Londres, 2005
Algumas semanas se passaram desde o acidente na escola. Isla decidiu ensinar sua filha a se conectar com a natureza. Sabia que a menina precisaria hibernar e passar pelo desabrochar antes de ter seus poderes no nível máximo, porém o pouco que ela já conseguia usar poderia fazer um estrago, então ela precisava treinar.
Todos os dias Julia passava pelo menos duas horas na estufa com sua mãe, aprendendo a manipular raízes e galhos, deixando as pétalas das flores viçosas e brilhantes, ajudando as plantas a crescerem e se desenvolverem para ficarem mais bonitas...
— Tem muito a ver com os seus sentimentos, minha florzinha — Isla explicou. — Quando ficamos com muita raiva, as plantas tendem a seguir nossos instintos de ferir quem está nos ferindo. Se estamos com medo, elas vão se proteger de qualquer maneira, até podem se tornar armas letais. Se estamos alegres, elas podem dançar conosco ou simplesmente se moldar para nos acomodar em seus galhos e troncos.
Ela mandou a menina se sentar perto de uma roseira alta com rosas de todas as cores possíveis.
— Não tenha medo dos espinhos. Confie que a roseira não vai te machucar, porque quando nós amamos a natureza, ela nos corresponde.
A menina respirou fundo e acariciou as pétalas de algumas rosas antes de se sentar perto das hastes espinhosas. Ela inalou o perfume delicioso das flores e sorriu, fechando os olhos. Em alguns segundos, sentiu como se algo macio se moldasse ao seu corpo, aninhando-a em um abraço.
Surpresa, abriu os olhos e viu sua mãe sorrindo, foi então que notou que as hastes das rosas retraíram seus espinhos e se moveram para formarem uma proteção macia para ela. Sorrindo, ela se deixou relaxar e acariciou novamente as flores.
Isla deixou que a filha aproveitasse o carinho das flores, pois diferente do toque humano que a incomodava, o toque das flores era muito bem recebido pelo corpo da pequena dríade mestiça.
Hamish apareceu na entrada da estufa. Era sábado, ele tinha folga do trabalho. Admirou sua filhinha naquele momento que tanto o lembrava dos momentos que passou com Isla no bosque antes de ser exilado, e suspirou, pensando em seu filho. Faltavam apenas duas semanas para o aniversário de vinte e cinco anos dele e o peito de Hamish doía por não saber se Joshua estava bem.
Três semanas antes, Isla ligou para ele no trabalho, dizendo que sentia uma angústia muito grande, que algo devia ter acontecido com seu filho, pois não sentia mais a energia vital dele quando se conectava à parte de seu carvalho que estava na estufa.
Menos de uma semana mais tarde, eles receberam a visita do chefe do Joshua junto com um ruivo grandalhão que Hamish não precisava perguntar para saber que era de seu país natal. O homenzinho careca falou primeiro, explicando que houve um acidente na segunda excursão do grupo no bosque. O ruivo que se apresentou como Aindreas Hunter completou o relato dizendo que, infelizmente, dois homens do grupo morreram, um ficou ferido e Joshua desapareceu, provavelmente estava morto também.
Isso abalou o casal, que decidiu esconder o acontecido da pequena Julia a todo custo, pois em um surto de dor, a menina poderia destruir todo o prédio onde a família morava e atrair atenção indesejada para eles. Na verdade, Hamish estava surpreso que ninguém houvesse percebido de onde partiu a destruição da escola onde ela estudava.
Depois de chorar muito, Isla procurou consolo nas raízes de seu carvalho e sentiu um fio de energia que vinha do bosque, como se Joshua estivesse no território dos carvalhos reais, tentando se recuperar. Ela sentiu o quão debilitada estava a energia dele, quase esgotada, mas ainda havia esperança, ele lutava para viver.
Isla se conectava às raízes todos os dias para sentir a energia de seu filho. Não entendia o que havia acontecido nem como ele ficou tão ferido a ponto de quase morrer, mas sabia que as ninfas o tinham resgatado e feito a ligação dele com a sua árvore-mãe, pois isso era algo que ele jamais poderia fazer sozinho. Não havia certeza de que ele sobreviveria, ela sabia apenas que ele estava lutando, ficando mais forte a cada dia, ainda que fosse pouco para garantir sua vida.
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No Coração do Bosque Proibido
FantasyJoshua Wood cresceu ouvindo que jamais deveria entrar no bosque que delimitava o quintal de sua casa. Aos nove anos ele teve uma experiência que o fez viver sem saber se aquilo realmente aconteceu ou se foi sua imaginação de menino. Muitos anos depo...