41. NO MUNDO HUMANO

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Hamish andou pelas ruas abarrotadas de Edimburgo, observando atentamente seus conterrâneos. Mesmo com seus 1,94 m de altura e o corpo musculoso de quem está habituado a trabalhos braçais, o moreno barbudo não se destacava na multidão de outros escoceses grandalhões trajando kilts casuais.

Os nativos costumavam ter um porte maciço, eram altos, muito brancos, e mesmo aqueles não agraciados com as características titânicas dos homens escoceses, eram facilmente identificáveis pela linguagem, pois o sotaque tornava o inglês deles difícil de entender pelos turistas. Além disso, uma grande parte deles, especialmente os que se mudaram das Terras Altas para a capital escocesa, escolhia falar o gaélico escocês entre si, para não serem entendidos pelos estrangeiros.

Naquele lugar, Hamish era só mais um escocês parrudo usando kilt com sporran (bolsa de pelos), blusa branca, colete preto, meiões e sapato de couro. Só mais um escocês comemorando o festival de verão. Exceto que, se algum conhecedor da cultura do tartan tradicional o observasse com atenção, veria que o padrão quadriculado em verde, preto e branco sobre um fundo vermelho sangue era o tartan exclusivo de um dos clãs mais antigos das Terras Altas, atualmente raríssimo, pois era usado somente por aquele escocês comum e seu filho, que agora não o usava mais.

Na esquina de uma praça, ele parou, olhou ao seu redor, e se apressou para ficar camuflado em meio à multidão de homens com rostos afogueados devido ao consumo livre dos mais diversos uísques produzidos na cidade.

Atento a tudo, ele seguiu para o meio da praça, onde uma mendiga ficava sentada sob uma árvore pedindo esmolas. Parecia uma cigana muito pequena, com um vestido colorido esfarrapado e um véu que lhe cobria os cabelos e o rosto enrugado. Não era comum encontrar pessoas nessa situação ali como era em Londres e outras grandes cidades, por isso ele soube que aquela era exatamente a figura que sua esposa lhe pediu para buscar.

Ele se aproximou, colocou a mão no sporran e puxou algumas moedas, estendendo-as para a mulher, que pegou o dinheiro em uma caixinha de madeira. Ao ver entre as moedas um botão de lótus dourado, a mulher olhou para cima, observando o rosto do homem à sua frente.

Ela grunhiu e falou para que só ele ouvisse:

— Não tenho negócio algum com ninfas. Deixe-me em paz, dríade.

Já esperando por aquela resposta, Hamish soprou nela um pó marrom feito de pólen e ervas soníferas. A mulher caiu em um sono profundo, então ele a recolheu nos braços junto com sua caixa de moedas e a levou pelo meio da multidão para um beco. Entorpecidos como estavam os escoceses pela alegria do festival, não acharam estranha aquela cena, pelo contrário, quando o festival chegava ao ápice, não era tão incomum ver mulheres que bebiam até cair e saíam carregadas das festas por seus parentes.

Hamish chegou ao beco, onde uma figura feminina encapuzada esperava por ele. Isla conjurou um portal que os levou para uma casinha nos arredores da cidade. Ali, a dríade mandou seu marido colocar a duende em uma cadeira, onde prendeu-lhe os braços com cipós vivos.

Isla murmurou algumas palavras e a feérica na cadeira acordou. Assustada, olhou ao redor e gritou quando viu a dríade de olhos amarelos à sua frente, com flores de lótus multicoloridas em meio aos filetes dourados dos cabelos.

— Isso é impossível! O clã dos carvalhos reais foi extinto! Não existem mais descendentes de Cibele!

— Nós duas sabemos que isso não é verdade, duende! Você sabe que existe um dríade real de cabelos vermelhos exilado no mundo humano, e sua filha, muito parecida comigo, jamais se afastaria dele. Quero saber onde estão.

A mulher balançou a cabeça negativamente.

— Eu não tenho negócios com ninfas! Não tenho negócios com Zéfira nem suas crias...

No Coração do Bosque ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora