Ano: 2328
Local: Ganimedes
Pelo seu profundo estado letárgico, conseguia sentir uma espécie de formigueiro, proveniente do seu braço esquerdo, como um resquício de vitalidade, há muito perdida. Abrindo os olhos, a custo, foi ofuscado por uma luz brilhante e cintilante, vinda de uma lâmpada acima de si. Tentando habituar-se à luminosidade, ajustou o seu foco da maneira que pôde, tragando tudo o que estava à sua volta. A sala, totalmente branca, tinha monitores dispostos por toda a parede, num caos sintetizado, comum das enfermarias que já tinha visitado. Quando reparou melhor, viu estar deitado numa maca, rodeado por médicos, que em azáfama, estudavam o seu membro magoado. Quando o fitou, viu três rasgões largos, com um comprimento compreendido entro o ombro e o cotovelo, mimetizando as grandes fissuras de um devastador tremor de terra. Pela mistura de sangue ressequido, com fresco, notou os pedaços de carne, pendurados, agarrados por um fio, como verdadeiros troféus numa casa de um talhante. A cada respiração dada, uma dor lancinante rasgava pelo seu corpo frágil, tomando a sua sanidade como troféu.
Sempre a mesma coisa, Rami. Ouviu, ao seu lado direito, a voz de Pete. Não sabes ser ponderado? Indagou, com um olhar inquisitório.
Já devias saber que não. Brincou Rami, cerrando os dentes, de forma a não gritar com a dor que sentia. Pelos vistos, funcionou. Constatou, sorrindo para o seu amigo. Não tinha outra solução, mas nunca pensou que o Xifério que lhe restava no tanque chegasse para o seu regresso a Ganimedes, deixando-se levar num verdadeiro salto de fé.
Tenho vindo a constatar que os teus planos tresloucados tendem a funcionar. Admitiu Pete, esfregando o queixo. Salvaste-nos a todos. Eu, pura e simplesmente, bloqueei. Lamentou, com um olhar cabisbaixo.
Não te recrimines demasiado. É mais normal do que pensas. Assegurou Rami, avaliando o trabalho dos médicos.
É intolerável, eu era o líder da missão. Atirou, com a raiva a desenhar as linhas do seu rosto. Devias ser tu, nasceste para ser seguido, é gritante. Elogiou, tocando no ombro de Rami.
Já o fiz, e não correu bem. Eu nasci para ser um guerreiro, nada mais. Afirmou, lembrando-se do dia em que perdeu Tari, onde era o líder da missão. Cada pensamento que tinha desse momento, cortava a sua esfiapada alma, deixando-a, cada vez mais, em farrapos irreconhecíveis.
Nem todas podem correr bem, meu caro amigo. Disse Pete, com tristeza no olhar.
O que aconteceu ao Regente? Lembrou-se, tentando levantar-se, levando tudo à frente. Ele chegou comigo?
Sim, tem calma! Pediu pete, segurando-o pelos ombros. Pouco tempo depois de eu saltar, viemos até à sala de treino, e lá estavas tu, com o anão. Atirou, em tom de brincadeira.
Como sabias que ia para a sala de treinos?
Já te conheço. Eram as únicas coordenadas que tinhas gravadas no teu sistema. Não és lá muito organizado. Gozou, soltando um ligeiro soco no braço de Rami.
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Ponto de Fuga - Dois Destinos
Ficção CientíficaO ano é 2316. Uma grande guerra intergalática com uma desconhecida civilização extraterrestre assola todos os territórios terrestres. Colónias inteiras são dizimadas em batalhas catastróficas e desumanas. Já no Planeta Terra, a tecnologia fervilha...