A Maldição dos Diários

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Capitulo 11

Anthony W. Blackwell — 1847-1936: um visionário, o homem com um sonho compartilhado.

Anthony Blackwell estava silencioso, não queria conversar comigo apesar de eu ter estado as últimas uma hora e meia sobre o seu tumulo de granito azul e branco, com o joelho direito levemente arqueado e a perna direita esticada, as mãos sobre o meu ventre e o olhos vidrados naquele límpido céu de manhã cujo clima frio tornava a minha permanência um alento infindável.

Ao contrário da outra vez, as portas estavam abertas, receberiam com honras o garoto cujo sonho era ser veterinário; o amor pelos animais sobrepunha o amor pelos homens, disse Petra numa emocionada chamada de 16 minutos onde ela parecia inconsolável.

O que há além da morte, eu me pergunto. Nesses momentos, quando realmente posso pensar e onde posso pensar, creio que não haja nada de surpreendente; deve ser escuro, vazio, solitário e onde tudo cessa, incluindo os piores pensamentos e vivencias terrenas.

Se Andrew o matou, outras pessoas seriam as próximas e não seria bonito. Mas o que posso fazer? Não creio que vá ser incitada a fazer algo de que não queira para preservar o que desdenho; a minha vida. Eu não posso ter medo dele, mas também não posso deixar que me intimide toda vez que o vir ou vou estar me condenado ao sofrimento. Não posso fugir, mas não posso me omitir.

Tenho alguns minutos mais antes de voltar a ser a Meredith que melhor conheço.

O que disse, senhor Blackwell?

Que devo insistir para mantê-lo longe de mim?

Mas como? Ele é perigoso, pode me machucar, machucar quem amo.

Enfiar uma tesoura no ombro dele? Não! Ele é forte, parece experiente (apesar de ser um professor de história). Não posso surpreende-lo como fiz com Cedric — ele pode ter uma arma, atirar no meio do meu peito se se sentir acuado.

O que fazer então?

De repente, algo passa próximo a minha visão periférica a direita e involuntariamente eu me viro e noto na presença peculiar de um homem bem trajado que está de rosto baixo enquanto dobra um fragmento de veste para colocar no bolso do terno, e então ele olha na minha direção e freia o passo.

É Caio Lawson.

Eu me levanto, ele vem vindo na minha direção.

— Caio?

— Meredith... bom dia. O que faz num cemitério?

— Idem.

— Venho refletir a vida e a morte, detenho conceitos e reflexões muito profundas sobre o que é o mundo humano.

Me virei, pousando os pés no chão.

— Eu também. No entanto... não venho para refletir, mas para... ah, você já sabe.

— O quê? — ele sorriu. — Conta.

— Buscar companhia.

— Num cemitério? — ele deu a volta e se sentou a distância de mim. — Mórbido.

— Oposto ao aluno mais popular da escola.

Ele riu um pouco.

— Uma piada? Não sabia que fazia piadas.

— Mesmo nunca tendo perdido ninguém senão os avós, isso antes mesmo de eu nascer, sinto que há algo nesses mortos que não consigo encontrar com os vivos. Talvez empatia, talvez conforto, talvez por ocasião dos meus devaneios que me fazem acreditar que estou cercada de quem não julga, não sente, apenas é. Eles são conselheiros, amigos, estão solitários e querendo companhia.

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