Os Filhos de Rhen

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Capitulo 32

— Região dos Grandes Lagos (Leste do atual Canadá) — 1538 d.C

Rhen coroava o nascimento do primeiro filho com mais de dezesseis horas de parto. Os cabelos negros e lisos juntavam-se a pele untada de suor e lagrimas de dor, porém elas cederam no instante em que ouviu o choro do primogênito e tomou nos braços; sujo, úmido, grande e sabido.

Ela o chamou de Harvir, pois ele era o guerreiro abençoado dos deuses.

As acompanhantes entravam e saiam da cabana trazendo agua e panos limpos, mas, enfim, todo o sufoco pelo qual havia passado cessou com a chegada do grande-líder que entrou, adorou e comemorou a chegada do pequeno "milagre" concedido a jovem herdeira da natureza.

Quando recuperada, ela levou a sua pequena cria através da tribo até a cabana onde residiam os três sábios brancos; porque trajavam em branco e seus cabelos eram claros como a luz da lua mais brilhante do verão. Ela prostrou-se e apresentou Harvir ao conselho dos deuses; porque o trio detinha magia como os anciões do seu povo e o poder de abençoar e revigorar aquela terra ressequida apesar de não pertencer a ele.

Dizem que vieram dos céus. Dizem que vieram dos mares. Dizem que vieram de outras terras onde mortais deslumbravam apenas após a "grande passagem".

— Harvir, guerreiro de tuas divindades — promulgou uma das duas mulheres que ali havia.

Ela acenou orgulhosa.

— O filho do espirito da floresta, pois ele não teve pai.

Os sábios brancos se entreolharam, mas não fizeram acaso ao abençoar a criança dos olhos gentis e apetite voraz que muito se interessou pelo fenômeno das luzes na floresta e nos animais que saltitavam pelas passagens de terra feitas para transportar a cavalo o que seria trocado com outros povos aliados.

Porém, olhando a estrada vazia, ela acomodou a cabeça do filho contra o peito e se embrenhou na floresta. Uma tocha era a sua luz em meio a escuridão e as feras que respeitavam o homem e observavam, com olhos brilhantes, o pequeno novo filho da terra; o indiozinho guerreiro.

Ela depositou a tocha sobre uma pedra e depois subiu sobre outra, ergueu o filho acima da cabeça — ele começou a chorar — e depois suspirou, suplicando pela presença que se manifestou numa nevoa densa e ecoante através da floresta até ganhar as formas de um homem que carregava uma bengala numa das mãos.

— Tua recompensa vidou.

— Faz dez anos que quero um filho... a você devo agradecer.

— Certamente que deve. Vá mulher... vá, se alimente do que é meu e então traga a mim o que a eles pertence.

A mulher sorriu e olhou nos olhos de criança tão casta, que era filha do pacto com as trevas; a única e verdadeira força que Rhen tinha porquanto simples mulher e rejeitada em olhares pelos homens que dela não gostavam do sorriso, nem dos seios, nem dos longos cabelos jamais cortados. Ela não entendia. Ela desistiu de clamar pela magia latente desde os seus ancestrais; magia de mudança, transformadora de vidas e curadora de almas a qual desistiu de suplicar.

E fez o pacto, e engravidou novamente.

Na primavera do ano seguinte o primogênito caminhava com outros homens que queriam leva-lo a explorar o mundo, mas naquele momento, seu sorriso se desfez quando uma contração a atirou no chão e as outras mulheres foram acolhe-la.

E nasceu Nayeli; saudável e amada entre as mulheres que adoraram a pinta no centro da testa e disseram ser a premissa dos céus; uma estrela entre os homens.

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