40. INFORMAÇÕES DEMAIS

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Joshua olhava de boca aberta para aquele animal de escamas multicoloridas. Poucas vezes vira representações de hipocampos em livros de mitologia, mas nada o havia preparado para a realidade de ter um desses na sua frente, esfregando o focinho em sua mão.

— Viu só como ela é linda? — a voz aguda de sua irmã estava um pouco baixa, como se estivesse intimidada pela quantidade de ninfas aquáticas que os estavam observando.

— Sim, ela é incrível... — Joshua murmurou.

A kaemera aquática se agitou quando sua protegida se aproximou, batendo as barbatanas e espirrando água nos irmãos.

— Você gostaria de mergulhar com ela, príncipe? — Hellikon perguntou, sorrindo.

— É claro — ele respondeu.

— Basta pedir. Converse com ela. Nessie gosta de companhia e entende tudo que você fala. Diferente dos animais comuns guiados por instintos, kaemeras pensam, raciocinam como pessoas. Elas podem se comunicar com quem esteja disposto a aprender sua linguagem.

Para mostrar de forma prática o que acabara de falar, Hellikon olhou para Nessie e fez um som no fundo da garganta, que se parecia com o som produzidos pelas baleias dentro d'água. Nessie respondeu com um som semelhante e um aceno da barbatana direita.

Hellikon fez outro som e um gesto de onda, ao que Nessie respondeu dando três batidas rápidas na superfície da água com a ponta de sua cauda e com um som mais longo, parecido a um lamento.

Joshua percebeu a diferença de timbre e de tempo entre os sons produzidos pela kaemera e sua ninfa, e concluiu que esses era um padrão de linguagem bem estabelecido entre elas.

— Uau! Eu gostaria de aprender a linguagem das kaemeras para entender o que a Kmry e o Noktu dizem.

— Ah, nisso eu não posso ajudar porque a Nessie é aquática e o padrão de linguagem dela é diferente das kaemeras terrestres. Nós, seres aquáticos, usamos órgãos diferentes para nos comunicar, com funcionamento e sons distintos. Esses sons podem se propagar debaixo d'água e servir para localização, caça e outras funções. Você terá que aprender a linguagem da Kmry observando os sons que ela faz, suas expressões e gestos comuns, até conseguir estabelecer uma comunicação satisfatória entre vocês.

— Isso parece muito difícil. Como você conseguiu?

Hellikon sorriu e encolheu os ombros.

— Nessie me escolheu há duzentos anos. Nós tivemos muito tempo para aprender a nos comunicar.

O lado humano de Joshua, mesmo tendo praticamente sumido de sua mente, ainda achava difícil assimilar a noção de tempo entre os feéricos. Como o fato de que uma ninfa de vinte e cinco anos mal podia ser comparada a uma humana de dezesseis e um feérico bem idoso podia ter até quatro séculos de vida.

E além de toda a longevidade dos feéricos, as kaemeras ainda podiam viver por setecentos anos ou mais. Isso era loucura se comparado aos animais comuns.

Joshua suspirou e encarou novamente a kaemera.

— Eu não sei falar a sua língua, Nessie, mas já que você me entende... Eu gostaria de mergulhar com você, se me permitir.

A kaemera soltou um assobio curto e bateu a nadadeira na água.

— Ela está dizendo que será uma honra mostrar o nosso mundo a você e à princesa Julia.

Julia bateu palmas e deu pulinhos de alegria, fazendo com que as ninfas que a observavam rissem e suspirassem diante da alegria e fofura da garota.

Rapidamente, Joshua ajudou sua irmã a subir no lombo de Nessie e subiu atrás dela. Com algumas instruções de Hellikon sobre como segurar na crina do animal sem machucá-la, Joshua garantiu que sua irmã estava segura antes de Nessie começar a se mover para a parte mais funda do lago, e então para a saída estreita que ia se abrindo até se tornar um lago de tamanho colossal.

No Coração do Bosque ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora