•°F i f t y°•

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•Narrado por Eunji•

O movimento no café é calmo, há poucas mesas ocupadas. A garçonete de fios tingidos de um lilás acinzentado, presos suavemente em um coque folgado, caminha em nossa direção. Com maestria, ela pousa a bandeja de madeira sobre a ponta da mesa circular na cor branca e retira nosso pedido, os colocando gentilmente a nossa frente. Ela sorri amigavelmente e se curva em uma reverencia, a agradeço e a acompanho com olhar enquanto se direciona para o balcão.

— Seu bolo parece delicioso — Drake diz, o tom de voz sugestivo, atraindo minha atenção.

— Quer um pedaço? — digo a ele com um tom risonho.

Ele brinca com as sobrancelhas, erguendo-as duas vezes. Dou uma gargalhada divertida e empurro o prato com o pedaço de bolo de morango em sua direção. Drake parte a ponta do bolo de massa fina e leva aos lábios, ele degusta de forma atenciosa e me lança um olhar surpreso em aprovação.

— Certo, isso é simplesmente perfeito! — Drake eleva a mão direita atraindo para si, a atenção de uma garçonete. Ela se aproxima de nós sorrindo de forma meiga. — Quero um pedaço desse mesmo bolo, por favor.

A garota assente, e se retira.

— Me diz, como vão as coisas com o príncipe bonitão?

Sua pergunta arranca uma leve gargalhada de mim.

— Estão indo bem. Há apenas uma coisa que tem me incomodado.

— Que seria? — Drake me olha enquanto leva o copo preenchido por café gelado aos lábios.

— Ele anda tenso ultimamente, sei que tem algo o perturbando.

— Já perguntou para ele, sobre isso? — ele analisa o copo de vidro antes de tomar mais um gole, ficando com um bigode branco sobre os lábios.

A visão me arranca um riso fraco. Tomo em minhas mãos um guardanapo e o ofereço. Drake o toma de minhas mãos e limpa a boca delicadamente, encarando meus olhos e aguardando que eu prossiga.

— Já tentei tocar no assunto, ele sempre diz que não há nada acontecendo e que está bem. Não quero insistir, porquê sei que ele ainda não está pronto para se abrir em relação a isso.

— Sendo assim, aguarde mais um pouco. Se você perceber que ele parece mais tranquilo, tenta introduzir o tema com calma.

— Certo! — um longo suspiro escapa por meus lábios.

Volto minha atenção para o bolo de massa fina, recheado com bastante creme e morangos fatiados. A mesma garçonete que passou por nós se aproxima, trazendo em uma bandeja a fatia de bolo para Drake. Ela o posiciona a frente de Drake que a agradece, em seguida, a mulher se retira após uma reverencia. Drake esfrega uma mão na outra encarando o bolo com atenção. Um sorriso toma meus lábios ao ver sua reação infantil. Ele toma a colher de madeira escura em mãos e começa a comer o bolo, o saboreando sem pressa.

— E o casamento? Como está indo? — levo um pedaço do bolo a boca, a combinação da leve acidez dos morangos com a doçura e leveza do creme e da massa fina me leva aos céus.

Sou obrigada a concordar com Drake, esse bolo é absurdamente bom! É perfeito! Devo ter feito uma cara engraçada, já que Drake começa a rir.

— Meu casamento vai muito bem! Estamos muito felizes juntos.

— Fico muito feliz com isso! Sempre achei que vocês combinavam muito — digo e levo mais um pedaço de bolo a boca.

De forma rápida, junto os fios de cabelos com as mãos e o prendo com um elástico na cor preta, deixando-os organizados em um rabo de cavalo baixo. Levo minha mão a frente do rosto e ajeito levemente os fios da minha franja.

— A propósito, a condessa tem me enlouquecido!

— Por quê? — questiono rindo.

— Você sabe que ela é uma víbora, falsa e exibida. Foi contaminada pela Kira quando ainda estava viva, tenho certeza!

— Céus! — minha gargalhada sai alta, definitivamente, Drake nunca vai mudar e saber disso me conforta.

°°°

Caminho calmamente adentrando a propriedade real, Drake foi se encontrar com Maxon no cinema me deixando só para voltar para casa. O sol se põe no horizonte, sem pressa, deixando seus rastros em alaranjado, rosa e roxo. Uma criada responsável pela entrega de cartas se dirige em minha direção, ela se reverencia e me entrega a carta, a agradeço e então a dispenso. Olho o remetente, meu coração dispara de ansiedade e dói com a saudade, corro pelos corredores do palácio, ansiando a privacidade. Sou rápida ao abrir e fechar a porta do meu quarto. Me jogo no colchão e analiso mais uma vez o envelope da carta.

As marcas das garras do Falcão Peregrino indicam que Chan tinha pressa para que essa carta chegasse às minhas mãos. Abro o lacre lilás com o símbolo da bandeira de Butyzzel, retiro a carta dobrada de dentro do envelope de forma cautelosa. Ao a abrir, me deparo com a caligrafia bem trabalhada de meu irmão. Sinto sua falta, de certa forma essa saudade se camuflou em meio aos últimos acontecidos, acredito que passar meu tempo com Jun me ajudou a esquecer essa saudade imensa por um tempo. Meu peito se enche de emoção com a saudades. Respiro profundamente antes de iniciar a leitura.

"Oi pequena,
Quero que fique tranquila, eu estou cumprindo bem a minha promessa. Estou vivo! Vivo mas morrendo de saudades de você, da mamãe, dos meninos. A ansiedade me corrói todos os dias sempre que penso em você, preciso senti-la em meus braços. Quero poder acariciar seus cabelos até cairmos no sono juntos. Preciso de você, preciso loucamente de você e eu te garanto que vou voltar e saiba que eu estou intacto.

Confesso que quase fomos massacrados, mas eu consegui dar a volta por cima e agora estamos com a vantagem. Tenho me saído bem no comando, se você perceber seu pai de bom humor pode ter total certeza de que é por causa dos relatórios de guerra que eu enviei. Sou obrigado a admitir, o príncipe Park Junhee tem feito um bom trabalho estando no comando de todos os exércitos de Trakzus e por trás das estratégias de guerra. Bem, se cuida, minha princesinha. Prometo voltar para você! Um beijo, com amor!

  Do seu preferido,
                          Chan.♡ "

Não... — minha voz sai pouco mais que um sussurro.

Eu não acredito, Junhee não pode estar por trás desses exércitos. Ele não pode estar fazendo isso, isso não pode ser verdade! Chan deve ter se enganado, isso não pode, não pode ser verdade! Ele jamais teria coragem de fazer isso, certo?

Lágrimas quentes escorrem por meu rosto, elas fluem como um rio. Meu coração se encontra em pedaços, me sinto traída. Não posso acreditar que a pessoa que eu mais amo esteja por trás dos exércitos contra o meu reino, a minha família e o meu povo. A decepção se mistura em uma massa pesada de sentimentos e pensamentos negativos. Amanhã é sábado, e nosso aniversário de namoro, não quero vê-lo, preciso digerir tudo isso. Não quero acreditar que seja verdade, não posso acreditar. As ondas de lágrimas me tomam e choro freneticamente até pegar no sono, abraçando a carta de meu irmão.

My RomeoOnde histórias criam vida. Descubra agora