Um Recomeço

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Capitulo 1

— Massachussets (Estados Unidos da América) — 2017 d.C

Já faz quatro horas que entramos nesse carro e pegamos as estradas. Era cedo quando saímos, mas agora já é tarde quando ergo o olhar pela última vez por um instante e observo com desagrado as estradas que parecem tão parecidas e que devem me levar ao inferno; arvores, cinza e placas encobertas pela grama que cresce descontrolada aos olhos das florestas profundas.

Talvez as arvores aproveitem melhor o seu tempo para dizer uma as outras que o seu objetivo, como na passagem de um carro, é estar e chegar em algum lugar.

Talvez a resposta para algumas perguntas que fazemos em vida é: quanto tempo deve durar? O que há depois? O que há antes que é tão importante para nos manter sempre em movimento, sempre conversando uns com os outros, sempre gastando nossa mente e criatividade com algo que nos traga prazer e bons sentimentos quando a realidade é muito parecida com o que há lá fora; cinza e mistério.

Posso estar enganada, mas acho que é a oitava vez que acredito que o tempo entrou em um loop e estou no centro dele; cidade nova, pessoas novas, preconceitos antigos quando eu começo a falar sobre mim — quando falo e quando sou ouvida — e tudo o que recebo em resposta é cinza. É como um turbilhão de no qual me sinto massageada e inspirada. É como esse vestido que desenho; traços profundos, um desenho marcante e uma ótima pedida para um festival de halloween.

Enfim, saio daquele maldito calor infernal e agora esfrego os meus braços nus no frio do leste quando aperto o botão para fazer os vidros subirem.

— Ainda falta muito para chegarmos? Da última vez pareceu mais rápido — questionou o meu pai, Morgan.

— Pouco. Cinco minutos no máximo, querido — respondeu a minha mãe, Edith.

O casal com tantas palavras parecia imerso no silêncio naquele dia, não sei se por falta de assunto, por falta de interesse em algum assunto ou apenas porque sabem que estou ouvindo. Em silêncio, mas ouvindo e sentindo tudo o que está ao meu redor, incluindo o clima de tédio que o meu pai está com a sua pressa e sua normal empolgação com mudanças.

Talvez não ficasse tão empolgado se parasse para lembrar o motivo; eu.

Ele se vira na minha direção, eu ergo o rosto e espero até que diga algo.

— Tudo bem aí atrás?

— Claro — voltei ao meu desenho.

Levei quatro horas para fazer algo que levaria um dia.

Verdadeiramente há um progresso.

— Meri, eu juro, essa vai ser a cidade dos sonhos. Eu queria ter dinheiro para te levar para viver na Transilvânia, mas a sua mãe é alérgica a tecido europeu então nós decidimos gastar um pouco mais durante o ano com roupas de frio, agasalhos e capas de chuva e viver na misteriosa Bloodale — ele se virou para frente e esfregou as mãos. — Dizem que é uma cidade que mistura o estilo moderno e o estilo europeu gótico, algo meio século dezoito. Acho que é o que você gosta, não?

— Querido, eu já disse que Meredith não é um cachorrinho e que os desejos dela não devem ser tratados como um agrado.

— Mas Janice disse que deixar ela confortável era a resposta para que pudesse criar confiança para se expressar melhor.

— Já disse, ela não é um cachorro — mamãe tocou-lhe o ombro gentilmente.

Eu ergui o rosto. Em silêncio queria concordar com Edith, eu não era um cachorro e os meus desejos não eram um agrado, mas sou uma moça sem muitas exigências; o cômodo e o conforto realmente faziam parte do progresso. Provavelmente o meu pai se arrepende de ter gasto 126 dólares por sessão com a minha psicóloga que de uns tempos para trás passou a falar menos e beber. Ela não bebia, por que de repente começou? Como e de que forma iria parar?

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