A Batalha de Saturno - Parte quatro

38 7 71
                                    

Ano: 2349

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ano: 2349

Local: Órbita de Saturno

Um, dois, três...um, dois, três...Merda, covarde! Por diversas vezes, tantas que já não sabia quantas, fez a contagem final da sua existência, procurando pela coragem recôndita que devia ter, mas não aparecia, por mais que pressionasse o cano contra a sua têmpora. Indagava o porquê de ser assolado por um temor tão ridículo quando confrontado com o esvanecer da sua vida, finalizada por sua conta e medida, numa tentativa definitiva de escapar ao seu hórrido fado, agora visível através do manto vítreo do tempo. Nunca foi adepto de fugir, de deixar os seus problemas para trás, enfrentando tudo e todos com a vontade imutável de um animal selvagem, desde que guiado por um bem maior, superior às linhas tênues da moralidade. No entanto, o que pensava fazer, em última análise, servia para salvar a vida da sua amada, por quem suspirou noites e dias sem fim, num lamento silencioso, mas audível, que ecoava pelos pavilhões desguarnecidos da alma desnuda.

Ao fim de alguns minutos, ou talvez horas, não sabia dizer, deixou o seu braço ceder, repousando, finalmente, o blaster no seu colo, numa inércia indomável, alimentada pelo fluxo infinito das lágrimas que jorravam pela sua face, aliadas ao balanço bizarro que as explosões da batalha proporcionavam, numa simbiose assustadora, mas deleitante. Ainda que inspirasse e expirasse, não conseguia respirar, ainda que observasse o escuro que o envolvia, não conseguia ver, ainda que sentisse os estrondos cada vez mais vibrantes, não conseguia ouvir, encontrando-se rodeado pela opressão da pior dor de todas, a dor do ser.

No entanto, quando pensava ter chegado ao fim da sua linha, desejando desligar-se da realidade feia e imunda que o beijava, um pequeno toque conhecido propagou-se por si, alertando-o para o presente do momento, por mais doloroso que ele fosse. Avaliando a origem do som, observou o seu dispositivo braçal, vendo uma chamada recebida do seu filho, sendo visível uma foto dos dois, que usava como imagem de contacto. Como uma luz explosiva capaz de violar a noite mais cerrada, foi inundado com um calor confortável, uma esperança forasteira que tinha vindo para ficar, puxando-o da sua melancolia taciturna. Se disparar, não matarei Tari. Logo, o meu filho nunca irá nascer. Pensou, com um impacto de um murro desgovernado, ganhando o ânimo necessário para se levantar.

Desejando com todas as suas forças que não fosse tarde demais, cambaleou pelos corredores da nave, da forma mais célere que conseguiu, embatendo contra a maioria das paredes que passava, numa tentativa desesperada de chegar a tempo. A sua cabeça parecia pesar uma tonelada, e pelos olhos encharcados de sangue via vislumbres do que o envolvia, no que parecia um carrossel, tamanha a maneira como tudo girava. Devo ter um traumatismo craniano. Pensou, levando uma das mãos à cabeça, de forma a melhorar a pressão sentida.

Quando se apercebeu, tropeçou no seu próprio pé, caindo desamparado no chão da ponte, onde todos pararam a azáfama existente para o fitar, de forma incrédula. Rami, o que te aconteceu? Quem te atacou? Questionou Pete, levando a mão à sua arma, em vigília.

Ponto de Fuga - Dois DestinosOnde histórias criam vida. Descubra agora