O Nó da Gravata

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Capitulo 9

A casa do reverendo era bem simples e vitoriana, feita em alvenaria e madeira. A frente lembrava uma pequena torre do começo do século dezoito, tinha dois andares, pintada numa cor pastel com molduras brancas e portas largas. Um portão preto entalhado antevia a garagem e a porta da frente dividia espaço com um corredor, a garagem do lado esquerdo e um jardim de cenouras a direta, debaixo de uma janela com uma cortina branca grosseira.

Petra chega a porta entalhada onde há uma escada de três degraus e um capacho de boas-vindas, abre e indica para que eu entre, mas algo me força a agarrar as molduras da porta e travar.

— Ei, o que houve?

— Demônios.

— Não na casa do reverendo — ela bufou com a boca, passando por de baixo dos meus braços a acenar para que eu entre.

Eu entro, não porque quero mas porque acho que devo.

A casa é pequena e bem arrumada, uma estante preserva algumas estatuas decorativas, taças viradas para baixo, uma televisão e alguns livros. A esquerda há uma escada caracol de metal que leva até o segundo andar onde no teto há uma claraboia de vidro que parece as ondulações de um lago ao atirar uma pedra grande; luz natural entra dali e ilumina as escadas.

O corredor no segundo andar lembra o da minha casa, porém só há cômodos laterais sem portas e uma outra escada próxima a que subimos que leva ao que deveria ser o sótão, uma inscrição feita em caneta azul diz "Acesso restrito, não entre". Petra é uma típica adolescente americana.

O quarto dela é amplo, de casal, tem uma rede velha amarrada aos pilares, o teto é triangular e serve de sustento para a pesada cortina de pedrarias que separa a cama do resto. Ao fundo há uma escrivaninha diante de uma janela pequena.

— O que achou do meu ninho?

— Muitas cores — olhei ao redor.

— Palhaços gostam de cores — ela se sentou na cama por tempo suficiente apenas para pular duas vezes e depois se levantar, seguindo até um guarda roupa acoplado na parede onde encontra uma caixa cinza e a leva até a cama e espalha tudo.

Nessa caixa há documentos, fotos, coisas velhas e um colar com dois cristais; um vermelho e um azul.

Numa das fotos elas estão com os rostos muito próximo um do outro e sorrindo.

— Rosa Maria... vocês eram amigas.

— Somos — ela corrigiu. — Somos amigas. Melhores amigas, desde que me entendo por gente.

— O pai dela disse que ela estava desaparecida há mais de seis meses quando foi na nossa casa.

Petra me apontou.

— Espera ai, a sua família mora no mesmo número que o delegado? Eu não entendi.

— Lisandra Blackwell vendeu os direitos da propriedade ao meu pai porque "pensou" que a casa estava à venda com a ausência do delegado, que disse que estava morando na delegacia desde que aconteceu e agora eles querem resolver isso judicialmente. O que aconteceu com ela?

— Quer mesmo saber?

— Você me trouxe até aqui.

— Foi no segundo semestre do ano passado. Rosinha, como chamo ela, estava feliz e ansiosa com a formatura porque estava um ano à frente da gente. Ao contrário de mim, ela sempre foi popular, extrovertida, gostava de participar das festas onde os tais fundadores estavam e tal; inclusive ela fez parte do grupo dos quatro esporadicamente. Quando ela desapareceu misteriosamente numa noite depois de sair para comprar tacos, toda a cidade se mobilizou para tentar cobrir a maior área possível; fomos as fronteiras, rodamos a floresta, as ruinas e em todas as casas onde nos deixaram entrar porque são propriedades privadas e as pessoas poderiam se negar. Amigos em comum diziam que ela estava saindo com um cara misterioso há alguns meses já, mas ela não contava detalhes nem para o pai e nem para a gente... nem para mim. Esse cara tinha um Bel Air 57 de placa cubana, é o que sabem. Seis meses depois... nem um sinal dela. O delegado Cedric é muito reservado, ele diz se culpar porque acredita que sabe o que aconteceu, mas decidiu fazer segredo de justiça para impedir que qualquer cidadão tenha acesso ou comente sobre o caso. O tempo passou, muitos esqueceram dela, mas eu fiz questão de imprimir esses informes de desaparecimento e espalhei pela cidade inteira para não deixar o caso morrer. Até porque... — ela riu um pouco. — eu sou a principal suspeita.

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