O Sangue Real

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Capitulo 21

— Alguns dias depois.

Quando aquele Sirus me atacou eu era tão frágil quanto um vidro. Desde aquele dia pouco havia mudado; eu ainda continuava acordada, literalmente e figurativamente. De certa forma, ver aquilo me deixou alguns dias sem dormir até eu precisar descansar os olhos uma vez mais. Me deitei na cama da minha mãe e me senti novamente como aquele vidro. Ela estava lá, segurando a minha cabeça entre a sua perna e tocou o meu rosto com suavidade quando pedi encarecidamente para que não me deixasse dormir; que eu pudesse fechar os olhos e chegar o mais longe que pudesse sem realmente dormir, que me despertasse caso percebesse que eu tinha apagado e aquilo me traria o maior dos confortos; o de não acordar desesperada por ter dormido.

Eu não posso dormir, nunca posso dormir.

Abrir exceções para os remédios que eu comumente deveria tomar e eles afetaram o meu fisiológico; eu tive febre no terceiro dia de abstinência e precisei tomar alguns que interviam diretamente no meu comportamento e nas minhas necessidades básicas — como o que não permitia que eu engasgasse e espumasse pela boca quando sentia algo pressionar a minha garganta fortemente (talvez não fosse nada).

No quarto dia eu já estava com menos febre, mas ainda acamada. Minha mãe trouxe-me os diários para ler e até tentou se relacionar comigo quando pegou um para ler também e não entendeu nada. Eu não entendia, mesmo já tendo lido metade dele e descoberto mais sobre a família dos Sirus do que sobre a minha própria; suas constantes viagens pelas Américas, pela Europa e pelas partes mais distantes da Ásia enquanto fugiam da mãe e buscavam lar e vínculos significantes para as suas vidas atribuladas.

Eu não devo entender como os baús chegaram na minha casa — a casa do delegado —, mas, provavelmente, em algum momento deva entender para que eles servem senão contar uma história funesta sobre aqueles que perambulavam pela terra há séculos sem nada a perder, atrás das próximas almas que pudessem escravizar.

Não a minha. Não enquanto eu tivesse medo suficiente para lutar.

Quando os sons retornaram, eu tirei a agua do meu nariz e respirei, aspirando um pouco, me libertando da breve sensação de estar afogando naquela pequena bacia de ouro. Membros da igreja me esperavam com uma toalha para secar o rosto e os cabelos enquanto Adrian entoava, contente, diante de todos os que vieram me prestigiar — pais, pessoas com quem tive contato, o belo Caio Lawson próximo as portas de entrada da igreja com o irmão e o primo, Eveline e as Blackwell a frente. Todos estavam lá quando o reverendo traçou o símbolo da cruz em frente ao meu rosto e abençoou a minha redenção.

— Golpeie com mais força — exigiu Cedric.

Eu, com um gemido, forcei o punho inteiro para atrás antes de golpear a arvore e cravar à estaca — que verteu o liquido pela ponta e gotejou no chão. Eu comemorei, ele acenou com a cabeça em aceitação.

— Em cima — golpeei de punho aberto o galho acima da minha cabeça. — Direita. — com o mesmo punho, passei o braço esquerdo por debaixo da minha axila e acertei o galho mais baixo. — Giro — não calejada, as minhas pernas ainda não eram suficientemente fortes para atingir o galho alto. — Está indo bem.

Quando olhei através daquela luneta, me senti como se estivesse saindo de um túnel. O peso do gatilho me fez suspirar, assim como o recuo fez a arma voltar um pouco enquanto a estaca voava e passava ao lado esquerdo do alvo e desaparecendo no gramado.

Uma, duas, três, cinco, dez, vinte tentativas até que eu conseguisse acertar as primeiras estacas no centro do alvo e depois começar o treinamento com um bastão que media praticamente a minha altura e os movimentos se sincronizavam com os de Cedric; ponta com ponta, cabo com cabo.

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