Cartas no Portão

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Capitulo 19

"Elas disseram que se chamavam Celestia e Orianna, provavelmente estão mentindo. O vilarejo onde vivem foi comprado pelo papado, em breve toda a região estará cercada e então eles inquirirão a todos os que forem próximos, que souberem ou que tiverem a mínima noção de que estivemos aqui. E notadamente estivemos, Crawford e Genaroux passaram dos limites dessa vez em seu extravaso. Felizmente Hélio ainda tem a cabeça no lugar — acima do pescoço, aquém da insanidade —, ele seguirá com essas bruxas e então elas lhe darão o que precisamos para reunir o que vai nos libertar. Enfim, elas sabem o que fazer e sabem como chegaremos ao nosso objetivo; a liberdade, antes que a morte nos alcance e estejamos perdidos pelo próximo século enquanto as mortais apodrecem e levam consigo seus conhecimentos — Diário de Helga, pg.127".

Eu prometi que limparia o sótão, mas os diários tomaram de mim o meu tempo e a minha concentração. Quando terminei ainda chovia um pouco, mais fraco do que antes. Assim, eu me levantei e no instante ouvi alguém batendo na porta lá embaixo e os deixei no canto antes de seguir até lá.

A mesma sensação da primeira vez, mas agora sem a neura de ser surpreendida.

É uma carta apenas, deixada por debaixo da porta. Eu a recolho. É um envelope em branco, mas está pesado e deve conter algo dentro, então preciso rasgar o envelope para descobrir uma carta e um chaveiro com dois pequenos cristais; um vermelho e um azul. Abri a carta e me deparei com um texto breve.

"Anabeth Blackwell está certa de que por ser uma fundadora tem direito sobre quem pode e quem não pode nessa escola. Estou com raiva. De verdade, muita raiva. Cansei de bancar a boazinha para ter uma imagem nessa escola, está na hora de partir para a ignorância e mostrar que uma Hall não se omite diante da pressão e da opressão. Já ganhei dela antes, eu sei. Já ganhei diversas vezes e de diversas formas, mas agora, confesso, ela está passando dos limites comigo e suas princesas e sua planta — Beaulegard. Ela disse "para o norte, filha!" e você está sob a grande rosa dos ventos enferrujada que não diz nada além do que a minha vontade em acabar com ela. Tem um machado — aquele acoplado ao mecanismo de incêndio que serve para emergências. Axel me deve uma, ele pode pegar e então faremos conforme o que eu quero. Já roubei corações e subornamos o Barkeeper por uma breja, que mal se fará dentre tantos carros? Quero um, mas sei que o meu pai nunca vai me dar — ele disse que sou um desastre detrás de um volante, sobretudo de uma viatura. É isso, me encontre se puder".

A enigmática carta me fez abrir a porta e olhar o lado de fora, de um lado e do outro da rua. O som dos pneus passando sobre o asfalto molhado me dizem apenas que quem deixou a carta já não estava mais lá; apenas os nossos vizinhos.

Eu entro de volta e encosto a porta. Não há assinaturas, foi uma carta feita a mão sem pressa e para mim não faz sentido. Para Petra talvez?

Eu peguei o meu celular e liguei para ela. Tocou, tocou, tocou e depois do quinto toque ela atendeu.

— Petra.

— Petra, precisamos conversar.

— Eu estou no meio da aula de geografia. Você está bem? Por que faltou?

— Indisposição. Escute, eu acabo de receber uma... carta de alguém desconhecido. Há um narrador, acredito que seja Rosa Maria.

— Rosa Maria! — ela suspirou no fone. — Ela está viva? Meredith, ela está viva?!

— Não sei! Não sei! É uma narração... como se ela tivesse ido para algum lugar e quisesse ser encontrada porque no final ela diz: é isso, me encontre se puder — abaixei a carta. — Alguém mais sabe sobre Rosa Maria e onde ela está.

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