A Umbra das 18h

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Capitulo 7

Meu próximo destino é o Marygood's. Não quero engasgar com o suco de

tangerina com acerola, mas é a única coisa que consigo fazer durante o caminho que faço pela calçada após desembarcar do ônibus escolar próximo a minha casa. As sombras do começo de tarde mantem as calçadas às escuras, meus olhos deslumbram o caminho enquanto tento desviar das pessoas e ergo a alça da minha bolsa de ombros para andar mais rápido do que realmente preciso.

O ateliê ainda tem clientes, Maryjean atende uma mulher de meia idade que experimenta um vestido azul-noturno curto e rendado. Ela nota a minha presença mas não para de falar até que a mulher se situe e se sinta pronta para ir experimentar, é quando ela chega a minha sorrindo de forma recíproca.

— Você veio! E na hora certa, nem um minuto de atraso. Acreditei que fosse dormir até tarde como essas adolescentes que vemos de bobeira na Prince.

— Eu não posso dormir — olhei-a debaixo para cima. — Nunca posso dormir.

— Nunca é uma palavra forte — começamos a seguir para detrás da bancada operacional do estabelecimento. — Certamente aqueles que não dormem tendem a ficar ranzinza ou ter doenças psicológicas graves e difíceis de resolver. Recomendo fortemente que durma, sim?

Eu ainda estava no momento em que ela apontava a doença psicológica como consequência da ausência de sono. Lembro-me de ter passado uma semana sem dormir, talvez com o tempo o corpo e a mente se acostumassem, mas as marcas deixadas pela ausência de sono eram claras, visíveis. Uma vez que eu abdicasse das maquiagens, os meus olhos estariam escuros. Eu engulo em seco, estou encarando-a por mais tempo do que devo. Ela deve estar esperando um consentimento.

— Entendi — desviei o olhar.

— Excelente. Como estamos com o seu esboço?

— Progredindo — tirei o meu bloco da bolsa e ela o analisou, mas fez uma cara de surpresa.

— Uau... — ela olhou um, depois voltou, olhou, olhou, olhou. — Meredith... são incríveis.

— Por quê?

— Como assim por quê? — ela bufou com a boca. — É a essência da alma exaltada nas sutileza dessas linhas. Dizem que esse tipo de traço abstrato tem a ver com estado de espirito... você está bem?

— Eu não entendi.

— A arte imita a realidade, cherry. Pessoas tem diferentes formas de demonstrar o que sentem internamente ou de forma subliminar, a sua forma certamente está nos desenhos.

— Ah... sim — abaixei a cabeça. — Estou bem.

— Tem certeza?

— Eu estou bem!

— Ei, calma — ela amenizou. — Não precisa se exaltar, sim?

— Desculpe, senhorita — prestei uma reverencia de cabeça.

— Tudo bem. Continue, vou atender uma cliente, sim?

— Claro.

Ela partiu. Os batuques do seu salto eram como marteladas na minha cabeça; plac, plac, plac. O som das vozes das clientes diminuía quando toquei a minha têmpora esquerda e depois segui para a mesa onde liguei a luz e suspirei, prestes a recomeçar o desenho. Porém, antes de encostar a caneta especial na folha eu levantei o rosto e olhei para a luz da luminária, pensando mais uma vez na lareira a qual o homem chamado Genaroux estava olhando e então bati a caneta no meu queixo seguidas vezes sem piscar.

1822.

Das poucas coisas que eu verdadeiramente me lembrava, aquela data era uma delas. 1822 seria mais velho do que a casa onde os diários estavam, sendo assim, por que Cedric os tinha? Como os conseguiu?

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