Reflexos

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Ano: 2330 (2 anos depois)

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Ano: 2330 (2 anos depois)

Local: Planeta Terra

O vazio absoluto de iluminação rodeava-o, como um amante eterno e saudoso, com o seu toque conhecido, mas letal. As suas arfadas encontravam-se pesadas, numa busca inglória por encontrar o ritmo certo, que aparentava não querer aparecer. Naquele momento, era um com toda a maldade execrável que pairava no cômodo, tornando-se na sua ferramenta mais mortífera, uma sombra indistinta de quem um dia fora. Enquanto permanecia ali, petrificado a olhar pela janela ensanguentada, rumo ao horizonte longínquo de Seattle, beijado pelas cores garridas que violavam a noite, viu o seu reflexo, esbatido na matriz envidraçada, sentindo o seu coração acelerar, em repulsa. Por fora, estou igual a ele...E quanto ao interior? Será que estou assim tão distante? Pensou, avaliando as suas mãos, pintadas com pinceladas caóticas do mais puro vermelho que já vira. O sangue de alguém inocente é mais garrido? Indagou, sabendo a linha que acabara de traçar. Já tinha matado todo o tipo de homens, das maneiras mais audazes e arrojadas que tinha visto. Já tinha torturado, esfolado e esventrado, ultrapassando os seus semelhantes em determinação, e, talvez, malícia. Contudo, nunca tinha roubado o último suspiro de alguém que não merecia, alguém que nada fez para merecer a sua ira, alguém marcado para morrer, apenas por ser filho do homem errado.

O que fizeste, Rami? Questionou Pete, aparecendo ao seu lado, via salto quântico. A sua expressão jovial, estava agora enegrecida pelas trevas que fitava.

O que precisava de ser feito. Admitiu, sentindo as suas palavras arderem, como o seu coração ferido. Eu avisei-o várias vezes. Porque não mudou a merda do voto? Indagou, dando um poderoso soco na janela. Uma corrente de pequenos cacos formou-se, como uma cascata brilhante, a desmoronar-se à sua frente.

Sabes que odeia o Agash. Nunca deve ter pensado que ias concretizar as tuas ameaças. Ponderou, desviando o olhar do cadáver sem vida, debruçado sobre os pés da cama.

Pensou mal. Desde que se lembra, nunca vertera uma lágrima, o seu irmão dizia que era sinal de fraqueza. Uma rachadela na armadura da alma, facilmente aproveitada pelos predadores atentos, famintos pelas entranhas da presa. Guiado por esse conselho, aguentou horrores e privações sem derramar uma gota que fosse, como um código nunca escrito que o orientava pelos trilhos acidentados da vida, rumo ao seu destino. Contudo, por mais forte que fosse, permitiu o impensável, deixando escapar o que nunca tinha deixado. Ainda que tivesse o capacete posto, não sendo possível para Pete observar, a sua fragilidade irritava-o, piorando toda a situação.

Porque não esperaste por mim? Quando cheguei à sede, já não estavas lá.

Porque ias tentar demover-me, e isso era impensável. Afirmou, de forma assertiva.

Não havia outra alternativa? Acabaste de matar um inocente em nome daquele ignóbil. Atirou, com a voz enfurecida. O que nos separa dos Colonizadores? Que linha divide o moral e o imoral?

Ponto de Fuga - Dois DestinosOnde histórias criam vida. Descubra agora