O reencontro

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_Eu falo pra você, Bastião. Bando de vagabundo. Onde já se viu fazer protesto pra derrubar o presidente? O país nunca esteve melhor. Não isso aí é tudo bicha, maconheiro, tudo desocupado.

_Tudo comunista.

Sarah olhava pela janela da viatura sem a mínima vontade de participar da conversa, sabia que a noite seria longa tendo que cobrir os protestos que aconteceriam no centro da cidade, estavam equipados com gás e balas de borracha além dos equipamentos do dia a dia que ela esperava não precisar comandar sua tropa a utilizar.

A mulher era capaz de listar mil atividades que considerava mais úteis ou mais interessantes que protestar por qualquer coisa que fosse, e se sentia particularmente entediada por policiar tal evento que poderia se estender ao longo da noite.

O protesto seguiria por uma via com cerca de 4km, a Avenida Presidente Vargas, dois batalhões estavam presentes, o de Sarah responsável por cobrir os dois últimos quilômetros e o décimo sexto batalhão, responsável por cobrir os dois primeiros.

Algumas horas haviam se passado e Sarah agradecia mentalmente pela noite relativamente calma, alguns manifestantes viravam lixeiras e quebraram vidros, outros precisaram ser contidos com balas de borracha mas de maneira geral ninguém ficara gravemente ferido e nenhuma propriedade fora gravemente danificada, o uso de gás de fumaça e bombas de efeito moral foi necessário apenas no primeiro quilômetro de manifestação, Sarah considerava isso um sucesso.

Olhava repetidamente o celular planejando o que faria quando chegasse em casa quando viu que não muito longe de onde a tropa se concentrava uma pequena aglomeração se formava.

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_Se você vai levar ele vai ter que me levar também, não se pode mais protestar? Não existe liberdade de expressão nesse país?_ Juliette dizia aos berros, ela sabia como advogada que não era uma atitude sensata mas seu sangue fervia com a injustiça sendo cometida contra seu amigo.

A alguns metros de distância Sarah acompanhava a confusão que se formava, a grande maioria dos manifestantes havia se dispersado e seu colega Rodolffo discutia com uma manifestante que estava visivelmente alterada, Sarah sentiu que a conhecia de algum lugar sem se recordar exatamente da onde e curiosa se aproximou da cena.

_Ok, pode vir com a gente também. _ Disse jásacando as algemas, quando a mulher se virou e Sarah teve um baque. A mulherque gritava com os policiais era ninguém menos que Juliette, que Sarah havia conhecido a dois meses atrás num hotel no Maranhão e deixado dormindosozinha depois de uma das melhores noite de sua vida.

_Você está presa._ Disse drenada de emoção.

_Sarah?_ Juliette por um segundo se esquecera totalmente da grande discussão que se envolvera, Sarah estava diferente, óbvio, o longo cabelo loiro estava preso e escondido pela boina preta, ela usava uma farda escura e colete aprova de balas com muitos bolsos que continha seu sobrenome e tipo sanguíneo bordados, sua postura era muito mais rígida do que Juliette se lembrava e o tom de voz era neutro, autoritário e completamente inabalável. Juliette se repreendeu por achar que apesar de tudo, ela ficava irresistível fardada.

_Sarah você conhece a meliante? O amiguinho dela tava com uma garrafa com uma substância suspeita, eu tô detendo eles por terrorismo.

Sarah e Juliette responderam ao mesmo tempo, uma dizendo que sim e a outra que não.



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