isn't easy

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POV ARIZONA

Eu havia chegado em uma cidade bem pequena em Malawi numa segunda feira.

Tirei o dia para explorar o local e organizar as coisas na minha casa, pois no dia seguinte meu trabalho voluntário começaria.

Eu havia levado apenas uma mala grande, com alguns pertences pessoais e várias roupas, de todos os estilos e para todos os climas.

A casa tinha apenas um quarto, sala, banheiro e cozinha, muito diferente do meu apartamento gigante.

Era bom, em um espaço tão pequeno e diferente do que eu estava acostumada, talvez eu não me sentisse tão sozinha.

Arrumei minhas roupas no pequeno guarda roupas que havia ao lado da cama.

Do outro lado da cama, havia um móvel de cabeceira que tinha uma gaveta. Peguei minha foto com Callie e ali coloquei.

Era minha foto favorita. Estávamos abraçadas e sorrindo.

Próximo à minha casa havia um grande lago e decidi andar ao redor para conhecer. Eu amava a natureza, amava me conectar com ela, ainda mais em tempos de vulnerabilidade.

Naquele momento eu vestia uma blusa azul e uma saia longa, sentia o vento bater, fazendo minha roupa voar e meu cabelo também.

Abri os braços sentindo o frescor daquele momento, como era bom me sentir viva.  O sol leve batia em meu rosto e tirei até uma foto para registrar.

À beira do lago várias crianças brincavam e nadavam enquanto suas mães as olhavam de longe.

Eu estava quase em transe com aquela paisagem, mas fui interrompida com o meu celular anunciando uma mensagem.

"Teddy deve estar querendo saber se cheguei bem." - pensei.

Eu não esperava que fosse a Callie. Me surpreendi com a mensagem e com seu teor.

Respondi imediatamente que não estava sendo fácil, que lhe causar dor me doía também.

Ela foi rude na resposta, insinuando, nas entrelinhas, que eu não tinha consideração por ela.

Eu não queria responder de imediato. Queria poder pensar bem na melhor maneira de me expressar. Eu ainda estava sem força emocional e nem entendia meus sentimentos.

Eu iria colocar meus pensamentos em ordem e responder conforme ela merecia, mas aquele não era o momento.

Resolvi postar a foto que tirei com uma legenda motivacional. Eu achava esse tipo de legenda ridículo, mas resolvi me expressar e queria que as pessoas tivessem uma impressão de que eu estava bem.

Alguns minutos depois de postar a foto recebi outra mensagem da Callie. Dessa vez o conteúdo era diferente do da primeira.

"Creio que sua falta de resposta seja de fato a resposta que eu precisava, assim como a foto que você postou e a legenda. Você está bem sem mim e eu vou me forçar a ficar bem sem você também. Essa é a última mensagem que eu te mando."

Eu não queria que ela tivesse a imagem de que sou uma filha da puta que usei ela ou seja lá o que ela esteja pensando.

Criei coragem e liguei para ela.

Ela atendeu, mas não disse nada, eu só podia ouvir a sua respiração.

- Calliope, eu sei que você está aí. - disse com a minha voz mais mansa.

Ela continuou sem falar nada, mas eu sentia sua respiração mais pesada, como se estivesse nervosa ou chorando.

Eu continuei.

- Eu espero que um dia você possa me perdoar, do fundo do meu coração. Tudo que eu sentia e sinto é real, eu só não consigo encarar os fatos porque são realmente mais pesados do que eu consigo lidar. Eu não fugi de você, eu fugi de mim e fugi de medo de te magoar ainda mais. Eu preciso te dar espaço para levar bem a sua gravidez e preciso aprender a viver sem você.

Eu ouvia ela chorar.

- Não chora, por favor. Eu tenho feito tanto tanto isso, eu tenho chorado também, não pense que tá sendo fácil para mim, não é fácil. Mas preciso que você fique bem e seu neném também precisa.

- É uma menina. - Callie disse.

Dessa vez quem ficou em silêncio fui eu. Eu sentia meu coração bater tão forte que temia que ela pudesse ouvir do outro lado da linha.

- Eu transei com Penny. Eu vou te esquecer, Arizona. Seja feliz.

Callie disse isso e simplesmente desligou o telefone.

Eu senti o chão abrir embaixo de mim ao ouvir ela dizer aquilo.

Eu havia ido embora há poucos dias e ela já havia transado com outra pessoa, e era a Penny, que ela dizia ser sua amiga.

Eu precisava tentar esquecer ela de algum jeito. Eu já estava do outro lado do mundo, talvez fosse mais fácil.

Voltei caminhando lentamente rumo a minha casa e passei em um mercadinho ali perto e comprei 5 garrafas de vinho, acho que aquilo daria até o fim da semana.

Enquanto a moça do caixa passava as garrafas, ela brincou comigo em um sotaque carregado.

- Nova na cidade e em um dia difícil? - ela sorria simpática.

-  Cheguei hoje e rompi um noivado. - tentava sorrir, mas certamente meu rosto estava inchado de choro.

- Espero que isso ajude. - ela colocou um chocolate de brinde na minha sacola, me desejando melhoras.

Meu coração ficou quentinho com aquela gentileza logo no meu primeiro dia na cidade.

Agradeci e fui para casa.

Já cheguei abrindo uma garrafa e me jogando no sofá, tomando o líquido o mais rápido possível.

Não queria que o álcool fosse meu aliado, mas parece que ali, era a única coisa que eu poderia recorrer no momento.

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