8. PEQUENA KMRY

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— Freesia — Joshua murmurou enquanto caminhava de volta para Craobhan. — Combina com ela, tem cheiro de frésias.

Ele andava sem sequer prestar atenção onde estava, era instintivo, como se tivesse conhecido aquele caminho por toda a sua vida. A conversa com Freesia, longe de saciar sua curiosidade, aumentou nele a necessidade de saber mais. Sem dúvida voltaria no dia seguinte, afinal, se o bosque permitiu que ele fosse guiado pela música desconhecida e pelo cheiro de frésias até os carvalhos, tinha que ter um motivo.

Andou sorridente por cerca de meia hora, então algo mudou nos sons do bosque. Os pássaros pararam de cantar, assim como as cigarras. Era como se Joshua tivesse ficado completamente sozinho.

O barulho de folhas farfalhando o fez parar de andar.

De repente, um grande animal pulou do meio dos arbustos e Joshua arfou, dando um passo atrás. Ele parecia uma mistura de puma¹ e raposa, com enormes dentes afiados parecidos a adagas.

Apesar de sentir medo, Joshua não podia ignorar a beleza estranha do animal. O corpo era como de um felino selvagem com patas enormes e garras retráteis, mas a cabeça era como de uma raposa alpina² anormalmente grande. Seus pelos eram espessos e totalmente brancos, e a criatura agitava uma calda longa com um tufo de pelos na ponta.

Joshua ouviu um grunhido que lhe enregelou os ossos. Olhou ao redor, à procura de alguma coisa para se defender, pois não conseguiria fugir daquela criatura ameaçadora. Rapidamente abriu a maleta para pegar uma seringa, não era bem uma arma, mas a agulha machucaria.

Então a voz de sua mãe veio em sua mente.

“Nunca machuque um ser vivo ali dentro, seja animal ou planta, respeite a vida.”

Ele ficou em dúvida. Olhou para o animal que se aproximava, ainda grunhindo.

O que deveria fazer? Deixar-se ser morto por aquela criatura híbrida?

Outra vez a voz de sua mãe invadiu sua mente.

“Você vai ser testado e às vezes vão tentar te manipular, mas você não deve permitir...”

Novamente Joshua encarou o animal, que já estava a um metro e meio de distância dele. Os dentes afiados como adagas estavam expostos e ele parecia prestes a atacar.

Com o coração martelando, disparado de medo, Joshua falou:

— Calminho, garoto... Josh é amigo.

O animal rosnou mais forte e se aproximou um passo. Era assustador vê-lo de tão perto, pois nas quatro patas ele tinha quase a altura do rapaz de 1,85 m.

Então uma ideia passou por sua cabeça. Aquela coisa convivia com as ninfas sem ser morta, afinal sua mãe disse que não devia machucar nenhum ser vivo do bosque e se ele não devia é porque as ninfas também não machucavam... E sua mãe também disse que nem tudo é o que parece, então... Não custava tentar.

Ele pegou uma sacola com amoras e estendeu para o animal cheirar. A criatura cheirou e bateu com o focinho na sacola, jogando no chão. Joshua levou a mão tremendo até a maleta e pegou um pão com queijo de cabra e uma maçã. De novo o animal cheirou, e dessa vez quase engoliu a mão de Joshua ao abocanhar o pão.

Ao terminar, ele cheirou Joshua e cutucou sua mão com o focinho. Entendendo que ele queria mais, o loiro pegou os outros dois sanduíches com queijo que tinha na maleta e jogou para ele, que os devorou antes que caíssem no chão.

— Desculpa, amigão, acabaram os sanduíches — ele disse quando o bicho voltou a cutucá-lo com o focinho.

O animal rosnou, mas depois cheirou a maçã no chão e a comeu. Joshua notou que os dentes afiados se retraíram e outros mais grossos e menos assustadores apareceram no lugar quando ele comeu a maçã, em seguida devorou também as amoras, rosnando quando Joshua o impediu de comer a sacola.

No Coração do Bosque ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora