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Dezembro de 2015

Outra manhã de Natal, outra vez que estou sentada no meu quarto em Chicago escutando alguém desabafar.
      — Eu não acho que ele se esforce muito com o trabalho. E ele escuta essas músicas irritantes o tempo todo. — Sarah está andando pelo quarto. — E sempre que sugiro uma viagem e penso em algum lugar como Holanda, França, Suíça ele quer algum lugar isolado do resto do mundo. Qual o problema com lugares finos e bonitos?
      Nenhum, para quem gosta disso. Eu entendo Landon, eu não passei tanta tempo com ele quanto Sarah, mas é óbvio para mim que o estilo dele é outro.
      — Você não percebeu que são tão diferentes em todos os meses antes do casamento? — Eu pergunto.
      Sarah me olha como se eu tivesse dito algum absurdo.
      — Não parecia importar muito naquele momento. — Ela faz bico. — Que droga. Eu já tenho tanto trabalho e ainda tenho que me preocupar com meu marido sendo esquisito.
      — Ele não é esquisito porque não gosta das mesmas coisas que você. — Rebato não gostando daquele comentário dela. — Pessoas tem gostos diferentes, não é legal se envolver com alguém exatamente como nós.
       — Mas ele não pode ceder um pouco? — Minha irmã insiste parecendo muito birrenta. —
      Dou risada e puxo a mão dela a fazendo parar de andar.
      — E você também não pode? Talvez os dois? — Pergunto a ela. — Olha eu não sei nada sobre casamentos, o que sei é que para qualquer coisa dar certo demanda esforço.
      Ela finalmente se aquieta e senta ao meu lado na cama.
      — Só estou cansada das discussões sem sentido por causa de bobagens. É cansativo.
      Imagino que seja. Eu não desejaria isso a Sarah, mas esse casamento foi precipitado. Espero que eles consigam consertar as coisas já que nenhum deles parece culpado pela situação.
      — Vocês já pensaram em se mudar? Não querem ter um lugar só de vocês? Talvez seja isso que vocês precisam.
      Seus lábios se movem como se ela estivesse considerando e pensando.
      — Não sei se ajudaria, mas vou pensar nisso. — Ela se levanta de novo. — Espero que ele vá a festa da empresa essa noite. E por falar nisso, vou ajudar a mamãe.
      É bom que uma de nós faça isso. Pretendo passar o dia deitada antes de ser obrigada a ir a esse jantar desnecessário de véspera de Natal para os funcionários da empresa e familiares.
       Quando Sarah sai eu me deito escrevendo mensagens para Willow. Não penso muito sobre o que ela me contou, não é problema meu o casamento deles, nem mesmo Landon. Depois de sete meses desde o casamento meu coração finalmente conseguiu se desfazer das amarras que continuavam a me prender aquelas três semanas.
      Conheci algumas pessoas no ultimo semestre, até sai com um cara chamado Liam, por dois meses inteiros, mas não deu certo. Pelo menos foi legal enquanto durou.
      Pego no sono entre as mensagens que estou enviando, acordo com Melanie arrancando o celular da minha mão.
       — Ei preguiçosa.
      Resmungo algo sem sentido e tento puxar meu celular de volta, mas ela ri.
      — Vamos Livvy, temos que ter um dia de beleza, hidratar os cabelos, fazer as unhas. Dar um pulo na piscina aquecida antes de tudo. Por favor?
       Eu quase esqueci da nossa piscina interna no andar de baixo, ninguém a usa muito. Mas dado que está só sete graus lá fora é a única opção.
       — Se eu disser não vai parar de insistir? — Eu pergunto a ela.
       Ela sacode meu celular no alto. — Não, e também não vou te devolver isso.
       Eu solto uma respiração pesada e jogo a coberta para longe.
       — Eu te odeio. — Digo mal humorada.
       — Quase tanto quanto você me ama. — Melanie rebate.
       E é verdade. Mas mal falei com ela quando estive em Chicago para o casamento, eu acho que nem foi considerado uma conversa, então vou compensá-la nas duas semanas que estarei em casa.
       — Vou colocar o biquíni.
       Mel joga meu celular para mim e dá palminhas animadas. — Rápido.
      Dez minutos depois estamos andando pela casa envoltas em roupões de banho em direção ao salão da piscina.
       — Então enquanto todos nós ficamos pensando no jantar as mocinhas vão nadar?
       Sorrio para o meu pai. — Essa é a vantagem de já ter muita gente trabalhando. Nós podemos relaxar a vontade.
       — Um pouco folgada. — Ele diz e então sorri. — Vão se distrair meninas.
       Nós duas já entramos no salão tirando os roupões os jogando sobre as cadeiras.
       — Não estamos sozinhas. — Melanie diz olhando para o outro lado da piscina.
       Sigo o olhar dela. Landon está deitado em uma das cadeiras, usando apenas calção de banho e com fones grandes de ouvido. Ele não parece ter nos visto chegar.
      — Vamos lá dizer oi. — Mel começa a caminhar até ele, mas eu a seguro.
      — Talvez ele só queira relaxar sozinho.
      Ele pode estar cansado também das discussões e precisou escapar para cá um pouco.
      — Bem, logo ele vai ver que não está sozinho. 
      Ela caminha até a beira da piscina e mergulha, faço o mesmo em seguida. Quando volto a superfície Landon já descobriu nossa presença e se sentou olhando para a piscina.
     — Uau ele é gostoso. Sarah não tem do que reclamar. — Mel comenta baixinho quando acena para ele.
      Na verdade ela reclama de várias coisas.
      — Ele é o marido da sua prima, mais respeito. — Empurro água no rosto dela.
      Mas Melanie está certa, ele é muito bonito, e seu corpo é ótimo na medida certa. E no momento está caminhando até perto da direção que estamos na piscina. Landon se abaixa e sorri.
       Aquele sorriso dos sonhos. Eu me odeio por pensar nisso, e mais por me sentir boba por causa disso. Deus, Olivia! Ele é casado com Sarah.
      — Oi Mel. — Ele acena para ela, mas está me olhando. — Não tinha te visto desde que chegou ontem.
      — Eu dormi e pulei o jantar. O jet lag sempre me arrasa. — Eu me explico. — Você não estava no café da manhã.
      Ele faz uma careta. — Não tava no clima.
      Deixo Melanie para trás e nado até Landon na beira da piscina, apoiando minhas mãos na borda olhando para cima.
       — Por causa das brigas com Sarah? — Pergunto baixinho.
       O rosto dele se inclina um pouco me deixando ver mais dos seus olhos cor de mel.
      — Não vou falar disso com você, Ollie. — Ele responde tão baixo quanto eu. — Você é a última pessoa com quem eu teria essa conversa.
      Nossa. Eu estava prestes a me meter em um assunto que não me pertence só para ajudar.
      — Ok. — Digo um pouco ofendida. — Como preferir.
      Nado de volta para longe dele e Mel me olha como se tivesse uma interrogação em seus olhos.
       — Queria perguntar sobre algo que Sarah me contou mais cedo, mas ele não está de bom humor. — Eu me explico.
       Quando já nadamos o suficiente peço para alguém nos trazer algo para comer e beber e quando terminamos deixo Melanie me arrastar para o quarto.
       Ela sabe realmente fazer uma máscara de hidratação para o cabelo e pintar as unhas perfeitamente, o que é estranho porque sempre achei que ela faz mais o tipo: ir ao salão e fazer tudo lá.
       — A universidade faz milagres. — Ela responde quando comento sobre isso. — Não muito tempo para ir ao salão, e a mesada dos meus pais não dá para tanto. Tive que mudar os hábitos.
      — Pobre menina rica. — Debocho rindo dela. — Mas eu sei como é, e é bom agir mais por nós mesmas. Só que o meu agir por mim mesma não inclui aprender máscaras de hidratação.
       Melanie passa a mão pelo meu cabelo cheio de creme.
       — Eu percebi. Seu cabelo está uma droga.
       Dou um tapa estalado no braço dela por ela ter coragem de dizer aquilo na minha cara. Mas aposto que está horrível. Eu o corte numa altura mais ou menos no inicio do pescoço, e então ele está crescendo na raiz, ou seja, os cachos voltando e como quero eles de volta não vou fazer progressiva o que significa que diariamente preciso o escovar.
       — Você pode dar um jeito nele para essa noite? — Pergunto a minha prima.
       — Sim, eu faço milagres. — Ela continua provocando.
       Dessa vez eu me contenho para não acertar um tapa nela.
       Horas depois eu preciso admitir, Melanie faz milagres. Meu cabelo além de macio parece muito bonito no penteado que ela fez.
       Sem modéstia nenhuma, eu admito que estou linda quando nós duas dividimos o espelho nos olhando. Eu em um vestido longo vermelho, ela em um dourado.
       — Droga, por que nós não temos namorado mesmo? Cadê os caras para perceberem isso tudo? — Melanie pergunta ao seu reflexo.
       Ao contrário dela eu ainda acho cedo para me prender a alguém, depois de dois meses com Liam eu decidi que não vou me envolver com ninguém permanentemente até o fim da faculdade.
      — Você está incrível, e não precisa de um namorado. — Digo a Mel. — Acho melhor irmos descendo.
      A festa começa as oito e meia, já é quase isso, daqui a pouco minha mãe irá bater na porta nos apressando.
      — Vou ao banheiro, pode ir descendo.
      Assinto e deixo meu quarto descendo as escadas com cuidado. Só há uma pessoa pronta no hall de entrada. Landon está em uma poltrona com o fone de ouvido do celular em sua orelha.
      A impressão que tenho é que ele usa a música para se isolar do mundo.
      — Uau. — Ele sorri apontando para mim. — Você caprichou, Ollie.
      — Obrigada. Não posso envergonhar a empresa. — Me sento na poltrona ao lado da dele e puxo seu fone. — Seus problemas não vão sumir ouvindo música.
      Ele puxa os fones de volta e os enrola colocando no bolso.
      — Não vão. Mas pelo menos é melhor que nada. — Landon diz. — Aliás, eu disse que não quero falar dos meus problemas com você.
      Passo a palma da mão sobre o vestido devagar pensando sobre ele e Sarah.
      — Por que não? Eu sou irmã da Sarah, eu posso te aconselhar. — Me prontifico.
      É, estranho demais, mas vamos deixar o passado no passado e focar no presente e futuro. Sarah e Landon são o presente.
      — É justamente porque você é você que não podemos conversar sobre meu casamento. — Ele se levanta da poltrona. — Você foi importante para mim, é importante. Não dá pra fazer isso. Existem limites Olivia, nós podemos ser legais um com o outro, mas meu relacionamento é um limite. Está bem?
      Bufo frustrada. — Bem. Vamos falar do que estava ouvindo.
      — For a Better Day, do Avicii, ele lançou há uns dois meses. Você ouviu?
       — Se eu ouvi? — Me levanto empolgada. — Eu estou viciada nela, esse cara traz uma nova perspectiva a música eletrônica e ele se supera. Ele é incrível. Pure Grinding também é ótima.
      Os cliques dos saltos na escada fazem nós dois virarmos para lá, Sarah e Mel estão descendo.
      — Vocês parecem empolgados, sobre o que estão conversando? — Sarah pergunta.
      — Música eletrônica, você não se interessaria. — Landon diz a ela.
      O sorriso dela se desfaz como se ela muchasse bem em nossa frente.
      Landon acabou de ser idiota.
     

Todas as batidas imperfeitasOnde histórias criam vida. Descubra agora