Julia dormia profundamente, amparada pelos braços fortes de seu irmão.
Algumas horas antes, enquanto ela brincava com as kaemeras e as ninfas aquáticas no lago, Joshua teve uma longa conversa com Kelpie, e tão logo os outros componentes do Conselho Sagrado acordaram, Freesia convocou uma reunião na sala do trono.
Kelpie mostrou o livro de feitiços e contra-maldições que havia escrito com Eilean e o deu nas mãos da Tnker Zorl, explicando como a dríade real quebrou sua maldição, transformando-a novamente em uma náiade comum e dando a ela a responsabilidade de ser guardiã da pequena Julia até que seu corpo voltasse às águas onde foi formada.
Joshua ouviu atentamente a explicação de que seus pais não poderiam voltar para Grradhy até que ele fosse coroado e sua conexão com Freesia fosse selada. Só assim, com a garantia de um herdeiro num futuro próximo, Freesia poderia, como a nova Grande-Mãe, autorizar o retorno de sua sogra e a ligação de seu sogro com as terras mágicas.
Ficou surpreso ao constatar o poder de sua mãe e tudo que ela fez com Kelpie apenas para dar ao seu povo outra forma de defesa. E pensar que ele passou a vida toda achando que sua mãe era apenas uma simples professora de meia idade que criava seus filhos para se tornarem cidadãos de bem na sociedade londrina...
E a verdade era que ela os protegia de todo perigo sobrenatural enquanto se preparava para mostrar a eles a verdadeira natureza de sua família. Segundo Kelpie, mesmo que ele não tivesse voltado a Craobhan e conhecido Freesia, àquela altura, por causa da idade dele, Isla teria contado tudo sobre o mundo feérico. A diferença é que ele seria mais cético do que foi ao entrar no bosque pela primeira vez.
A reunião demorou cerca de duas horas, e embora se sentisse contente quando Freesia o tocava, seu coração estava pesado por causa do perigo que Julia corria devido ao poder desenfreado que cresceu nela nos últimos meses.
Não haveria treinamentos para o príncipe aquela noite, pois era uma caçada de lua nova e as caçadoras estariam ocupadas enquanto ficava para os guerreiros a função de proteger os territórios da tribo.
Joshua, por sua vez, tirou a noite de folga, pois desde que soube que sua irmã passaria anos hibernando e, portanto, ele não poderia vê-la, não quis mais se separar da menina. Ele mandou buscá-la no lago após a reunião e aproveitou cada momento com ela. Mostrou seus dons e ouviu a garota contar de quando a professora foi malvada e ela acabou, sem querer, controlando as árvores de todo o arredor da escola.
Os irmãos conversaram muito, contaram suas próprias histórias fantásticas, brincaram de pega-pega, esconde-esconde, e Freesia ficou extasiada quando sua pequena cunhada quis brincar de boneca com ela, apesar da menina só ter levado em sua sacola impermeável uma boneca muito usada e de cabelos endurecidos pelo tempo.
Os feéricos de Grradhy observavam sua futura rainha com um brilho de encanto nos olhos. Ela era como um sopro de ar puro que afastava a névoa de preocupação que a profecia sobre um grande mal havia deixado na mente do povo.
A pequena dríade representava esperança. Era mais um reforço de que o clã do carvalho real não havia sido exterminado. Que eles não eram apenas uma lenda. Eram a família original da realeza, descendentes de Marleg, a primeira Grande-Mãe da tribo, que protegeu o povo quando estava em grave perigo de extinção e garantiu que os feéricos daquela tribo pudessem viver em paz longe de humanos destruidores, estabelecendo, assim, uma forma de proteção que foi adotada por todas as tribos da Europa, Américas, Oceania, e algumas da África e Ásia.
A cada risada da herdeira real, o ânimo do povo se renovava. Eles estavam mais alegres, risonhos, e até os treinamentos em todo o território da tribo estavam mais proveitosos e divertidos.
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No Coração do Bosque Proibido
FantasyJoshua Wood cresceu ouvindo que jamais deveria entrar no bosque que delimitava o quintal de sua casa. Aos nove anos ele teve uma experiência que o fez viver sem saber se aquilo realmente aconteceu ou se foi sua imaginação de menino. Muitos anos depo...