A crise de 1929: o colapso do capital

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O fim da Grande Guerra aparentemente inauguraria um período de prosperidade e paz no mundo. A Revolução Russa de outubro de 1917, contudo, estragou os sonhos da boa sociedade capitalista, pois uma grande nação europeia promoveu uma guinada de 180° em sua política doméstica, tornando-se o primeiro país do mundo a adotar de fato os preceitos marxistas de fim da propriedade privada e ditadura do proletariado.

A solução paliativa encontrada foi estabelecer um isolamento diplomático e econômico sobre a Rússia, de tal modo que o cancro socialista não pudesse se expandir para outras áreas do mundo civilizado. O “cordão sanitário”, ironicamente, acabaria preservando a economia russa da maior crise do capitalismo liberal, a crise de superprodução de 1929.

Os Estados Unidos, após a Primeira Guerra Mundial, começam a assumir o papel de centro hegemônico do capitalismo mundial. As nações europeias, apesar de debilitadas pela guerra, ainda preservam o mundo colonial afro-asiático, o que garantia ao Velho Continente uma duvidosa imagem de prosperidade e glória. Seria necessária mais uma guerra mundial para abalar definitivamente os alicerces da Europa ocidental. Os Estados Unidos, contudo, tornaram-se uma espécie de polo irradiador do capitalismo, ao se converterem no maior exportador de bens industrializados, importador de bens primários e maior investidor e credor nas relações internacionais. A despeito da importância que a libra esterlina ainda mantinha no comércio mundial, a recuperação econômica da Europa dependia sobremaneira de como os americanos iriam empregar seus dólares. A economia americana nos anos de 1920 era responsável por cerca de 45% da produção industrial do mundo.

A política externa norte-americana, contudo, manteve os ensinamentos do discurso de despedida de George Washington, de maneira que o país permaneceu em um surpreendente isolacionismo. O não envolvimento dos Estados Unidos em questões europeias foi a tônica da diplomacia norte-americana até 1941, favorecendo a falência da moribunda Liga das Nações. Internamente, pode-se descrever o quadro de prosperidade material dos Estados Unidos no período posterior à guerra como a época em que os salários cresciam, as taxas de juros eram relativamente baixas, os empregos eram ofertados aos americanos com relativa abundância, os recursos materiais pareciam inesgotáveis e o consumo crescia.

A prosperidade material dos “frenéticos anos de 1920” ficaria conhecida pela historiografia como a origem do american way of life (estilo de vida americano). O otimismo retratado, ironicamente, em O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, entretanto, encontraria seus limites na grande crise do capitalismo liberal de 1929 e no moralismo de uma sociedade puritana que contrastava com os preceitos de democracia e liberdade americana.

O maior símbolo da sociedade de consumo capitalista é o automóvel. E nas décadas em que o capitalismo começava a se firmar nos Estados Unidos, a Ford, com seu modelo T, era o que havia de vanguarda em termos de fabricação e modelo para os concorrentes, a ponto de inaugurar um estilo de montagem especializada que ficaria consagrada pelos estudantes de economia como o “modelo fordista” de produção, no qual cada operário desempenharia uma função determinada e especializada na linha de montagem do bem de consumo durável. A indústria do automóvel, em franca expansão, consequentemente fomentava a produção de energia e siderúrgica. Ademais, outros bens de consumo duráveis, como refrigeradores e rádios, popularizavam- -se rapidamente. Líderes políticos tão distintos, como Adolf Hitler, Getúlio Vargas e Franklin D. Roosevelt, perceberam rapidamente a potencialidade deste precioso meio de comunicação como forma de atingir os eleitores ou de legitimar regimes autoritários.

A prosperidade americana, entretanto, contrastava com um país em que a maioria da sociedade preferia esquecer. Os Estados Unidos eram também a nação do racismo, do crime organizado, das restrições aos imigrantes e, posteriormente, de uma crise capitalista que seria lembrada com a fatídica alcunha de big one.

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