Joshua acordou ouvindo os sons da natureza.
Rolou na cama, pensando em quanto tempo fazia que ele não acordava assim. Em Londres, o som matutino predominante era o do trânsito e de milhões de pessoas em suas atividades diárias. Era tão barulhento que ele se acostumou, já não se incomodava com isso.
Agora, na parte mais distante do seu país, onde pessoas simples tinham uma vida pacata, ele percebeu que sentia falta da calmaria e do silêncio cortado pelo som dos pássaros na primavera, quando as árvores floresciam e alguns animais nativos faziam suas aparições.
Ele se espreguiçou e foi até a janela, lembrando da noite anterior. Hesitante, abriu a janela para ouvir a música sussurrante, mas não havia nada além dos sons de pássaros, insetos e o vento balançando a espessa folhagem das árvores.
Um movimento chamou sua atenção para o lado direito, no limite das árvores. Viu um pequeno mamífero de pelo avermelhado, um esquilo vermelho, típico de toda a Escócia, que tentava entrar em um minúsculo buraco em um tronco, levando consigo uma bolota, fruto dos pinheiros.
Enquanto ele observava, viu algo difícil de compreender.
Um fino galho da árvore ancestral se moveu, mas não na direção que o vento soprava, e sim para baixo, onde o esquilo estava entalado. Joshua pensou estar delirando quando o galho folhado deu um leve empurrão no esquilo, fazendo-o entrar no tronco. Foi muito rápido, questão de dois ou três segundos.
Balançando a cabeça como se assim pudesse clarear a mente, ele se afastou da janela, murmurando:
— Eu ainda tô dormindo. É isso, só pode ser isso, porque aquilo é impossível.
Ainda resmungando, ele foi até a cozinha buscar algo para comer. Cavou entre suas compras do dia anterior e pegou aveia para fazer porridge¹. Isso era algo que turistas geralmente rejeitavam ou não gostavam ao experimentar por achar sem-graça, mas ele cresceu comendo e adorava.
Ao terminar de preparar seu desjejum, ele pegou amoras, cortou e jogou na tigela de porridge, começando a comer enquanto pensava em como passaria o dia, pois a primeira excursão da equipe no Bosque Proibido seria apenas no dia seguinte, afinal estavam todos descansando da longa viagem, precisavam estar bem-dispostos para trabalhar.
Pensou na cena que vira alguns minutos antes e coçou a cabeça. Aquilo não podia ser real. Já era difícil acreditar que ouvia vozes do bosque chamando por ele, mas agora árvores que se moviam como se tivessem consciência? Isso era demais para processar, até para ele.
Passou as próximas horas desfazendo a mala e organizando seu material de trabalho. Considerou ir para a rua principal do vilarejo passear, quem sabe rever seus amigos, mas era como se seu corpo fosse atraído na direção oposta. Sua mente dizia uma coisa, mas o corpo não queria obedecer.
Algum tempo depois, bateram à porta. Joshua ficou surpreso quando a jovem Olívia Milne apareceu segurando uma cestinha coberta da qual saía um cheiro delicioso de biscoitos recém-assados.
— Bom dia, Joshua — ela disse, vermelha de vergonha. — Minha mãe pediu que eu trouxesse esses shortbreads. É o presente de boas-vindas dela.
— Obrigado, Olívia, é muito amável da parte dela.
A garota loira assentiu, olhando para os próprios pés e pigarreando.
— Ela também pediu que você aceitasse um jantar lá em casa. Você pode escolher o cardápio: haggis², torta de carne ou salmão.
— Oh... — ele falou, engolindo em seco. — Tudo... tudo bem, ah... Diz pra ela fazer o que achar melhor, eu sempre gostei de qualquer coisa feita por ela.
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No Coração do Bosque Proibido
FantasyJoshua Wood cresceu ouvindo que jamais deveria entrar no bosque que delimitava o quintal de sua casa. Aos nove anos ele teve uma experiência que o fez viver sem saber se aquilo realmente aconteceu ou se foi sua imaginação de menino. Muitos anos depo...