Money, lust & alcohol.

the past

POV CALLIE

Eu não seria louca de negar que eu estava amando aquele momento. Nunca pensei que aconteceria, mas eu estava disposta a me permitir gostar da Arizona. Afinal, como não gostar dela? Ela é linda, carinhosa, cheirosa, atenciosa, se arrisca para ajudar as pessoas... ela não parecia ter um defeito grave.

Depois do nosso diálogo no café da manhã na cama e depois dela recusar atender a pessoa que ela ficou ontem para ficar comigo, tomamos um banho juntas e ela disse que tinha que trabalhar.

Antes dela ir perguntei se ela podia me emprestar seu notebook, pois precisava ver como poderia tirar segunda via de meus documentos, não podia ficar sem, ainda mais sendo imigrante.

Ela me informou onde estava e a senha. Eu precisava olhar tanta coisa, estava sem celular ha um bom tempo, com medo de Daniel descobrir que eu continuava na cidade, pois eu simplesmente fugi enquanto ele dormia e nunca mais tive notícias, não sei o que houve com ele e nem se surtou muito com a minha fuga, mas imagino que sim.

Resolvi olhar minha caixa de e-mail, e como eu imaginava, havia centenas mensagens do Daniel me ameaçando de todas as maneiras possíveis.

"Sua desgraçada, como você fez isso comigo? Você é minha, estamos casados legalmente ainda, lembra que você assinou aquele maldito papel? A gente está casado e se você tentar deixar essa cidade ou esse país saiba que eu conheço muito gente e que as pessoas me comunicarão. Legalmente você ainda é minha esposa e não vou tolerar que você simples fuja assim da minha vida..."

Tinha diversos e-mails, este era apenas um deles.

Meu estômago revirava conforme eu lia. De fato me casei com ele para ter o green card mais facilmente, eu precisava e queria começar bem uma vida aqui em Nova York e estava apaixonada por ele, então não pensei duas vezes antes de aceitar o seu pedido casamento. Eu só não imaginava que ele achava que casamento seria uma prisão e que ele não me deixaria conhecer nada e nem ninguém em Nova York sem ele.

Ele dizia que não podia me perder, que já havia ficado viúvo uma vez e que não poderia deixar que nada me acontecesse. Então resolveu que eu não poderia fazer nada sem a supervisão dele.

Era um verdadeiro inferno, ele ficava agressivo quando eu o tentava contrariar e um certo dia eu cansei. Esse foi o verdadeiro motivo pelo qual fugi enquanto ele dormia. Ele jamais aceitaria um pedido de divórcio.

Vinculada a ele, sem dinheiro e sem poder sair da cidade sem que ele fosse atrás de mim, como ele mesmo ameaçou, eu não tive muita opção além de começar a trabalhar na casa noturna.

Infelizmente queria fazer dinheiro rápido para tentar reorganizar minha vida e acabei cedendo às propostas sexuais dos clientes de Charles, mas eu nunca imaginei que a situação chegaria no nível em que chegou. Nunca imaginei que ele me obrigaria, com uma faca no pescoço, a aceitar pelo menos uns 4 clientes por noite, para que ele pudesse ter um bom lucro.

E no final das contas, terminei na rua e quase morta. Se não fosse a Arizona eu com certeza estaria morta.

Fechei meu e-mail, ignorando friamente tudo que eu tinha lido e comecei realmente a procurar os trâmites para eu ter segunda via dos meus documentos.

Enquanto eu olhava, o telefone fixo da casa tocou. Fiquei na dúvida se devia ou não atender e na primeira tentativa não atendi, achei que seria invasivo, afinal eu apenas estava morando ali de favor. Porém, o telefone tocou mais algumas vezes e resolvi atender.

- Finalmente você atendeu!! - ouvir aquela voz me relaxou.

- Arizona, você esperava mesmo que eu ia atender o telefone da sua casa?

- Pois deveria, lembrei que você está meio incomunicável e este é o único jeito no momento.

- É, mas só atendi porque pelo visto você não desistiria tão fácil e ia ligar o dia inteirinho. - eu ri.

- Pode ter certeza que sim. Mas te liguei só para falar que por volta das 19h vou pedir um táxi para você, se arrume e vou estar te esperando em um lugar.

Eu apenas concordei e disse que estaria pronta esse horário.

Olhei no relógio e vi que ainda eram 14h, eu teria muito tempo para ficar a toa antes de me arrumar.

Desliguei o notebook, estava cansada de ficar lendo coisas ruins e já tinha anotado tudo que eu precisava.

Coloquei uma música para tocar e tomei um longo banho de banheira enquanto pensava no quanto eu estava precisava conseguir me divorciar e tomar as rédeas da minha própria vida.

Acho que esqueci de mencionar esse detalhe para a Arizona, não me lembro de ter contado sobre como consegui meu green card. - pensei. Mas eu não havia contado antes porque não achava que ia ficar aqui muito tempo, não queria contar uma coisa tão íntima e achei que seria desnecessário.

Ficar em casa sozinha e a toa estava me fazendo pensar no Daniel e no Charles com mais frequência do que eu gostaria, então vi filme, comi e escutei música na tentativa do tempo passa mais rápido.

Quando o relógio marcou 17h30 me empolguei e comecei a me arrumar, estava ansiosa para ver a Arizona e para saber o que me esperava.

Vesti uma calça, uma blusa, uma jaqueta preta e um salto baixo. Não sabia para onde iríamos e esperava que não fosse nada chique, pois não estava preparada para isso. Fiz uma maquiagem leve e pontualmente o porteiro anunciou que o taxista estava na porta do prédio me esperando.

Rapidamente desci e entrei no carro.

Após um trajeto de uns 15 minutos finalmente cheguei ao local e encontrei Arizona na porta, bem sorridente.

Ela me deu um beijo no canto da boca e falou:

- Calliope, você é mexicana e eu resolvi te trazer em um restaurante mexicano hoje para matar seu tédio e te trazer de volta às suas origens.

Eu dei um abraço tão apertado nela naquele momento. Como podia ser tão fofa e atenciosa?