Ano: 2326
Local: Nave Espacial desconhecida de Classe M, galáxia de Andrómeda.
Cada imagem mental que captava daquela velha nave cortava o seu ser em partes pequenas demais para serem reconstituídas, como uma verdadeira assombração que retornou do inferno para o atormentar. Tantos anos tinham passado, tantas histórias e privações tinha vivido, tantas escolhas e arrependimentos, uma vida completa de memória vívidas, que no fim, não conseguiram fazer esmorecer as recordações daquele derradeiro dia. Reconhecia todos os corredores tortuosos e caóticos que fitava, em assombro, conseguindo replicar todas as emoções sentidas anos antes, quando era, apenas, o Rami sonhador e idealista. Parece que foi noutra vida. Pensou, enquanto os resquícios de humanidade presentes na sua mente eram inundados pelo sabor agridoce da melancolia.
Desde que soubera a verdadeira identidade do Imperador, tinha-se preparado para este dia, projetando cenários na sua cabeça de como as coisas iriam acontecer, mesmo já tendo acontecido. Por diversas vezes, sonhou ter a coragem e audácia de não cumprir o seu destino, permitindo a Tari que vivesse uma vida plena ao seu lado, no abraço que costumava completar todas as partes fragmentadas de si próprio. No fundo, não passavam de miragens utópicas de um tolo, propagadas pelos corredores da sua insanidade, como ervas daninhas que violavam a preciosidade de algo puro. Sabia bem como funcionavam as viagens no tempo, e não haveria nada a fazer em contrário. O que já tinha sido escrito, seria, novamente, reescrito, num ciclo infinito de causa e efeito, e não adiantava ponderar um cenário que fugisse a esse.
Meu Imperador, não conseguimos localizar a origem do sinal. Não há nada nesta pocilga. Disse um dos dois soldados que o acompanhavam na missão.
Impossível. Estás a insinuar que os nossos radares são defeituosos? Questionou.
N..não meu Imperador. Disse, entre gaguejos, o mesmo soldado.
Calmamente, andou uns passos para longe dos seus homens, pois receava não resistir à tentação de os matar se estivesse muito perto. Ainda vou precisar deles. Pensou. A raiva, fiel companheira desde muito cedo, crescia em si como rocha fundida num vulcão prestes a explodir. Cada dia que passava tinha mais dificuldades em domá-la. Era um monstro adormecido à espera dum deslize para acordar.
E há outra situação, Imperador. Disse o soldado ajoelhado, preparando-se para a resposta.
O quê? Gritou, virando-se para eles.
Uma nave está a aproximar-se daqui. Não demorarão muito a chegar. Devemos abandonar o local?
Quantas formas de vida? Perguntou, visivelmente mais calmo. Finalmente, chegaram. Pensou, notando as engrenagens do fado e moverem-se de forma precisa e cruel.
Seis, com o piloto.
Eles conseguem detectar os nossos sinais vitais?
Não, meu Imperador. A tecnologia deles é incapaz de rivalizar com a nossa. Disse o soldado que inicialmente tinha falado.
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Ponto de Fuga - Dois Destinos
Ciencia FicciónO ano é 2316. Uma grande guerra intergalática com uma desconhecida civilização extraterrestre assola todos os territórios terrestres. Colónias inteiras são dizimadas em batalhas catastróficas e desumanas. Já no Planeta Terra, a tecnologia fervilha...