Todas as batidas imperfeitas

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       — Dá para colocar um sorriso no rosto?
      Se fosse para sorrir eu já estaria sorrindo. — Posso sorrir enquanto estiver te matando?
      Landon faz uma expressão de ofendido totalmente falsa e continua seu caminho até o carro.
      Quando eu disse que ele e Mikey deviam viajar e relaxar no feriado, assim como meus pais, não quis dizer juntos, muito menos me incluindo. Até Melanie e tia Angie foram inclusas.
       — Você e sua mãe estão competindo para ver quem está com o pior humor para essa viagem?
       Olho para minha mãe e minha tia entrando no carro que Jordan irá dirigir.
       Dou de ombros para Melanie. — Eu tenho minhas razões.
       — Uhum. Sua razão para estar brava é ser obrigada a passar o feriado com o homem que ama enquanto ele está investindo pesado em você. Que castigo o seu.
       — Ele não está investindo pesado, está sendo chato. — Reclamo.
       São todas as aparições mais frequentes na empresa, convites para almoços, idas a mansão com Michael para ficarem por horas. Ele está sendo muito presente. Entendo Melanie achar loucura ficar brava com isso porque muitas mulheres adorariam essa atenção, no fundo eu adoro. Mas isso está pesando o clima de novo com a minha mãe, ela também sabe que Landon está fazendo tudo isso para ficar perto de mim.
       Óbvio que ela não gosta disso.
       — Só relaxe Olivia, nós estamos indo para uma vila linda, tem um campo enorme, um clima tão bom. — Melanie segura meus ombros e me empurra em direção ao carro. — Pode tentar relaxar? Mikey está animado dentro desse carro.
        Eu olho pela janela do carro ele já preso em seu assento esperando para irmos. Não posso ser a estraga prazeres do fim de semana.
       — Tá bom, vou melhorar meu humor.
       Mel dá um sorriso satisfeito e  então abre a porta do carro para entrar. — Ótimo, você vai na frente com Landon.
       — Já imaginava.
       Papai está saindo da mansão, era apenas por ele que ainda estávamos esperando.
       — Pronto, desculpa nos atrasar, era um assunto urgente.
       Sempre é. Só espero que ele não fique fazendo isso durante todo o feriado.
        — Podemos dar apenas uma palavra antes de irmos? — Pergunto a ele o puxando um pouco pelo braço.
       Nós nos afastamos dos dois carros. — Aconteceu alguma coisa?
       — Não exatamente. — Eu dou uma olhada em direção ao carro da família. — Esse é um feriado muito família, a mamãe vai sentir ainda mais falta de Sarah. Você poderia estar presente?
        — Eu estou indo para a viagem. — Ele dá aquele sorriso afetuoso e compreensivo que sempre o faz parecer a melhor pessoa do mundo.
       Mas ele não é, ele tem um monte de defeitos como todos nós, mas raramente alguém diz isso a ele
       — Você entendeu. — Eu estou séria enquanto o encaro. — Ela sente sua falta, ela sempre sentiu, desde que eu era criança me lembro de você trabalhar demais e ela sentir sua falta. E agora que Sarah se foi e você tem trabalhado ainda mais eu tenho certeza que ela sente ainda mais. Talvez esse seja seu jeito de sofrer, mas por favor, para de se afastar. Ainda tem uma família aqui, nós precisamos de você senhor Hill tanto ou mais do que sua empresa precisa.
        Noto o vinco que se forma na testa dele quando ele coloca a mão sobre meu ombro e respira fundo. — Sei que tenho falhado, há anos, trabalho sempre foi um escape. Principalmente esse ano. Eu sinto muito.
        — Não é comigo que precisa se desculpar.
       Ele assente e então olha para o carro e então de volta para mim dando um riso breve.
       — Você se tornou a chefe dessa família e eu nem percebi. Mas eu agradeço. — Papai puxa minha mão e dá um beijo nela. — Só não se esqueça de si mesma também.
       Quando voltamos para os carros todos já estão dentro esperando por nós. Papai se senta ao lado de Jordan e acena pela janela.
       Temos quatro horas de viagem pela frente.
       Entro no carro de Landon onde as músicas de desenhos infantis já estão no controle do carro.
       — Vai ser uma longa viagem. — Eu resmungo colocando o cinto.
       — Se a gente conversar passa mais rápido. — Landon rebate já saindo com o carro da mansão. — Sobre o que quer falar?
       — Que tal sobre você ser idiota?
       Landon dá um dar de ombros como se não se importasse. — Pode ser, mas essa pauta está seis anos e meio atrasada.
       Melanie ri no banco de trás. Eu quase tinha me esquecido que ela está no carro também.
       — Eu odeio vocês. — Puxo meu fones da bolsa para tentar anular qualquer chance de conversa.
      Mas antes que eu consiga Landon o tira de mim. — Sério, Ollie? Tudo bem, podemos falar de trabalho. Soube que está ajudando em um novo projeto, ouvi elogios e não foram do seu pai.
       Agora ele tem meu interesse, eu tenho me dedicado bastante ao trabalho, então é bom saber que estão reconhecendo isso.
       — Quem elogiou?
       Isso nos garante um tempo de conversa agradável sem ter que me preocupar com o que devo ou não falar. Depois emendamos um assunto em outro e quando dou por mim estamos chegando a vila luxuosa dos pais dele.
       Melanie tem razão, a vista é incrível, há um campo verde que parece não ter fim. O verde só é interrompido por um grande lago. Está um sol agradável para o mês de novembro.
       — É lindo. — Eu digo ao descer do carro já vendo a mãe de Landon parada na entrada da casa.
       Mikey já está agitado pedindo para descer mesmo que Mel já esteja o tirando do assento. Quando ela o tira e ele corre para fora ele quase cai, mas eu o seguro.
       — Calma amigo!
       — Ele adora vir aqui e correr. — Landon abre o porta malas e vou até ele o ajudar.
       São malas pequenas, afinal são só duas noites.
       — Vocês vieram aqui muitas vezes?
       Pego uma das malas a colocando no chão e depois outra, Landon pega a dele e de Mikey.
       — Não tanto quanto eu gostaria. — Ele fecha o porta malas. — Umas três ou quatro vezes por ano desde que eles se mudaram para cá.
       É, também acho pouco desde que não está tão longe de Chicago, porém Landon está a frente da empresa então é compreensível ele não deixar muito a cidade.
      O carro dos meus pais está estacionando no momento em que Holly está abraçando Mikey apertado. — Você está crescendo tão rápido.
      — Oi vovó!
      — Ei mãe. — Landon a abraça assim que ela solta Mikey. — Como vocês estão?
      Ela responde algo baixo para ele e aponta lá para dentro, presumo que esteja falando onde Albert está.
       — Olivia, que bom te receber aqui. — Holly abre os braços e vou até ela a abraçando.
       Nós nos vimos poucas vezes, mas ela tem esse afeto que me deixa tão em paz.
       — Obrigada por nos receber. É um lugar lindo e olha que nem sou acostumada a lugares tranquilos. — Eu aproveito o tempo de abraço. — Landon e Mikey precisam de tranquilidade.
       — E você também, soube que está trabalhando bastante. — Ela olha de volta para o filho. — Vamos acomodar vocês.
      Aos poucos todos entramos e somos levados até os quartos que ocuparemos. Depois de me acomodar e me trocar eu saio para dar uma volta, aproveitar um pouco o dia.
       — Você parece a vontade. — Landon parece ter o dom de surgir do nada.
       — Já que estou aqui não tem porque não aproveitar e relaxar. — Digo a ele. — Onde está nosso pequeno?
       — Com a sua mãe, e minha mãe, e sua tia. Tem tanta gente pra mimar ele.
       Não discordo disso, só queria que todos nós pudéssemos mimar ele tendo a mãe aqui. Embora, talvez eu continuasse a não ser parte da vida deles, mas pelo menos tudo estaria em seu lugar.
        — Vou andar por aí. O que vai fazer agora? — Pergunto a Landon.
       A expressão dele parece uma careta. — Queria aceitar seu convite, mas vou ver meu pai, ele não se sentiu tão bem essa semana.
       — Eu não estava te convidando. — Eu obviamente não vou deixar ele pensar que era isso. — Vá ver seu pai, depois eu dou um Oi para ele.
       — Ok, só não vá muito longe sozinha.
      Quando Landon se inclina eu acho por um instante que vai me beijar, mas então seus lábios param em minha testa. O efeito é quase o mesmo que de um beijo.
       Eu demoro alguns segundos para dar as costas para ele.
       Holly me encontra quando estou caminhando de volta para a casa. Está um pouco menos fresco do que quando sai, agora está ficando quase frio. Eu também já estou com fome desesperada por almoço.
       — Estava indo te procurar, a comida está quase pronta. — Ela me avisa se aproximando de mim. — Até onde andou?
       — Até o lago, fiquei deitada lá um tempo, é tão silencioso.
      O braço de Holly passa pelo meu e passamos a andar juntas.
      — Tenho essa impressão que você e meu filho são muito parecidos, que amam tanto o silêncio quanto amam o barulho. — Ela dá um tapinha na minha mão. — As vezes ele me fala sobre os sonhos dele se ele não tivesse voltado. Sobre tocar e viajar.
        Fazer o mesmo que eu fiz, mas eu honestamente não vejo Landon sendo feliz com aquela vida. Sei lá, ele é do tipo que viveria a música, mas não gostaria tanto do mundo que vem junto dela.
        — Eu acredito, de coração, que Landon fez o certo. — Eu opino. — Naquela época eu não entendia, eu achava que ele não estava tendo coragem de seguir o que queria, mas vendo o cara que ele é eu fico feliz que ele tenha feito o que achou certo.
       — Ele foi feliz, mesmo com a forma como tudo terminou. — Holly diz. — Landon amou sua irmã, ele não queria que acabasse como acabou, ele só estava tentando o melhor por todos eles. Mas Sarah queria o divórcio e então eles discutiram e então... ele se culpa muito.
        Me perdi um pouco no que Holly está falando. Sarah queria o divórcio? Quando ela e Landon discutiram? Na manhã do acidente?
       Holly fala como se fosse um assunto familiar para mim, ela supõe que eu saiba do que ela está falando.
       — Ele... — Penso bem no que falar. — Eles estavam tentando voltar a ficar bem, só não deu tempo.
       — Não foi o tempo, Landon sabe, só é difícil para ele admitir.
       Eu assinto e nós soltamos nossos braços quando entramos de volta a casa. Uma funcionária avisa que o almoço será servido em quinze minutos.
       Peço licença para ir ao meu quarto, mas ao invés disso vou pelo corredor dos quartos procurando pelo quarto de Landon. Quando o encontro em uma das portas abertas fico aliviada que ele esteja sozinho. Mikey deve estar com meus pais ou Melanie.
       — Ei gostou do pas...
       — Você e Sarah discutiram na manhã do acidente por que ela queria o divórcio?
      Sou direta com a pergunta. Eu só quero entender direito o que aconteceu entre eles.
       — Ollie...
       Eu entro no quarto e encosto a porta atrás de mim, essa é uma conversa entre nós dois, para preencher as lacunas que ele não me contou ainda.
       — O que aconteceu aquela manhã, Landon? O que eu ainda não sei?
       Ele se levanta da cama e de repente é como se todo peso do mundo estivesse sobre o ombro dele. Landon parece até mais velho.
       — Eu não deveria ter a pressionado a nos dar outra chance. Deveria ter aceitado, ela estava com os papéis assinados e eu fui pego desprevenido, eu só a tentei fazer esperar mais um pouco. — Ele parece tão nervoso enquanto fala, quase assustado. — Não era minha intenção discutir, eu juro, mas ela saiu nervosa e...
       Então Landon Griffin está chorando na minha frente, chorando como no dia que Sarah se foi, não, na verdade ele está chorando mais. Ele está quebrando bem na minha frente com toda a culpa que vem carregando nos últimos meses.