O dia seguinte

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Do ponto de vista de Sarah, o resto da festa foi bastante estranho. As coisas não tomaram um tom dramático como ela esperaria, foi tudo tão estranhamente normal.

Elas haviam sumido momentos antes da valsa dos noivos, agora todo salão era ocupado por casais que dançavam juntos, Juliette a convidara, numa tentativa clara de forçar uma nova normalidade para qual Sarah ainda não estava pronta.

Afinal de contas ainda havia seu pai, seu irmão, o resto da cidade.

E Sarah se lembrava de uma história local, de uma mulher que sendo herdeira de uma fazenda e casada com um homem fora chantageada pelo marido que soubera que ela estava de caso com outra mulher.

O preço de não espalhar tal história por toda cidade fora metade da herança dela após o divórcio. Ela mesma só sabia dessa história por sua mãe, era um segredo. 

Sarah não queria ser o segredo de ninguém, mesmo sem herança em jogo ela não queria causar incomodo na família, algo que  ela sabia que Juliette problematizaria. Juliette era muito diferente dela nesse quesito.

Juliette. Ela parecia pronta para o mundo, não para o mundo de Sarah, Juliette não duraria uma semana nele, mas de alguma forma Juliette parecia ter um trato com as pessoas que Sarah nem era capaz de imaginar. Era como a loira se sentia a maior parte do tempo, como se ela não entendesse Juliette a fundo, isso a deixava incrivelmente cativada, mas em algum lugar lá no fundo ela se questionava se isso não acabaria sendo sua ruína.

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A primeira coisa que Juliette fez logo que acordou foi ligar para Sarah, primeiro porque ela não se sentia 100% sóbria, segundo porque de longe ela não se sentia apta a garantir a segurança de sua amada, do nada no meio da ligação uma voz interrompe:

_O quanto você e seus irmãos acham que eu aguento?

Sarah se manteve em silêncio.

_Primeiro é o seu irmão casando com a mulher que não pode ter filhos. Depois o Bruno se divorcia e você decide ser gay? Eu mereço tudo isso no mesmo mês? Eu criei vocês tão mal que todos me odeiam? 

Maria parecia criar algum tipo de linearidade entre todas as supostas tragédias em sua vida, apesar do fato de que todas pertenciam as vidas de seus filhos portanto não a dela.

Mesmo ouvindo aquilo tudo por telefone Juliette sentia o sangue subir.

Depois dos acontecimentos da noite anterior decidira se hospedar em um hotel mas devido ao horário acabara mesmo era no sofá da casa de Bianca e Bárbara.

_Não era para ser assim, na verdade, eu não sei bem como era para ser, você nunca me ensinou a lidar com o que você não esperava de mim não é mesmo? _Era a vez de Sarah devolver.

Juliette desligou a chamada, porque aquela conversa era pessoal demais e não era para ela ouvir, não dessa forma.

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Uma  hora depois Sarah olhava para a tela de seu celular e via a ligação mais inesperada de sua vida.

_O que você quer, Dilson? _O tom era algo entre a monotonia forçada e o estresse brutal.

_Ihh, que bicho te mordeu? Você me deu uma missão, lembra? _Dilson era didático.

_É que não existe nenhum momento MAIS inapropriado. _Sarah falava baixo tentando manter a compostura.

_Sarah você precisa escutar isso, eu tenho seguido o Caio por muito tempo, em algum momento eu também fiquei curioso, sabia que ele vai no complexo do Projac uma vez a cada duas semanas? 

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