Depois da Umbra

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Capitulo 8

— Quatro dias depois.

Uma luz suave chega aos meus olhos quando me mexo para a direita e ela me força a pressiona-los com um pouco mais de força quando sinto que consigo mover os lábios ressequidos até dobra-los e umedece-los com saliva.

Estou num lugar cômodo e com cheiro de lustra moveis, como se estivesse em casa, numa cama. Estou coberta, porém com roupas muitos finas e suando — apesar de não estar quente. Não estou doente, eu sei. Não estou bem, também sei.

Eu abro os olhos e imediatamente salto da cama, olhando ao redor.

Eu dormir! Não devia ter dormido!

O que devo ter feito? Por que não me lembro de nada?

De nada. De nada. De nada.

Coço os olhos, descanso os pés descalços no tapete e depois no chão frio quando cambaleio até a porta e a abro, olhando através do corredor, esperando não encontrar nada de errado dessa vez e então sigo na direção da cozinha onde a minha mãe se assusta quando me nota de pé, plantada as suas costas.

— Deus, que susto minha filha!

Pisco, inerte.

— Por que eu dormi?

— Porque você estava com muito sono.

— Eu disse que não podia dormir! — vociferei. — Que coisas horríveis aconteciam quando eu dormia! Eu disse, mãe! Eu disse!

— Filha, se acalma — censurou ela. — eu entendo a sua aflição, mas você não se sente melhor agora depois de ter dormido? Estava a dias sem dormir, seu corpo, sua mente já não aguentavam mais tanto esforço, tanto desafio.

— Naquela noite... naquela noite a senhorita Maryjane me usou como manequim — me aproximei. — cada vez que usava a agulha, era para me espetar — dei mais um passo. — quando terminou, ela me deixou sozinha para que pensasse que tinha acabado — me apoiei com os punhos sobre a mesa e me inclinei na sua direção. — e disse que me queria linda.

Minha mãe moveu a cabeça para o lado.

— O que isso tem de mais?

— Eu fui espetada — recuei. — Você não entende a minha dor! Eu fui espetada, espetada, espetada por agulhas grandes!

Ela engoliu em seco, acuada.

— E então ela foi embora, disse que queria comer, estava com fome. A sua bolsa ficou no lado de dentro da bancada. Ela tinha um... — eu ri. — um vibrador no formato do órgão masculino — exemplifiquei, enojada. — e eu sai correndo atrás dela para lhe entregar a bolsa porque ela não tinha dinheiro para comprar a comida — me virei. — e então eu vi um homem perder a cabeça num beco. Uma corrente de fogo cortava a cabeça dele.

— Você... anda vendo muitos filmes.

— Tudo isso porque eu dormi — apontei-a. — Tudo isso porque eu dormi! Vou me trocar para ir para a escola.

— Certo, filha.

— O meu pai? — perguntei, já no caminho para a escada.

— Saiu cedo, disse que tinha algo a resolver.

Pulei os degraus até o andar de cima.

Não me lembro de ter mexido no armário, de ter organizado o armário, nem de ter deixado um balde com roupas sujas para lavar, sobretudo uma roupa com cheiro de lixo molhado.

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