Caravela Negra - Parte oito

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Ano: 2328

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Ano: 2328

Local: Órbita de Ganimedes

O, estridente, alerta de falta de oxigênio do seu fato, perfurava os seus tímpanos, adormecidos, mantendo-o acordado. Sabia que não podia dar muitas arfadas, tentando preservar, ao máximo, o pouco gás vital que ainda tinha. A cada hora que passava, a lua que tinha habitado, ficava mais longe, vendo-a distanciar-se, à medida que se perdia pelas ruas intangíveis do Universo, rumo ao desconhecido. Sem propulsores, não tinha como se movimentar, estando à mercê da volição do destino. Mesmo naquelas circunstâncias, não se sentia assustado ou desesperado, sabendo estar abraçado pelo seu mais antigo companheiro, que tantos prazeres lhe tida dado. Uns minutos antes, deixara de ouvir Pete, que, provavelmente, teria desmaiado, vítima dos dissabores da hipóxia, instalando-se um silêncio régio, purificador máximo de todos os males. No meio dos seus pensamentos, ficou surpreendido, ao perceber que a sua convicção em sobreviver, era, agora, guiada, na sua maioria, pela vontade de acabar a guerra, expurgando a malevolência dos Colonizadores, de uma vez por todas. Perdoa-me Tari. Irei encontrar-te, um dia, mais tarde.

Em mais um momento, igual a todos os outros que o precederam, algo captou a sua atenção, um ligeiro distúrbio na ordem natural das coisas, uma deformação, pequena e sublime, do espaço à sua frente, algo que não sabia replicar por palavras. Era como se o aglomerado de estrelas que mirava, estivesse inserido numa matriz cristalina, capaz de refletir, suavemente, a luz envolvente. Na sua mente, estaria tomado pelas loucuras dos delírios, desvalorizando, totalmente, o que via. Contudo, essa pequena deformação, deu origem a uma nave, que se materializou mesmo à sua frente, marcando-o toda a sua pujança e magnificência. Já tinha viajado em muitas embarcações espaciais, considerando-se um especialista na matéria, no entanto, viu a sua, errática, respiração, ser cortada por aquilo que fitava. Dotada de uma forma triangular, com uma largura equivalente a três naves de classe M, tudo na sua estrutura era grandioso e impactante. O azul garrido da pintura, contrastava, de forma elegante, com o breu do espaço, assinalando-a como um ponto, extravagante, no meio de toda aquela homogeneidade. As milhares de luzes, que, organizadamente, corriam toda a carcaça metálica, mimetizavam uma grande cidade em bulício, como uma verdadeira metrópole das estrelas. Vários canhões e lasers, inseridos em posições estratégicas, mostravam, a quem quisesse ver, a letalidade da sua convicção.

Sem saber a quem pertencia, sentiu os seus músculos relaxarem, com a promessa de voltar a uma atmosfera, ainda que artificial. Como se tivessem lido os seus pensamentos, um feixe de luz, esbranquiçado, mas quente, rodeou-o, puxando-o, gentilmente, em direção à nave. Olhou para a direita, vendo outro feixe captar o seu amigo, que, graciosamente, esvoaçava pela luminosidade, qual bailarino veterano. Devastado pelo cansaço que sentia, e embalado pelo percurso que galgava, fechou os olhos, entregando-se, na sua totalidade, aos desígnios da sua sina, cruel, mas definitiva.

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Ano: 2328

Ponto de Fuga - Dois DestinosOnde histórias criam vida. Descubra agora