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Não revisado.

13 anos antes.

O garoto se esgueirava entre as sombras enquanto descia as escadas, os pequenos pés, cobertos por uma meia de bolinhas azuis, encostavam no mármore frio, em passos leves e silenciosos. Ao chegar no hall de entrada ele respirou, aliviado. Ele passou em frente ao espelho e correu em direção as portas do fundo. A mão infantil pousou na maçaneta, e segurando a respiração, ele empurrou. A porta fez um ruido, o garoto arregalou os olhos, e afiou os ouvidos para ouvir se alguém havia notado. Mas o castelo continuava em silêncio. Ele passou pela porta e a fechou, tentando manter o silêncio. O vento frio da noite o atingiu, e ele tremeu. A fina camada do pijama o fez ter vontade de voltar colocar um casaco. Mas ele ignorou o frio e se movimentou em direção ao que procurava. As árvores estavam secas pela chegada do inverno, e uma fina camada de gelo cobria a grama. Uma neblina encobria todo o jardim. 

A fita vermelha chamou sua atenção e ele se aproximou da árvore. Nox desamarrou a fita e olhou ao redor da árvore em busca do animal. Que ele não tenha ido embora. Que ele tenha ficado e gostado de mim. O garotinho pensava. Mas estava tudo vazio. Uma pontada de decepção o consumiu. Ele se agachou na grama seca e passou a mão no solo, em busca de rastros. Não havia nada. Era como se ele nunca tivesse estado lá. Nox se sentou com as costas apoiadas no tronco, e segurou as lágrimas. Seu único amigo não tinha ficado. Ninguém nunca ficava.

Ele esfregou os olhos tentando conter o choro e encarou as terras em sua frente. Estava tudo escuro, nem a lua iluminava aquelas terras, e o cheiro do medo sempre estava ali, Nox já havia até se acostumado.

Um dia irei para longe. Vou criar minhas próprias terras, meu próprio reino.

Os pensamentos o animaram. Ele já tinha tudo planejado. Quando fosse velho o suficiente ele iria para longe de seu pai e as Terras do Caos. Construiria um grande barco voador e iria para um mundo longe da Lua e do Sol. Sem o caos. Faria muitos amigos. Acharia uma mãe, uma pessoa para fazê-lo rir e o encher de carinho. E talvez teria até um animalzinho. As trevas nunca mais o assustariam. E quando esse dia chegasse, ele seria feliz, igual as crianças eram nos livros, que ele lia.

Nox se levantou animado, para colocar todos os seus planos em seu caderno, quando notou um vulto rápido passar ao seu lado. Folhas se levantaram e a grama se mexeu. O garoto tentou acompanhar a sombra com os olhos, mas ela se mexia com agilidade, em sua volta. A coisa o farejava e se fazia em uma presença quente. Nox deu dois passos para trás, se preparando para fugir, quando o vulto passou entre seus pés e ele caiu. Seu pequeno corpo foi ao chão, e o impacto o machucou. Ele fechou os olhos esperando pelo ataque, mas tudo o que ele sentiu foi um pequeno peso em cima de seu estomago. Ele soltou um resmungo assustado, e abriu os olhos. O rosto preenchido por escamas pretas o encarava, com ansiedade.

-Ah, você está aqui. – O garoto exclamou feliz.

Era a criatura, que ele tinha achado na outra noite. Havia grandes olhos azuis, a pele escamada em preto, dois pequenos chifres de um tom mais escuro que preto, uma língua roxa, e de sua boca as vezes soltava pequenas chamas. Nox havia prometido trazer comida para seu novo amigo.

-Calma, calma. – falou, enquanto levantava as mãos tentando acalmar o animal, que movia o rabo em ansiedade.

A criatura sentou com as patas traseiras, e seu rabo se mexeu ansiosamente.

-Tudo bem? Eu pensei que você tivesse ido embora, ou que meu pai tinha te achado e... -Nox se perdeu nas palavras, mas continuou. – Ah, não importa. Eu trouxe comida. – Ele tirou do bolso, três folhas de ouro, e jogou em direção ao animal, que comeu afobada.

Herdeira da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora