O ano é 2316. Uma grande guerra intergalática com uma desconhecida civilização extraterrestre assola todos os territórios terrestres. Colónias inteiras são dizimadas em batalhas catastróficas e desumanas. Já no Planeta Terra, a tecnologia fervilha...
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Ano: 2327
Local: Planeta Terra
Via-se, muitas noites, sentado no seu cinzento sofá, envolvido pela escuridão da sala, a olhar para o número de Lara, decidindo se fazia ou não a ligação. Os seus motivos não eram nobres e isso envergonhava-o. Queria poder experienciar novamente aquela sensação de olhar para o negro absoluto dos seus cabelos, muito semelhantes aos da sua amada. Queria admirar a sua pele esbranquiçada como a mármore, manchada pelo rosa carmesim dos seus carnudos e curvilíneos lábios. Queria deixar-se levar pela graciosidade daqueles simples trejeitos, que inconscientemente, o matavam por dentro. Sabia que não era Tari, mas as semelhanças incontestáveis, produziam em si um efeito de puro êxtase. Funcionava, no fundo, como um escape momentâneo para a dor insuportável que sentia.
Mesmo já tendo passado quatro semanas, não conseguia tirar da sua mente a conversa que tinha tido com Lara. O simples facto de pensar que Tari estaria envolvida com a Caravela, corroía o seu espírito duma maneira que não o deixava dormir tranquilamente. Não queria acreditar que aquele ser tão belo e bondoso, puro e requintado, fosse capaz de tal atrocidade. Quase todas as noites tinha o mesmo pesadelo com ela. Conseguia, finalmente, encontrá-la, para no fim, ela o apunhalar pelas costas. Em todas as ocasiões, acordava ofegante, com um nó doloroso no peito. Como que para escapar a essa tortura, deixou-se levar novamente pela louca vida noturna de Los Angeles, inebriando o corpo e a mente, de forma a deixar de sentir tão intensamente. Durante essas semanas, notava que estava a levar o seu corpo ao limite, com festas intensas durante a noite, seguidas de missões exigentes durante o dia.
A Caravela e o seu parceiro Sale, nada diziam, desde que cumprisse o dever que lhe competia. Até agora, apenas tinha atuado como segurança privado para corporações importantes, capazes de pagar os elevados custos da Organização. Todos ficaram surpreendidos com a sua capacidade de fazer o que precisava de ser feito, por vezes, de formas atrozes, ganhando rapidamente a fama de lunático. Na realidade, não se importava minimamente, desde que atingisse o seu objetivo. Quase todas as vezes que estava com Sale, pedia-lhe para ter uma reunião com o diretor da unidade, de forma a tentar subir mais nos escalões internos. Sabia, que só assim, ia descobrir a verdade sobre Tari e sobre o Imperador.
Olhou para o relógio, sendo surpreendido pelo tardar da hora. Está atrasado. Pensou, estudando o ambiente que o rodeava. A ruela que escolheu para estacionar a sua velha mota, ficava diretamente de frente para o seu alvo, uma casa pertencente a um Ministro Americano. Das sombras que o envolviam, estudava minuciosamente, qual caçador furtivo, os detalhes da propriedade que iria atacar. Todo o enorme terreno estava rodeado por um muro em tijolo de três metros, com belíssimas sebes verdejantes no seu topo. Pontualmente, imerso no zigue-zague da tijoleira, era possível ver pequenas figuras, trabalhadas à mão, referentes a criaturas fantasiosas. Para compensar o pequeno tamanho do muro, inúmeras árvores, densas e floridas, esgueiravam-se do solo, projetando-se para fora da propriedade, produzindo sombras irrequietas no cimento cinzento do chão. O verde portão de grades verticais, permitia ao mais curioso, um vislumbre mais inusitado para o vasto interior, onde era possível ver a fachada de uma moradia.