Enquanto Adrien almoçava, Marinette comeu de pé mesmo perto da pia da cozinha. Por mais que Maria insistisse para que a menina almoçasse sentada à mesa, ela preferia dessa forma. Adrien percebeu sua ausência, mas não onde ela estava, dessa forma não falando nada a respeito. Assim que acabou de comer, Marinette tirou seu pequeno bloquinho do bolso de trás de seu uniforme e anotou tudo que consumiu, até o copo d'água que bebeu. Maria percebeu, mas não falava nada também. Respeitava os motivos da menina e não se metia. Nathalie acabara de chegar do banco e acabou sentando-se perto de Adrien para conversar um pouco. Ficaram ali por quase uma hora e ele quis voltar para seu quarto. O almoço deu-lhe uma certa preguiça e ele sentiu vontade de tirar um cochilo, mesmo tendo dormido bem na noite passada.
Marinette mais uma vez o guiou até a cama, avisando que estaria do lado de fora caso ele precisasse. Enquanto ele dormia, ela trocou mensagens com sua mãe para saber se a mais velha estava bem. Sabine estava no trabalho e começava a sentir sintomas de um resfriado, mas não falou nada para a filha ainda, para não preocupá-la. Marinette não podia falar com sua mãe ou Adrien poderia acordar, mas escreveu que estava com muitas saudades e que o trabalho estava indo bem. Por mais que quisesse desabafar com ela tudo o que tinha acontecido, não dava pra fazer aquilo por mensagens.
Sentada em sua habitual cadeirinha, colocou um dos fones no ouvido e foi assistir ao capítulo de Xeque-Mate que não conseguira ver na noite anterior. Era incrível como Adrien podia ser tão diferente do seu personagem. E pensava o mesmo de Luka, que pessoalmente era gentil, educado e atencioso, o oposto do bad boy que ela via na tela.
Não tinham se passado nem duas hora e ela ouviu resmungos vindos do quarto. Deu 3 batidas leves e não ouviu resposta. Abriu devagar e viu Adrien ainda dormindo, mas num sono bastante agitado. Ele falava coisas sem sentido e ela se aproximou para tentar entender. Adrien estava sonhando.
No seu sonho (ou melhor definindo, no seu pesadelo), Adrien estava acorrentado pelas mãos e pelos pés a um carro totalmente destruído no acostamento de uma estrada. Ele olhava para frente e a figura de uma mulher feito um anjo lindo se aproximava dele com os braços esticados.
Ela tinha longos cabelos loiros e seus olhos estavam vendados com uma fita branca. Usava um longo vestido branco de mangas compridas e com pequenos cristais salpicados por toda sua extensão. Ela chamava por seu nome: "Adrien, filho, onde está você? Me salve..." e ele gritava "estou aqui", mas sua voz não era ouvida.
De repente, uma figura negra, sem rosto, com uma veste que mais pareciam farrapos se aproximava do anjo. Ele a absorvia, como se sugasse sua alma fazendo-a desaparecer e Adrien não podia evitar. Ele sentia frio, como se tudo estivesse sendo congelado a sua volta.
Depois essa mesma figura chegava perto dele e então ele via o rosto de seu pai, dizendo que tudo aquilo era culpa dele, que ele não merecia estar vivo.
Adrien:—Não, eu não...mãe, eu estou aqui...não, não a toque...eu vou...
Marinette percebendo que Adrien estava preso em um pesadelo, tentou acordá-lo, mas ele não despertava.
Marinette:—Adrien, eu estou aqui. Acorde, tá tudo bem. Adrien, fique comigo...
Em seu sonho, Adrien ouvia sua mãe gritar de dentro da criatura "Adrien, estou aqui...filho, me salve...filho, me ajude..."
Na cama, Marinette estava sentada ao lado dele, com as duas mãos em seu rosto, tentando acordá-lo de qualquer jeito.
Marinette:—Adrien, estou aqui com você...acorde por favor...Adrien...
Ela passava as mãos em seu rosto aflita, sabendo que ele devia estar sofrendo preso naquele sonho! E ele não voltava! Sem saber mais o que fazer, inclinou seu corpo e o beijou! Segurou seu rosto com firmeza e juntou seus lábios aos dele, numa tentativa de que aquele contato pudesse libertá-lo da prisão em que se encontrava.
Na mente de Adrien, tudo parou. A figura sombria foi se afastando e ficando cada vez menor. Em seu lugar surgia um novo anjo, mas dessa vez com um longo vestido azul da mesma cor de seus olhos. O frio ia embora e seu corpo se aqueceu. Era uma mulher, de cabelos longos e escuros, pele alva e feições suaves. E, por Deus, era linda! Ela trazia consigo uma paz, um estado de serenidade tão grande que fez com que ele não quisesse mais sair dali. Suas correntes de desintegraram em pó, libertando seus braços e pernas. Automaticamente ele levou os braços em volta daquele ser iluminado como se pudesse segurá-lo. No quarto, ele abraçava Marinette, mas sem se dar conta disso. Ela por sua vez não se afastou. Separou os lábios, mas seu corpo permaneceu junto ao dele. No sonho, ele perguntava quem era ela e ela dizia "só vim aqui para lhe ajudar".
Adrien sonhando:—Você vai ficar?
Anjo azul:—Só se você quiser que eu fique
Adrien sonhando:—Eu quero, quero que fique para sempre...
Anjo azul:—Para sempre é muito tempo...mas eu fico enquanto estiver dormindo
Adrien sonhando:—Mas e quando eu acordar?
Anjo azul:—Aí você terá outras pessoas cuidando de você...
Marinette:—Adrien, acorde...Adrien...
Adrien sentiu seu anjo azul se afastar e despertou. Sentiu Marinette em seus braços, tão perto, tão quente...
Adrien:—O que houve?
Marinette:—Você teve um pesadelo e eu não conseguia te acordar - disse se afastando do loiro
Adrien:—Mas foi...foi tão real...- disse enquanto levantava o tronco para sentar na cama. Era...a minha mãe...ela precisava de mim. E meu pai, ele...ah, minha cabeça dói...depois veio o anjo azul, era tão linda...ela me ajudou, não queria que ela fosse embora...
Marinette:—Agora está tudo bem, já passou - disse enquanto se levantava da cama. Vou pegar um copo d'água pra você.
Adrien:—Não...fique aqui, só mais um pouco...não quero ficar sozinho...
Adrien parecia uma criança assustada. Marinette disse que tudo bem e avisou que se sentaria na cadeira, mas ele não quis.
Adrien:—Não...sente-se aqui, na cama...fique aqui comigo só um pouco...
Ela assentiu e se sentou ao lado dele. Ele se deitou novamente, sua respiração estava acelerada e o coração idem. Então ele a puxou pela mão.
Adrien:—Se importa de deitar aqui, só um pouco? Pode ficar de costas pra mim se preferir, não vou lhe fazer nada.
Marinette se assustou com o pedido, mas concordou. Tirou suas sapatilhas e se deitou ao lado dele, mas não de costas. Colocou sua cabeça em seu peito, ouvindo as batidas de seu coração e usou seu braço esquerdo para abraçá-lo. Adrien sentiu suas bochechas esquentarem, mas gostou de tê-la ali daquele jeito. Passou seu braço esquerdo pelas costas da menor, segurando-a firme.
Marinette:—Fique calmo, estou aqui com você. Não precisa ficar aflito, seu pesadelo já foi embora. Vai ficar tudo bem agora, estou aqui para lhe ajudar.
Aquelas palavras eram tão familiares...mas sua mente estava uma bagunça. Tinha flashes do pesadelo enquanto tentava se lembrar do rosto do seu anjo azul. O cheiro doce dos cabelos de Marinette o acalmava e ele se sentia em paz. Como aquela mulher que ele mal conhecia conseguia ter todo aquele efeito sobre ele?
Aninhou-a em seus braços e sentiu seu coração se confortar, desacelerando aos poucos. Era uma sensação boa estar com ela ali. Queria lhe dizer muitas coisas, coisas boas, mas não conseguia. Sabia que ela merecia ser tratada de uma maneira melhor, mas ele simplesmente não conseguia segurar as duras palavras em sua boca. Não sabia o porquê, mas Marinette despertava o que ele tinha de melhor e de pior ao mesmo tempo.
Música: Sonhos - Caetano Veloso - ano 1982
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De olhos fechados
RomanceAté onde um bom coração aguenta ir para ajudar uma alma que parece estar perdida? Qual é o limite da benevolência?