brasileira, que se vê às voltas em uma realidade em que hu...