capítulo sete.

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Boa leitura! 

Mesmo com o passar das últimas duas décadas tendo tornado as coisas gradativamente mais difíceis, o reino de Lughari não perdera seu encanto. Assim como Lunari, mantinha vastos campos floridos, a infertilidade parecendo propositalmente apossar os pedaços de terra dedicados ao plantio dos itens de subsistência, e de nada adiantava tentar produzir alimentos em loteamentos não adequados àquela agricultura, simplesmente não trazia frutos, apenas desperdício de mão-de-obra e tempo – era como se tudo aquilo estivesse sobre ordens do divino ou sobre algum encantamento, e bem, talvez estivesse.

Lughari era um lugar bonito e naturalmente ensolarado, e no mês de agosto no auge do verão isso se tornava ainda mais notável. Em uma tarde quente com pouco vento, Gemma Styles podia ser vista no jardim do castelo. Aos dezessete anos a jovem princesa exalava altivez. Sua postura e inteligência traziam à garota grande potencial como governante. Gemma estava linda posando naturalmente no gramado, com seus grandes olhos castanhos com nuances verdes, cabelos marrons grossos e volumosos, e uma pele branca que estava agora um pouco avermelhada devido ao sol forte da estação. Apesar de não saber, era muito parecida com o irmão mais velho.

Em meio àquela vastidão verde ela foleava um livro calmamente. Seu corpo era coberto por um vestido salmão claro quase da cor de sua pele, de tecidos leves e que deixavam seus ombros nus. Ao seu lado esquerdo havia um pequeno cultivo de girassóis, essa era uma das distrações da rainha Anne. Quando descobriu estar grávida de Edward a mulher sentia estar vivendo um grande milagre, então fez uma promessa ao deus Hélios de que se seu bebê nascesse bem e saudável ela cultivaria as flores – que eram um signo, também, do astro majestoso quem regia aquele povo – enquanto vivesse, e esse seria o símbolo da vida do príncipe. E ela o fez, não deixou de cuidar da pequena plantação um dia sequer. Isso de algum modo a fazia sentir que seu filho estava vivo e ela tinha o poder de guardá-lo.

Gemma estava distraída e não notou sua mãe se aproximar.

— Olá, querida. – a mais velha se senta ao seu lado, quase atrás dela. Apesar de ser uma mulher já madura é estonteante, os filhos definitivamente se pareciam com ela, tanto na beleza da aparência quanto na da alma.

— Oi, mamãe. – sorriu. — O que faz aqui? Veio cuidar das flores?

— Não, já fiz isso hoje. Apenas te vi pela janela e quis me juntar. Atrapalho?

— Não, claro que não. Estava apenas lendo.

— Posso saber o que?

— Romeu e Julieta, Shakespeare. – Anne olhou confusa.

— Por que não consigo te imaginar fazendo uma leitura como essa? – deu uma risada pequena.

— Bem, não é realmente meu gênero predileto, iniciei a leitura por conta de uma citação. Shakespeare é ótimo de qualquer maneira.

— Qual a citação? Onde a leu?

A princesa ficou em silêncio por alguns instantes parecendo ponderar o que diria a seguir, deixando a rainha ainda mais perdida.

— Mamãe, posso lhe mostrar uma coisa? – sua voz soava acanhada.

— Claro, há algo de errado? – a mulher a encarou preocupada.

— Não, apenas quero que seja um segredo nosso. – a rainha acenou positivamente com a cabeça. — Se lembra do Baile de Verão para o qual fui convidada no início de julho?

— Sim, eu me lembro.

— E-eu – suspirou profundo. — Eu conheci alguém lá e agora recebi uma carta.

Anne se espantou um pouco com a informação. — Eu não estava esperando por isso. – ficou quieta alguns segundos. — Eu posso ler?

A jovem concordou e retirou um pedaço de papel dobrado em três partes de dentro do livro que segurava. Anne passou a ler a carta atenciosamente enquanto Gemma tinha um olhar apreensivo sobre ela. No final da página algo chamou ainda mais sua atenção.

Eclisse | L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora