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não revisado.

20 anos depois

A herdeira caminhava apressadamente, suas botas de couro faziam um barulho alto, que ecoava pelo grande corredor do castelo. As grandes colunas de pedra formavam um grande arco que permitia a entrada de luz no corredor, e o cheiro de ar fresco estava por toda parte.

Asterin respirou e sentiu o nervosismo correr pelas suas veias, aquele era o dia da última audição com seu pai, antes da garota se tornar rainha de Lourien.  Os gritos e comandos, que o rei dava de dentro da sala do trono, eram audíveis de qualquer lugar, aquilo era um indício do péssimo humor do rei, e a princesa sabia que se arrependeria de falar com seu pai assim que proferisse algumas palavras.

Se aproximando da grande porta, um dos guardas fez uma breve reverência e anunciou sua presença ao rei, a garota deu um meio sorriso ao guarda, como um agradecimento. Ela respirou fundo uma última vez e adentrou o salão. O rei estava sentado, no meio da sala, no trono roxo com detalhes prateados. Usava uma coroa de prata e sua bengala preta estava apoiada em seu lado, seu rosto ficou inexpressivo assim que notou Aster entrar no cômodo.

A garota fez uma reverência e olhou novamente nos olhos negros de seu pai.

-O que você quer, Asterin? - a voz do rei saiu ríspida e fria, esse era o modo como ele sempre tratara a herdeira. 

-Bom dia, fui informada sobre uma fuga de dourados, um grupo de aproximadamente cinco pessoas fugiram da prisão das sombras. Essa operação nos custou quatro soldados, e há um rumor entre o comercio de que os dourados que sobreviveram estão se reunindo e pretendem pegar a parte que lhes pertence. 

-Aqueles arrogantes com magia do sol, não existem parte que lhes pertece. Tudo pertence a mim. Não me venha com esses problemas tolos, os dourados não iram conseguir governar Lourien novamente, o sol está enfraquecido, e os herdeiros do império solar mortos. E soldados morrem todos os dias, não são para isso que são treinados? – o rei perguntou com deboche.

O rei de Lourien, seu pai, é um homem frio e detestável. Não importa em quem ele tenha que pisar para ficar no poder, ele faria. Todos temiam a sua raiva, mas no fundo ele era apenas um homem mimado, que por ter nascido da lua e possuir poderes mortais, acha que todos devem se curvar perante ele. 

A garota suspirou e decidiu concordar, sabia que discutir com ele só faria ela ser punida por ser insolente.

-E o seu treinamento? A sua magia, já consegue controlá-la?

Aster treinava todos os dias, como herdeira do império ela deveria saber manusear uma espada e controlar seus poderes. Seu pai dizia que a magia dela devia ser controlada, porque ninguém com muitos poderes conseguiria carregar o coração se Lourien. Então, Aster nunca aprendeu como usar, apenas com manter presa ao seu corpo.

- Meu treinamento vai bem, estou perto de finalizá-lo. E sim, já consigo controlar. Estou pronta para minha coroação.

-Eu sei que está- O rei sorriu com um brilho perverso nos olhos. - Será em duas semanas. Continue treinando e não me decepcione.

A herdeira assentiu e se virou em direção a porta prateada. Bom, aquilo foi melhor do que ela esperava.

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Aster sabia que nunca conseguiria ir contra a palavra de seu pai. O rei era poderoso, estava no poder a anos, ele conseguiu acabar com o amanhecer e estabelecer a noite. Aster nasceu no meio da guerra, e desde que se lembra a garota nunca viu um dia completo, os dias nunca mais duraram 24h, o sol aparecia apenas por algumas horas, antes de dar lugar a lua novamente. Tudo o que existia agora era a noite e a escuridão. Não que a garota se importasse, ela odiava os dourados e tudo o que eles representavam, haviam assassinado sua mãe. 

Asterin desejava o trono com toda a sua alma, teria vingança por aqueles que foram tirados dela anos antes. Ela tinha certeza de que seria uma rainha melhor do que qualquer um. Ela tinha que ser. A princesa acreditava que conseguiria fazer Lourien um lugar melhor, mesmo que para isso tivesse que terminar de exterminar os dourados, e aqueles que fossem contra ela.

Uma batida na porta tirou Aster de seus devaneios, ela olhou para porta e viu Eyra, sua criada e única amiga, entrando com uma bandeja de chá.

-Boa noite, grande rainha de Lourien – disse Eyra com ironia enquanto colocava a bandeja na mesa. - Eu sei que você teve um dia exaustivo então eu fui para a cozinha preparei o seu chá, seu favorito.

-Obrigada, Eyra. Minha salvadora.  -Aster falou enquanto revirava os olhos e ia em direção a mesa que havia no centro de seu quarto.

Eyra era o mais próximo de uma amiga que Aster tinha, a criada sempre a mimava e estava a apoiando durante as suas fugas do castelo. Aos dez anos, Eyra e Aster se tornaram amigas, pois a garota foi trabalhar no castelo como ajudante de cozinheira. No momento em que trocaram as primeiras palavras, Aster já sentira que seria amigas para sempre, ou enquanto elas vivessem. Eyra era uma mortal, tinha os olhos castanhos e brilhantes, seus cabelos eram ruivos e curtos, e ela tinha um rosto em formato de coração que a deixava adorável.

-Precisa de mais alguma coisa, ou essa mera mortal pode ir?

-Não preciso de mais nada, mas uma partida de xadrez mágico não me entediaria.

-Odeio jogar xadrez com você, nunca consigo ganhar- Eyra comentou e se jogou na grande cama prateada da princesa.

-Dessa vez eu deixo você ganhar, eu juro. -Aster se aproximou da amiga e estendeu a mão.

Eyra olhou para a herdeira com os olhos semicerrados e disse:

-Eu não acredito em você, sua mentirosinha das estrelas.

Aster gargalhou e puxou a amiga em direção a mesa de xadrez. Elas jogaram e riram pelo restante da noite. E assim Aster esqueceu a conversa desastrosa que tivera com o pai mais cedo. 

Herdeira da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora