O termo "revolução" se presta a uma série de interpretações e significados. Palavra desconhecida anteriormente à Renascença, a expressão foi criada inicialmente para descrever os movimentos de corpos celestes.
Posteriormente, com as Revoluções Inglesas do século XVII - Puritana (1640) e Gloriosa (1688), que instituíram a Monarquia Parlamentar como sistema de governo naquele país -, o vocábulo ganhou emprego no estudo das Ciências Sociais. É expressão prestigiosa que designa modificação na ordem estabelecida.
A Revolução Industrial inglesa do século XVIII, juntamente com a Revolução Francesa, foi um episódio histórico que modificou irremediavelmente as concepções econômicas, políticas e sociais do mundo ocidental. Ambos movimentos simbolizam o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea: a primeira como função econômica; a outra como expressão política.
Não encontramos na Revolução Industrial inglesa eventos que determinem um recorte cronológico preciso. Não foi um movimento precedido de alarde. A Revolução silenciosa foi o título do livro de Michael Angelo Garvey, publicado em 1852, sobre o tema.
O historiador Eric J. Hobsbawm, em A Era das Revoluções, escreveu que "a Revolução Industrial não foi um episódio com um princípio e um fim", já que "não tem sentido perguntar quando se 'completou', pois sua essência foi a de que a mudança revolucionária se tornou norma desde então. Ela ainda prossegue". Quando o historiador inglês fala em "mudança revolucionária que se torna norma desde então", refere-se ao desenvolvimento de um novo processo técnico que consagrou a substituição da força muscular pela mecânica. E ao afirmar que "ela ainda prossegue", alude aos seus principais efeitos: a instituição do capitalismo como novo sistema econômico e a necessidade de revolucionar permanentemente os meios de produção de riqueza, isto é, promover uma modernização ininterrupta das forças produtivas com a finalidade de torná-las cada vez mais eficientes e lucrativas.
PIONEIRISMO INGLÊS
A primazia inglesa pode ser compreendida a partir de um conjunto de elementos interdependentes. Poderíamos destacar entre as condições que garantiram aos ingleses pioneirismo na Revolução Industrial, a acumulação primitiva de capital na Idade Moderna e a oferta de mão de obra nos centros urbanos.
"Capital" é um termo que designa todo bem econômico suscetível a ser empregado na produção de riqueza. Karl Marx, em O Capital, escreveu que "a descoberta de ouro e prata na América, a extirpação, escravização e sepultamento, nas minas, da população nativa, o início da conquista e saque das Índias Orientais, a transformação da África num campo para a caça comercial aos negros, assinalaram a autora da produção capitalista", concluindo que "esses antecedentes idílicos constituem o principal impulso da acumulação primitiva".
Foi, portanto, na Idade Moderna, alcunhada de "pré-capitalista" por alguns historiadores, que o longo processo de acumulação de riqueza ocorreu. Esta transferência e concentração para uma classe de "nobres oportunistas e nascentes capitalistas" se iniciou, ainda segundo o autor de O Capital, com a Reforma Anglicana (1534), quando a Coroa confiscou os bens eclesiásticos, repassando estas propriedades a preços irrisórios para "especuladores, proprietários rurais ou burgueses". Contudo, não existe consenso sobre o início deste processo.
Leo Huberman, em sua obra História da Riqueza do Homem, corrobora a tese marxista ao dizer que "antes da Idade Capitalista, o capital era acumulado principalmente através do comércio - termos elásticos, significando não apenas a troca de mercadorias, mas incluindo também a conquista, pirataria, saque e exploração."
A segunda condição indispensável foi a oferta de mão de obra que trabalharia nas nascentes indústrias da Inglaterra. O modo mais usual para a obtenção de trabalhadores urbanos, mas não o único, foi através da privação que os trabalhadores agrícolas ingleses sofreram em relação ao seu meio de subsistência, isto é, a terra. A Lei de Cercamento dos Campos (Enclosure Act), a qual convertia áreas rurais comuns ou "abandonadas" em propriedades privadas, foi a que mais chamou a atenção dos historiadores. Como nesta época o Parlamento era controlado pelos grandes proprietários rurais (landlords), esta legislação favoreceu a concentração agrícola, expulsando camponeses livres não proprietários para centros urbanos.

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