Ano: 2327
Local: Planeta Terra
Olhou outra vez para as horas, tentando acalmar a sua crescente frustração. Não tinha conseguido dormir nada na noite anterior, muito por culpa dos acontecimentos invulgares que tinham ocorrido. Via, em todos os lugares para onde olhava, o rosto do seu amigo Sale, ensanguentado e desiludido, fitando-o com um olhar reprovador. Depois de o deixar no seu médico, apenas teve tempo de ir ao apartamento levantar algumas peças de roupa, dirigindo-se logo para o local combinado. Durante todo o trajeto, sentado na sua velha mota, beijado pelo calor do sol acabado de nascer, e acariciado pelo toque gentil do vento, foi assombrado pelas dúvidas e incertezas, não só do que fizera, mas do que ainda iria fazer. O trajeto destrutivo que traçava, podia até acalmar a sua sede de vingança, mas cobrava um preço muito elevado, em contrapartida.
O lugar marcado por Agash, para sua surpresa, era o topo de um grande e largo arranha-céus. O teto do edifício onde se encontrava, uma grande circunferência com vários metros de raio, parecia ter capacidade para albergar um quarteirão inteiro. Uma pomposa fita vermelha, delicadamente bordada com um tecido rugoso, circundava o espaço central, vazio até agora, demarcando-o do resto do terraço. Dali, deixou-se perder nas tortuosas silhuetas da belíssima cidade nova de Los Angeles, que, no horizonte, maravilhava qualquer um que para ela olhasse, numa corrente arquitetônica atrevida e arrojada. A forte ventania, normalmente sentida nestas altitudes, cortava a sua respiração como uma faca cega, levando consigo, os seus pensamentos melancólicos.
O barulho ensurdecedor de um helicóptero, acordou-o do seu hipnotizante transe. Sem nunca chegar a pousar, ficando a cerca de dois metros do chão, Agash saltou do veículo, aterrando no piso esbranquiçado com a classe que o caracterizava. Tal como na noite anterior, usava um fato bem cortado e luxuoso, com reflexos esverdeados. O seu pomposo bigode, encontrava-se aparado e penteado, aumentando o seu ar aristocrático. Depois de tudo o que aconteceu, ainda aparou o bigode? Pensou Rami, irritado.
Meu caro Rami! Exclamou, com os braços abertos. Atrás de si, dois homens grandes e musculados, com óculos de sol a tapar os seus olhos, atentavam todos os detalhes envolventes. Eram apenas seguranças, mas, também eles, estavam vestidos com fatos elegantes e práticos, para qualquer eventualidade.
Não sabia que ainda se usavam. Comentou Rami, apontando para o helicóptero, que, cada vez mais, se distanciava nos ares citadinos.
É raro. Mas eu sou um homem de gostos requintados. Atirou, colocando um par de óculos de sol com a armação dourada, numa demonstração fútil da sua riqueza. Nas suas lentes espelhadas, conseguia ver o seu reflexo.
Já que vi sim. Retorquiu Rami, rispidamente. Porque estou num arranha-céus no meio da cidade? É aqui que vai decorrer o meu treino? Perguntou, perdendo a paciência a cada palavra que era proferida.
Sinto-te tenso, meu amigo. Terá algo a ver com a noite de ontem? Indagou, com um sorriso malicioso. Espero que não haja ressentimentos entre nós. Continuou, colocando a mão no seu ombro, num gesto fraterno. Afinal do contas, não fui eu que disparei a arma. Apenas te dei uma escolha.
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Ponto de Fuga - Dois Destinos
Ciencia FicciónO ano é 2316. Uma grande guerra intergalática com uma desconhecida civilização extraterrestre assola todos os territórios terrestres. Colónias inteiras são dizimadas em batalhas catastróficas e desumanas. Já no Planeta Terra, a tecnologia fervilha...